Depois da Reunião, mais conversas...

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Assim que Quíron dispensou a maioria dos conselheiros, Nico me deu um olhar que queria dizer que queria conversar. Suspirei me levantando, mas Quíron me deteve. Ele esperou todos terem saído para começar a falar.

- Esperava que você se oferecesse para ir à missão. - Falou ele com uma voz neutra, assim como sua expressão.

- Eu tenho... - Refleti o que dizer. - outros planos.

- Entendo. - Ele me avaliou. Suspeitei que ele sabia de algo sobre a identidade verdadeira, mas aparentemente ele não iria comentar. - Aqueles irmãos. Os que Grover, Thalia, Annabeth e você buscar...

- Os Di Ângelo. – Falei um pouco sem paciência, eu tinha que falar com Nico e as meninas. Quíron assentiu.

- Você suspeita de quem eles são filhos? - Perguntou ele.

- Acho que depois da demonstração de hoje todos já sabem. – Afirmei, um tanto confuso. Não entendia onde ele queria chegar.

- Você age como se os conhecesse. - Ele disse. Apenas balancei em concordância, fazendo sinal para ele continuar. - Você acha que eles são confiáveis? - O olhei incrédulo, sabia que os Olimpianos não gostavam dos filhos de Hades, mas achava que Quíron era diferente.

- Eu daria a minha vida por eles. - Eu disse sério. O centauro apenas balançou a cabeça.

- Nesse caso, eu também confio neles. - O olhei surpreso, ele parecia confiar mesmo em mim. - Assim como confio em você. Não me decepcione. - A última parte soou quase como uma súplica.

- Não irei. - Disse e coloquei a mão em seu ombro. Sorri para ele, que retribuiu.

- Nesse caso, boa noite. - Ele disse. Me afastei dele, indo em direção à porta. - E tome cuidado. Traga Annabeth viva, por favor.

- Não sei do que o Sr. está falando. - Disse sorrindo, mas não o olhei. Só ouvi a sua risada antes de sair da casa. Logo avistei quem eu queria encontrar, Bianca e Nico conversavam um pouco afastados de Zoe, que fingia não ouvir a conversa enquanto olhava para o céu estrelado, porém sem Lua.

- Por que não pediu para vir conosco? - Ela perguntou quando cheguei perto.

- Não sou a favor de andar com grandes grupos, você sabe. – Respondi, passando o braço direito pelos seus ombros, ela tombou a cabeça para o lado até encostar em meu peito.

- Estou com medo, Percy. - Ela admitiu baixo. - Essa missão vai ser perigosa, não queria perder mais ninguém.

- Como assim? - Perguntei confuso. Ela suspirou cansada.

- Faz dois anos que as coisas pioraram. Cada vez mais está aumentado a quantidade de monstros. Antes eles andavam separados, mas agora estão andando em bandos cada vez maiores. Já perdemos duas caçadoras, grandes amigas minhas... - Sua voz falhou e eu a puxei para um abraço, sabia que ela estava se esforçando para não chorar. Fiz carinho em suas costas e nos seus cabelos negros, senti o cheiro de eucalipto que ela emanava.

- Sinto muito, Zoe. – Disse, com a voz mais suave que pude. - Tenho certeza que elas morreram lutando o mais bravamente possível e você não tem culpa, não se pode controlar tudo.

- Eu sei. - Ela disse se afastando, e sorriu fraco. - Obrigada, Percy.

- Por? - Sorri confuso.

- Estar comigo. - Ela disse. - E se falar isso para alguém...

- Já sei. – Interrompi, revirando os olhos. - Não poderei mais ter filhos.

- Exatamente. - Ela disse.

- Quanto carinho. - Ouvi a voz de Nico. Zoe o avaliou com uma sobrancelha erguida. - Eu quero também.

- Menos, Di Ângelo. - Falei.

- Acho melhor irmos, Zoe, amanhã acordaremos cedo. - Disse Bianca. A outra morena balançou a cabeça.

- Boa noite. - Zoe disse. Bianca veio em minha direção e me deu um abraço.

- Fica bem e viva. - Sussurrei no ouvido dela. Ela se afastou e me deu um sorriso amoroso.

- Pode deixar. - Ela disse, e vi um lampejo de preocupação nos seus olhos negros. - E você também.

- Prometo tentar. - Falei e dei uma piscadela. Zoe me deu um soco. - Ai Zoe, quanta violência.

- Você praticamente pede. - Ela disse e começou a se afastar. - E vá vestir uma camisa. - Acrescentou. Só agora percebi que passei a reunião toda sem camisa, parecia que estava naqueles filmes adolescentes. Antes dela se afastar avisei-lhe para jogar a camisa dos Stolls fora, ela me olhou confusa, mas falou que faria o que eu pedi.

- Eu não me importo nem um pouco. - Comentou Nico, me olhando malicioso. O encarei, levantando uma sobrancelha para ele, que corou um pouco.

- Você não acha que está muito atrevido? – Perguntei, começando a andar rumo aos chalés.

- Aprendi com você. - Ele disse brincando, o que me fez rir. Era bom ter ele de volta. Andamos em um silêncio confortável. Olhei os chalés em forma de ômega, a maioria estava com as luzes apagadas, com exceção dos chalés de Hermes e Ártemis. – Que hora partiremos amanhã?

- Como assim? - Me fingi de desentendido, estávamos chegando no chalé de Hermes, onde Nico estava hospedado, assim como os outros meios-sangues não reclamados e os filhos dos deuses menores.

- Sem arrodeios, Perseu. - Ele falou me encarando quando chegamos no chalé. Ele falava baixo, talvez para não acordar os outros, talvez porque era proibido sair do acampamento sem permissão.

- De manhã. Logo depois da missão oficial partir. – Falei, colocando as mãos no bolso. - Me encontre nos estábulos.

- Estarei lá. - Ele disse. Apenas balancei a cabeça. Não tinha como impedi-lo, se não fosse comigo ele iria sozinho.

- Eu sei que sim. - Sorri de lado.

- Então até amanhã. - O moreno me abraçou e entrou no chalé. Fui em direção ao chalé de Poseidon, mas antes de entrar uma ideia me ocorreu. Voltei e fui para o chalé de Zeus, bati na porta algumas vezes. A luz estava apagada e não tinha nenhum barulho.

Quando eu estava quase desistindo a porta se abriu. De lá saiu uma morena um pouco descabelada e com a minha camisa do AC/DC, o que me fez sorrir, ela estava com uma cara de sono e poucos amigos.

- O que você quer, Jackson? - Ela falou com uma voz rouca.

- Entrar seria uma boa ideia. – Respondi, com um leve sorriso. Ela levantou uma sobrancelha irritada. - Estou com frio e não estou afim de virar comida de Harpia hoje.

- Seu chalé está ali do lado, tenho certeza que lá você estaria protegido desses males. - Ela falou cruzando os braços e se encostando na soleira da porta.

- Não tão protegido como estaria se estivesse aí. – Tentei, fazendo meu melhor olhar de cachorro que caiu do caminhão da mudança. Thalia continuava séria e parecia irredutível. Então resolvi apelar. - Além disso, você tentou me matar hoje, não mereço um crédito? - Pude ver uma certa culpa em seu olhar e sabia que eu tinha vencido e seu suspiro foi a confirmação. Ela me deu passagem e eu entrei. Ela olhou em volta para ver se alguém tinha visto, afinal eu não deveria estar ali.

- Desculpa pelo raio. – Falou, se sentado na cama. - Eu... perdi o controle.

- Eu percebi. – Sorri, me sentando em uma cadeira na sua frente. - E isso não pode acontecer, treinamos tanto Thalia, você tem que se concentrar, Nico poderia ter se machucado mesmo ou até ter morrido.

- Não faria muita falta...

- Thalia! - Interrompi um pouco alto. Felizmente os dois chalés mais próximos estavam vazios.

- Ok. Me desculpe. – Ela falou abaixando o olhar, o que fez uma mecha cobrir seu rosto. Me abaixei ficando na sua frente de cócoras, coloquei a mecha de cabelo atrás da orelha dela e acariciei seu rosto com a mão, ela fechou os olhos relaxando, o que me fez sorrir. Estava com saudade dela, fazia 3 dias que mal nos falávamos.

- Eu te amo. - Falei com o tom mais sincero que consegui, porque era a mais pura verdade.

- Eu também te amo. - Respondeu a filha de Zeus, com um sussurro tão baixo que eu quase não entendi. Sem poder mais me conter avancei beijando-a, ela retribuiu sem oferecer resistência alguma, minha outra mão foi para sua cintura e as mãos dela foram para meus cabelos. Foi um beijo calmo e sem malícia, aquilo aqueceu meu coração. Nos afastamos quando o ar se fez necessário, mas continuamos com as testas coladas. - Eu só não queria te perder.

- E você não vai. – Garanti, me afastando para olhá-la. Ela me olhou avaliando, tentando encontrar um resquício de mentira.

- Assim espero. - Disse após alguns segundos. - Porque não sei se consigo viver sem você.

- Você não vai precisar descobrir. - Falei abraçando-a. Ela retribuiu e me puxou para eu deitar com ela, o que eu fiz sem protesto, logo depois de tirar os tênis. Ela se aninhou no meu peito e eu comecei a lhe fazer cafuné.

- Percy? - Ela me chamou quando eu estava quase dormindo.

- Hum? - Foi o máximo que consegui responder.

- Por que você está sem camisa? - Senti ela fazendo um caminho pela minha pele com seus dedos enquanto falava.

- Bianca me deu uma facada. – Falei, dando de ombros. Thalia levantou a cabeça me olhando preocupada.

- Como isso aconteceu? - Perguntou ela, um pouco alto demais. Suspirei sabendo que não dormiria até explicar tudo, então contei tudo que tinha acontecido.

- Você sabe quem é?

- Não tenho a menor ideia. - Falei, enrolando o cabelo dela nos meus dedos.

- E você não está preocupado? - Ela continuou o interrogatório.

- Estou, Lia. – Disse olhando para ela. - Mas até Annabeth, e agora também Ártemis, estarem seguras eu não vou sair da Terra.

- Se você se importa tanto por que não pediu para ir na missão?

- Foi uma missão dada pelo oráculo, pelas leis antigas. - Respondi. - E também não gosto de viajar com muita gente, você sabe.

- Então você vai sozinho? – Questionou. Pensei em dizer que Nico iria comigo, mas não quis começar uma discussão, então apenas balancei a cabeça em concordância.

- Então vou com você. - Decidiu convicta. Seu olhar era de "não me desafie", mas eu tinha que fazê-lo.

- Você já se comprometeu a ir nessa missão e você não pode desafiar o destino. - Disse sério. - Nem eu posso fazer isso.

- Tudo bem. - Ela voltou a se deitar, ainda contrariada. - Só tome cuidado.

- Farei o possível. - Bocejei, ato que Thalia repetiu. Me deu um último selinho e dormiu. Antes de dormir rezei para que minhas sobrinhas não a levassem.

O Filho de CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora