Tour por Atenas

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Era o terceiro dia em que estávamos na Grécia e mesmo sendo um ser imortal eu estava morto de fome. Annabeth fez um roteiro de viagem em que ela poderia visitar cada monumento histórico. Eu sei que ela acha que essa é provavelmente a única vez que ela estará aqui, mas eu preciso de comida.

- Ela não está vendo. - Sussurrou Thalia, me puxando para trás e deixando vários outros turistas avançarem na nossa frente nos cobrindo totalmente.

- Você acha que temos quanto tempo? - Perguntei no mesmo tom. Dei alguns passos atrás.

- Uma hora talvez. - Respondeu Thalia. Nos viramos e seguimos para fora do Museu da Acrópole.

- É o suficiente. - Disse. Levei Thalia até a cafeteria mais próxima. Annabeth tinha nos acordado às 6:00h da manhã e mal nos deixou tomar banho. Olhei no relógio, eram 8:30 AM.

- Isso é tão bom. - Falou Thalia se sentando em uma cadeira afofada, sentei na sua frente.

- Não tem como discordar. – Disse, pensando seriamente em dormir ali. Todavia uma moça apareceu para anotar os pedidos. Ela era morena, um pouco alta e tinha lindos olhos castanhos.

- Bom dia.

- Bom dia, Sr. - Respondeu a moça sorridente. - O que vão pedir?

- Eu quero um copo de leite com chocolate e torradas, por favor. - Pedi.

-Certo. - Ela anotou. Depois olhou para Thalia, seu sorriso diminuiu consideravelmente. - E você?

- Eu quero um cappuccino e um chocomousse. - Respondeu Thalia séria. A moça anotou e saiu.

- Simpática, não? – Comentei, voltando meu olhar para a morena.

- Com você. - Rosnou ela. Franzi a sobrancelha, mas resolvi não comentar.

- Sua amiga está nos matando. - Comentei. - Ela sabe que voltamos amanhã, né?

- Sim. - Respondeu Thalia. - Mas não acho que isso seja bom para nós.

- Ela vai querer visitar tudo hoje, não é? - Perguntei um tanto triste. Lia apenas balançou a cabeça. Ontem tive a impressão que fiz a maior caminhada da minha existência. E acreditem, eu já andei muito.

- Eu já tinha imaginado isso, por isso vim o mais confortável possível. - Ela apontou para os pés, e lá havia uma sandália de dedo preta.

- E você nem me lembrou disso? - Perguntei irritado.

- Eu gosto de ver você sofrer. - Rebateu Lia sorrindo. Meu sorriso se alargou quando desejei que meu sapato virasse uma simples sandália azul com detalhe branco.

- Felizmente tenho os meus truques. - Mostrei meu novo calçado, e dessa vez ela que ficou irritada. A moça voltou com os pedidos e fez questão de demorar mais em colocar o meu na mesa.

- Obrigado. – Disse, pegando o copo e bebendo um pouco.

- Se precisar é só chamar. - Disse e saiu dando uma piscadela. Thalia me deu um chute na perna.

- Ai! - Disse massageando o local. - E eu tenho culpa?

- Poderia não ter sorrido para ela. - Resmungou a morena. Mais uma vez me calei e só voltei a falar quando ela tinha se acalmado. Conversamos sobre algumas coisas da viagem e de como Annie nos fazia vergonha ao corrigir alguns erros dos guias. Nossa conversa terminou quando uma loira irrompeu na cafeteria vindo em nossa direção.

- Por que me abandonaram lá? - Perguntou apoiando as mãos na mesa.

- Você estava tão entretida.

- E ficamos com fome.

- Já estávamos voltando.

- Íamos levar para você. - Thalia e eu jogamos várias desculpas atropeladas.

- Certo. - Foi a única coisa que  Annabeth falou quando acabamos. - Já estão alimentados, vamos?

- Claro... – Disse, chamando a moça para trazer a conta. Thalia ainda pediu algumas outras coisas para a nossa turista mais empenhada. Paguei a conta e ia saindo quando a atendente me deu um papel, olhei rapidamente e vi que era seu número. Felizmente Thalia estava lá fora com Annabeth, caso contrário cabeças iam rolar. Joguei o papel na lixeira mais próxima e segui para o próximo destino.

Seguimos para os destinos mais afastados como o Templo de Zeus e a Àgora de Atenas. Eu realmente estava curioso para ver como ficaram esses lugares depois de tantos séculos. A viagem foi tranquila, com Annie falando sobre as arquiteturas dos templos e Lia e eu apenas fazendo algumas perguntas aleatórias para mostrar interesse.

- A partir de agora só a pé. – Comentei, estacionando o carro perto do templo. Annabeth quase saltou do carro animada, seguida por Thalia e eu, um pouco menos empolgados. Entrelacei meus dedos com os de Thalia e fomos caminhando até o Templo de Zeus. Olhava em volta espantado. Era incrível como as coisas haviam mudado e ao mesmo tempo não. As construções ainda estavam em pé, porém em ruínas. Lembro que antigamente aqui por essa estrada ficava cheio de comerciantes. Também haviam algumas servas de Zeus e era muito comum esbarrar com uma divindade, só que os mortais não os reconheciam.

- É estranho estar aqui com você. - Lia me tirou das minhas lembranças.

- Por quê? - Questionei curioso.

- Isso aqui parece tão antigo e você meio que viveu no tempo em que isso era novo. - Respondeu olhando em volta. A olhei divertido. Eu já havia sido mortal, mas naquele período nunca parei para pensar sobre essas coisas. Acho que pelo fato de não ter trombado com divindades antes de Caos.

Tentei imaginar como era ser um semideus. Ter um parentesco com alguém tão poderoso, mas ao mesmo tempo ser  tão distante. Conhecer vários seres imortais e mortais ao mesmo tempo. Deve ser confuso.

- Você está me chamando de velho? - Perguntei divertido após um tempo refletindo.

- Uhum. - Ela sorriu. - Você é praticamente uma múmia. - Me fingi de ofendido e continuamos conversando até chegarmos no Templo em homenagem ao meu não tão querido sogro. Dessa vez Thalia parecia mais interessada no que a filha de Atena contava, acredito que por ser um lugar em homenagem ao seu pai.

Deixei as duas visitando o lugar e caminhei para um local afastado, para olhar em volta. Examinar cada pedaço e pensar em como o tempo passou por aqui. Ah, o tempo é bem relativo Chronos que o diga. Nunca me preocupei com isso. Sempre tentei viver um dia por vez, mas olhando agora para trás... Tudo que já vivi e vi, coisas que poucos serão capazes de viver.

- Louco, não? - Questionou um homem ao meu lado.

- Já combinamos que ler os pensamentos alheios é uma grande falta de educação. - Reclamei para ele, que riu.

- Não fale como se você não o fizesse. - Rebateu Chronos divertido. Balancei a cabeça.

- Vocês combinaram de me visitar esses dias? – Perguntei, mudando de assunto.

- Só estamos preocupados com você. - Respondeu ele.

- Eu estou bem. – Garanti olhando a vista. Ele não discordou, apenas ficou ao meu lado em silêncio também olhando em volta. - Você acha justo?

- O quê?

- Nós vivermos tanto tempo enquanto os mortais vivem poucas décadas. - Expliquei.

- A vida não é justa. - Disse o primordial. Fiz uma careta.

- Isso não deveria ser uma desculpa. - Falei. Ele me olhou, mas não falou nada. Examinei a situação, o quanto era esquisito ter essa conversa com o próprio tempo. Mas se eu posso fazer isso, por que não fazer?

O Filho de CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora