Minha cabeça explodiu em perguntas. Ordem, uma primordial, uma deusa da criação. Por que ela se importaria com uma família de mortais? Como ela fez isso se está adormecida há milênios?
- Como... - Eu sussurrei, ainda em choque.
- Não se pode adormecer completamente uma primordial da criação. - Ele falou. - Todavia a parte acordada não é mais 1% do poder que ela teria acordada.
- Mas por que a minha família?
- Por sua causa, Percy. – Respondeu, me olhando com pena. - Quando criamos o Universo tínhamos um ideal. Esperávamos que nossas criaturas fossem boas e puras, e no começo foi realmente assim. Mas, com o tempo as criaturas começaram a se corromper, a busca pelo poder os fazia brigar, roubar e até mesmo matar. Ordem achou que isso iria corromper a todo o Universo, então decidiu que teria que destruir o Universo, mas eu não queria. Eu tinha me apegado aos meus filhos e algumas de suas próprias criações. Então Ordem e eu começamos a guerrear...
- E você ganhou a fazendo adormecer. - Completei, obviamente eu já conhecia a história.
- Sim. - Ele continuou. - E por algum tempo tudo ficou bem, mas cada vez mais eu via que ela estava certa. Eu sentia a influência dela sobre alguns povos para que entrassem em guerra, eu não podia culpa-la, pois aquele desejo já estava lá, ela só atiçava. Com o tempo comecei a pensar como ela e então decidi destruir todo o Universo.
- Você? - Eu estava surpreso. Não, surpreso era um eufemismo para como eu estava.
- Sim, Percy. - Ele falou envergonhado. - Mas no exato momento em que eu iria destruir tudo você nasceu. E eu olhei para você, uma criaturinha tão pura e inocente. Você me deu esperança, Percy. Você me fez acreditar que nem tudo estava perdido.
- Eu... Não sei o que dizer.
- Ordem ficou furiosa e então passou 4 anos reunindo forças para matar você e sua família. - Ele continuou me ignorando. - Ela decidiu matar sua família primeiro, e quando ela ia te matar eu apareci. Batalhamos, mas ela estava muito fraca e perdeu. O esforço que ela fez quase fez com que essa pequena consciência sumisse e ela desapareceu por séculos. Até agora...
- O que quer dizer com isso?
- Ela que fez essa guerra com Cronos começar. - Ele revelou.
- Então temos que impedi-la! - Falei.
- Sim, filho. - Ele concordou. - Mas para isso você não pode se render a esse ódio que você sente. Se o fizer, ela vai ter ganhado.
- Eu... - Eu pensei sobre tudo aquilo, era muita informação para a minha cabeça. Então lembrei de algo. - Por que eu não tenho memórias dela?
- Acredito que sua mente mortal tenha bloqueado essa cena traumática. - Respondeu pensativo. Eu sentei em meu trono. Aquilo era muito louco. Eu, mesmo sem querer, fui responsável pela não-destruição do Universo, e minha família pagou por isso. Eu ainda sentia raiva de Ordem por tudo, e ainda sentia muita saudade da minha família, mas agora que eu sabia de tudo finalmente fiquei em paz. A dor parecia ter desaparecido, minha família morreu por uma consequência de um bem maior, e se eu atacasse Ordem eu estaria destruindo isso.
Olhei para Caos, envergonhado, eu fui muito duro com ele. Certo que eu estava com muita raiva, mas não devia ter dito que ele não era meu pai. Ele sempre foi muito bom para mim. Eu me levantei indo em sua direção, de cabeça baixa.
- Eu acho que te devo desculpas. – Falei, ainda de cabeça abaixada como uma criança que fez alguma travessura que acabou mal. Senti ele descer do trono e vir até mim. Ele parou bem na minha frente e me abraçou, retribuí o abraço, mesmo achando que não merecia.
- Eu também te devo desculpas. - Ele falou se afastando.
- Não deve não. - Discordei confuso.
- Sim, devo. - Ele rebateu, esboçando um leve sorriso. - Eu não confiei em você, não confiei que se controlaria e faria o certo. Eu tive medo de perder você.
- Você é a segunda pessoa que me diz isso hoje. - Comentei sorrindo. Ele me olhou curioso.
- E quem foi a primeira?
- Thalia. - Respondi. Ele sorriu.
- Você realmente gosta dessa garota, não? - Perguntou. O clima tenso de antes tinha se dissipado, agora estava neutro. O que me deixou confortável.
- Sim, pai. - Respondi sorrindo.
- Então acho que deve me contar mais sobre ela. - Ele falou, me levando para a mesa de jantar. Jantamos enquanto eu contava sobre o meu relacionamento. Nem parecia que há pouco tempo eu quase havia declarado guerra. Agora eu entendi um pouco os deuses.
- E aí ela achou que eu sumi e nunca mais iria voltar. - Terminei.
- Ela me parece uma garota incrível. - Ele falou terminando de comer. - Gostaria de conhecê-la.
- Sério?
- Sim. Por que a surpresa?
- É que você nunca quis conhecer meus ex antes. - Respondi.
- Ah. - Ele deu de ombros. - Eram outros tempos.
- Ok... – Falei, ainda desconfiado. - Trarei ela aqui no próximo jantar.
- Ótimo. - Ele sorriu satisfeito e então passamos um tempo calados
- Pai?
- Sim?
- Eu posso te fazer um pedido? – Falei, fazendo a cara do gato de botas.
- Pode. - Ele me olhou curioso.
- Já que Ordem começou a guerra de Cronos. - Comecei cauteloso. - Eu queria pedir sua permissão para lutar na guerra. - Ele pareceu pensar.
- Eu não posso negar que não gosto da ideia, pois me causará um enorme problema com as Parcas. - Ele começou. - Mas permitirei que vá ajuda-los.
- Obrigado. - Disse realmente feliz.
- Mas com duas condições. - Ele completou. Imaginei que haveriam condições.
- Não se pode ter tudo. – Resmunguei. O que o fez rir. - Quais?
- Você não poderá usar seus poderes nas batalhas, somente sua força e seu conhecimento em lutas. - Achei meio injusto, mas concordei. - E não poderá faltar com seus deveres como primordial.
- Eu jamais faria isso. - Disse, o que era verdade. Todos os primordiais eram necessários para o equilíbrio do Universo, basta que apenas um de nós pare de realizar as suas funções para o Universo entrar em colapso. Me lembrei da Idade Média, foi o tempo em que Eros deixou de atuar na Terra. Foram tempos difíceis para todos.
- Nesse caso. - Meu pai disse, me tirando dos meus pensamentos. - Você poderá ajuda-los.
- Obrigado, obrigado. Você é o melhor. – Falei, dando um beijo em sua bochecha, e partindo para resolver um problema em Aureum.