Um dia de Mendigo

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Eu sabia que estava com problemas quando nós paramos na caixa de doações. Cinco minutos depois, Zoe me vestiu com uma esfarrapada camisa de flanela e jeans três vezes o meu tamanho, tênis vermelhos brilhantes, e um desleixado chapéu colorido.

- Ah, é. - Grover disse, tentando não estourar de rir. - Você parece completamente
imperceptível agora.

- Um típico mendigo. - Zoe acenou com satisfação.

- Muito obrigado. - Resmunguei. - Novamente, por que estou fazendo isso?

- Eu disse a ti. Para se misturar.

- Mas não era a Thalia que deveria fazer isso? - Olhei para a filha de Zeus, que me olhava com um brilho de diversão no olhar 

- Ah, você como legítimo cavalheiro não me deixaria fazer esse papel. - Revirei os olhos, mas fiz sinal para seguirmos.

Zoe foi na frente no caminho de volta para a margem. Depois de um longo tempo procurando nas docas, Zoe finalmente parou de rastrear. Ela apontou para um píer onde vários sem-teto estavam amontoados com cobertores, esperando pela cozinha da sopa abrir para o almoço.

- Ele vai estar lá embaixo em algum lugar. - Zoe disse. - Ele nunca viaja muito longe da
água. Ele gosta de se aquecer durante o dia.

- Como eu sei qual deles é ele? - Perguntei refletindo novamente o porquê de eu simplesmente ter aceitado aquilo.

- Investiga. - Zoe disse. - Age como sem-teto. Vais reconhecê-lo. Ele vai cheirar ... diferente.

- Ótimo. - Eu não quis perguntar por detalhes. - E quando eu o encontrar?

- Agarra-o. - Ela disse. - E segura firme. Ele vai tentar qualquer coisa para se livrar de ti. Independente do que ele faça, não o deixa ir. Força-o a dizer-te sobre o monstro.

- Nós protegeremos as suas costas. - Thalia disse. Ela pegou algo nas costas da minha
camiseta, um grande monte de fiapos que veio sabe-se-lá-de-onde. - Hãã. Pensando melhor… eu não quero as suas costas. Mas nós vamos ficar firmes por você.

Grover me deu um sinal de aprovação. Eu resmunguei como era bom ter amigos super-poderosos. Então fui para a doca. Eu baixei meu chapéu e cambaleei como se estivesse prestes a desmaiar, o que não era difícil considerando o quão cansado eu estava. Acredito que meus irmãos devam estar rindo da minha cara me vendo nessa situação, eu realmente preciso ter uma conversa séria com as irmãs do destino.

Eu continuei caminhando. Um par de caras encardidos que usavam sacolas de plástico de supermercado como chapéus me checaram quando me aproximei.

- Cai fora, garoto! - Um deles balbuciou. Eu me afastei. Eles cheiravam realmente mal, mas somente o ruim usual. Nada fora do comum.

Havia uma senhora com um bando de flamingos de plástico saindo de um carrinho de
compras. Ela me olhou como se eu fosse roubar seus pássaros.
No final do píer, um cara que parecia ter um milhão de anos passou por uma faixa de luz. Ele usava pijamas e um roupão esfiapado que provavelmente devia ter sido branco. Ele era gordo, com uma barba branca que havia se tornado amarela, como uma espécie de Papai Noel, se Noel tivesse rolado da cama e se arrastado por um aterro. E o cheiro dele?

Conforme eu cheguei perto, eu congelei. Ele cheirava mal, certo, mas oceano mal. Como algas marinhas quentes e peixe morto e salmoura. Se o oceano tinha um lado feio… este cara era esse lado.

Eu tentei não passar mal quando me sentei perto dele como se estivesse cansado. Noel abriu um olho suspeitamente. Eu podia senti-lo me encarando, mas eu não olhei. Eu balbuciei algo sobre escola estúpida e estúpidos pais, calculando que pareceria razoável. Papai Noel voltou a dormir.

Eu enrijeci. Eu sabia que isso ia parecer estranho. Eu não sabia como os outros sem-teto iriam reagir. Mas eu pulei no Papai Noel.

- Ahhhhh! - Ele gritou. Eu pretendia agarrá-lo, mas ao invés disso ele pareceu me agarrar. Era como se ele não estivesse adormecido absolutamente. Ele certamente não agia como um homem velho e fraco. Ele tinha um aperto de aço.

O Filho de CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora