Esses últimos meses foram corridos. Tive que trabalhar redobrado visitando semideuses em seus sonhos, os aconselhando a não cair nas armadilhas de Cronos. Para o meu desgosto, os deuses não estão ajudando. Eles tratam os semideuses com total descaso, a maioria dos semideuses do acampamento estão alojados na cabine de Hermes, esperando serem reclamados.
Felizmente estou recebendo a ajuda de Afrodite, Hestia e alguns deuses menores amigos meus, mas só eles não estão dando conta. Terei que conversar pessoalmente com os Olimpianos. Acho que já está na hora deles conhecerem o Primordial dos heróis. Sorri comigo mesmo, satisfeito com a minha recente decisão.
- Posso saber o motivo do sorriso? - Perguntou uma sonolenta Thalia. Olhei para o lado a encarando. Ela estava deitada na cama, vestia uma camisa minha que para ela se parecia mais com um vestido. E antes que pensem nisso, não, ainda não fizemos aquilo. Me levantei da cadeira em que estava sentado indo em direção a cama e me sentando na mesma.
- Bom dia para você também. – Falei, tirando um mexa de cabelo do rosto da morena.
- Bom dia. - Ela falou sorrindo. Me abaixei para beijá-la, ela respondeu de bom grado, o que me fez sorrir internamente. - Agora por que estava sorrindo?
- Calma, ciumenta. - Falei. Ela fez uma careta e me mostrou a língua, me fazendo revirar os olhos. - Estava pensando que já está na hora de ir falar com os Olimpianos.
- E quando você pretende fazer isso? – Perguntou, se sentando na cama.
- No solstício de inverno. - Respondi. Ela assentiu e se levantou, mas quando estava quase na porta do banheiro ela gritou e caiu no chão. Eu corri para ajudá-la a pegando no colo, e estava prestes a me teletransportar, mas fui impedido por três luzes brancas que apareceram bem no centro do quarto de hotel.
- O que aconteceu? – Perguntei nervoso e preocupado.
- A árvore dela foi envenenada. - Falou Átropos.
- Quem fez isso? - Perguntei com raiva. Coloquei Thalia na cama e a enrolei com o cobertor.
- Luke Castellan. - Respondeu Cloto.
- Tudo é um plano de Cronos, que logo você irá compreender, mas por favor não faça nada para interferir. - Explicou Láquesis, me olhando com advertência.
- Não farei. – Falei, me voltando para Thalia. - Mas se algo mais grave acontecer com ela eu não vou medir esforços para matá-lo. - Terminei olhando para as três irmãs, que assentiram um pouco pálidas.
- Uma missão deverá ser mandada para o mar de monstros. - Falou Átropos.
- Eles deverão ir atrás do Velocino de Ouro. - Falou Cloto.
- E eles sabem disso? - Perguntei.
- Não. - Responderam as três.
- Ok. Irei cuidar disso. Se é só isso podem ir. – Falei, me sentando na cama. Senti uma mão em meu ombro e me virei para a dona da mesma.
- Ela ficará bem, tio. - Falou Láquesis. - Tenho certeza disso. - Ela piscou e eu sorri agradecido, depois as três desapareceram. Olhei para Thalia, ela estava pálida e com a respiração superficial.
- Você ficará bem, meu amor. – Falei, me aproximando de seu rosto e beijando sua testa. - Eu prometo.
Estava no tão falado acampamento meio-sangue. Claro que eles não poderiam me ver, já que eu estava em cima de uma árvore e devido a correria é quase impossível que eles olhem para cá.
Campistas corriam de lá para cá, tentando se organizar para evitar que algum monstro entrasse nas dependências do camp. Filhos de Atena buscavam algo que pudesse ajudar a árvore, filhos de Hefesto faziam armadilhas, filhos de Apolo preparavam a enfermaria para possíveis feridos e o resto apenas dava apoio para o que precisassem. Porém eu estava aqui para ver uma semideusa em especial, Annabeth Chase, a promissora filha de Atena. Eu sabia que ela estava fazendo de tudo para achar uma cura, afinal, ela é a melhor amiga de Thalia.
Depois de algum tempo procurando, a encontrei. Na mesma hora me teletransportei para o lugar. Apareci no topo de um pequeno monte, o qual os campistas nomearam de Punho de Zeus. Avistei a garota sentando em uma pedra enquanto rapidamente revirava páginas e mais páginas de um livro extremamente grosso. Ela estava tão concentrada que só me percebeu quando eu já estava em pé ao seu lado. Sem nenhuma hesitação ela desembainhou seu punhal, o pressionando em meu pescoço, me deixando imobilizado. Seus olhos cinza tempestade me avaliavam ferozes, o que de certa forma me surpreendeu.
- Quem é você? - Ela rosnou. Não me admira que ela não tenha percebido que sou um primordial, afinal nunca tive que interferir em seus sonhos e mantendo minha áurea tão baixa como a de qualquer mortal.
- Meu nome é Percy. – Respondi, ainda com as mãos para cima. - E eu quero ajudá-la.
- Me ajudar com o que exatamente? - Ela perguntou com deboche.
- A encontrar a cura para salvar Thalia. - Respondi a olhando nos olhos, para demonstrar que eu não estava mentindo. Aos poucos ela se afastou, mas ainda me olhava avaliativa, como se estivesse procurando uma maneira de me derrubar. Gostei dessa garota.
- De quem você é filho? - Ela perguntou.
- Não há tempo para isso. – Falei, me abaixando e pegando um dos livros que estavam ali. Passei as páginas pelos meus dedos, até chegar a qual eu queria. Entreguei o livro para ela, que teve que guardar a sua arma para poder sustentar o livro em sua mão.
- O velocino de ouro? – Perguntou, me encarando incrédula.
- Sim. – Falei, a olhando seriamente. - Vá até Quíron e peça uma missão, você precisará de um Sátiro e do filho de Poseidon para isso, mas não acho que isso seja um problema para você. - Comentei sorrindo. - Terão que navegar pelo mar de monstros até a ilha de Polifemo.
- Como você sabe de tudo isso? – Perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Não há tempo para explicar, mas eu prometo que quando você voltar te explicarei tudo. – Falei, me preparando para me teletransportar. - E não conte a ninguém sobre essa conversa, por favor. - Com essa última mensagem me teletransportei dali, aparecendo em outro planeta. Afinal, não é só a Terra que tem problemas.