Surgimos à beira de uma estrada, tive que ser rápido para segurar um fraco Nico, que ameaçava cair. Ele estava suado e respirava com dificuldade, como se tivesse corrido uma maratona. Sentei ele devagar em uma pedra que tinha ali e tirei da mochila uma água que tinha comprado mais cedo.
- Como você está? - Perguntei preocupado, após ele parar de beber a água.
- Um pouco cansado. - Ofegou ele, ainda se recompondo.
- Como você fez isso? - Gaguejou a menina, recuando tropegamente. Seus olhos estavam arregalados e ela abraçava a si mesma, numa medida protetiva.
- É uma longa história. - Suspirei me pondo de pé. Nico parecia melhor, o que me deixou aliviado. - Em resumo toda a mitologia grega existe e nós meio que somos frutos dela. Mas nós não vamos machucá-la, ok?
- Eu estou ficando louca. - Murmurou consigo mesma. - Ou estou sonhando de novo em sair daquele lugar. - Ela começou a bater na própria cabeça tentando acordar, tive que me aproximar e segurar suas mãos.
- Eu sei que é muita coisa, mas você não está sonhando. Eu sou bem real, assim como o meu amigo aqui. - Apontei para Nico com a cabeça, ele se limitou a fazer um aceno com a mão. - Você saiu daquele lugar e se depender de mim não irá mais voltar.
- Obrigada. - Ela soltou depois de um tempo me analisando, quando tive certeza que ela não ia voltar a se bater eu soltei suas mãos.
Finalmente olhei em volta, não havia nenhuma construção próxima, tudo não passava de um deserto. Analisei a situação, Nico não poderia viajar pelas sombras e eu não poderia nos teletransportar. Tínhamos que caminhar até encontrar algo, um posto ou algo assim.
Nico, após alguns minutos, afirmou que estava pronto para caminhar, então começamos. A minha esperança de ver algum veículo passando estava quase nula, já que no tempo em que ficamos parados não passou nada. Todavia as Parcas pareciam estar de bom humor, pois depois de algumas horas de caminhada uma van surgiu, parecia um delírio, pois logo atrás dela o Sol começava a se mostrar.
- O que vocês três estão fazendo por aqui? - Um homem de aparentes quarenta anos perguntou.
- Nosso veículo quebrou. - Menti sem muito pensar. - Nossos celulares estavam fora de área, então resolvemos buscar ajuda.
- Ah, então posso levar vocês até lá. Entendo um pouco de mecânica. - Sugeriu o homem orgulhoso de si mesmo. Notei que no banco de trás havia duas crianças dormindo.
- Não precisa se incomodar, basta nos levar a um lugar com sinal de celular e nós chamaremos o nosso seguro. - Tentei sorrir confiante. - Além disso, é um grande desvio da sua viagem.
- Querido, ele tem razão. - A mulher se pronunciou, tinha cabelos loiros ondulados e um olhar cansado. - Se nos atrasarmos não conseguiremos entrar no evento na Represa Hoover.
- Tudo bem. - O homem deu de ombros, ele liberou a trava e eu abri a porta, dando passagem para Nico e Liz, a garota que havíamos salvado. Foi a única coisa que descobri sobre ela, já que todos estavam cansados demais para falar.
Fechei a porta e seguimos viagem, em algum momento do percurso acabei adormecendo com o som da suave música que soava pelo carro. O casal não falou muito, apenas os nomes, eram a família Whitman.
Acordei quando o carro já estava parando, Nico e Liz estavam dormindo com as cabeças encostadas nos meus ombros, um de cada lado. Vi que as duas crianças tinham acordado, era um casal, uma garotinha de uns oito anos e um menino três anos mais novo.
Do lado de fora era possível ver um estacionamento amplo e aberto. O Sr. e a Sra. Whitman saíram do carro e essa foi a minha deixa para acordar meus amigos. Cambaleamos exaustos para fora do carro, diferente das crianças que pulavam de um lado para o outro de empolgação.
- Muito obrigado, Sr. e Sra. Whitman. - Troquei um aperto de mão com o solidário casal. - Não sei o que teríamos feito sem vocês.
- Não precisa agradecer, apenas cuidem-se. - A loira pegou a mão de seus filhos e caminhou para o lugar.
- Espero que não tenham que voltar caminhando. - O homem brincou, sorri para ele, que se despediu com um aceno.
- E agora, Percy? - Nico me olhou, em volta de seus olhos era possível ver pequenas olheiras.
- Acho que é melhor irmos comer. - Sugeri, minha barriga roncou em resposta.
- Tudo bem por mim. - Liz se pronunciou, ela parecia menos abalada que antes. Estava com uma aura mais leve. Entramos no grande espaço de recepção da represa, haviam muitas pessoas, o que me surpreendia. Não entendia como alguém poderia se divertir conhecendo uma represa, com exceção de Annabeth.
Entramos na pequena fila da lanchonete, não demorou muito para que estivéssemos sentados em uma mesa da praça de alimentação.
- Isso está divino. - Suspirou a morena após a primeira mordida no sanduíche.
- Tenho que concordar com você, nunca comi um hambúrguer tão bem feito.
- Nico, você não comeu muitos hambúrgueres. - O lembrei, e o semideus se limitou a dar de ombros. Comemos o resto em silêncio, eu planejava qual seria o nosso próximo passo, quando senti uma mão quente no meu ombro.
Olhei para cima, dando de cara com belos olhos azuis, não pude me conter e me levantei abraçando-a. Vi um vulto negro se jogar em Nico, pela visão periférica. Me soltei de Thalia um pouco a contra gosto, só para ser envolvido pelo abraço de outra morena.
- O que vocês fazem aqui? - Perguntou Zoe depois que me soltou, seu olhar estava triste e um pouco distante.
- Tentando salvar uma deusa e uma semideusa aí. - Sorri, as duas levantaram uma sobrancelha para mim. Bianca se aproximou com Nico, lhe dei um beijo na bochecha e acenei para Grover.
- Você não está na missão, Jackson. - Zoe me informou.
- Não na sua, eu inventei uma própria. - Pisquei para ela, que revirou os olhos.
- Mas espera. - Olhei em volta contando os membros da missão. - Não está faltando alguém?
Os quatro olharam para baixo um pouco tristes. Troquei um rápido olhar de entendimento com Nico.
- Eu sinto muito. – Sussurrei, colocando a mão no ombro de Zoe. - Tenho certeza que morreu como uma heroína.
- Sim, ela o fez. - Bianca disse e me olhou um tanto culpada. Resolvi perguntar sobre isso depois.
- Bom, o que vocês estão fazendo aqui? - Nico mudou de assunto.
- Estamos tentando chegar a São Francisco.
- Acreditamos que elas estão no Monte Ótris. - Grover completou a fala de Thalia.
- Vamos com vocês. – Afirmei, eles não relutaram.
- Ótimo, mas primeiro temos que comer. - Zoe se pronunciou, se jogando na cadeira.
- O sanduíche é maravilhoso. - Comentou Liz um pouco tímida, quase me bati mentalmente por só agora lembrar de sua presença.
- Quem é essa? - Perguntou Bianca, de repente interessada no assunto, Thalia se limitou a me dar um olhar desconfiado.
- Eu vou comprar comida para vocês. - O filho de Hades se prontificou, lhe dei o dinheiro e ele seguiu de volta para a fila da lanchonete.
- Nós lhe tiramos de um lugar ruim. - Resumi um pouco incomodado, não sabia se deveria contar a história dela. Ela olhou para a janela, um pouco melancólica, o grupo de recém chegados não estava feliz com aquela resposta, mas todos ficaram calados. – Então, como pretendem chegar a São Francisco?
- Achei que você teria essa resposta. - Thalia me olhou.
- Desculpe-me, mas já viemos de carona. - Levantei as mãos. Nico chegou e eles começaram a comer, enquanto dividíamos histórias. Fiquei surpreso com o sinal de Pan, todos acreditavam que ele tinha morrido, inclusive eu.
- Eu estou perto de encontrá-lo, Percy. - Grover falou empolgado. - Eu posso sentir isso.
- Eu acredito em você, amigo. - Lhe dei um sorriso encorajador.
- An, pessoal. - Liz falou, ainda olhando para janela, mas agora estava pálida. - Só eu que estou vendo aqueles guardas vindo em nossa direção?
Olhei para a janela e vi quatro policiais vindo em nossa direção, mas eles não eram policiais comuns, tinham uma pele muito pálida, tão pálida que chegava a ser transparente. Com o andar deles as vezes era possível ver seu esqueleto, aquilo me deu um frio na espinha.
- Droga! - Thalia se levantou, sendo acompanhada por nós. - Eles nos alcançaram.
- Como conseguiram o feito de ter confederados mortos-vivos atrás de vocês? - Perguntei um tanto nervoso.
- É uma longa história. - Bianca falou enquanto começamos a recuar. Resolvi deixar para depois, enquanto corríamos por entre as pessoas. - Mas em resumo eles querem pegar a Zoe porque têm um pedaço da roupa dela.
- Ok. - Falei olhando para a parede a nossa frente. Ao lado era possível ver alguns elevadores. - Vocês vão arranjar um jeito de sairmos daqui, enquanto Zoe e eu os despistamos. Nos encontramos no estacionamento.
O grupo se dividiu rapidamente. A tenente da caça e eu nos misturamos com um grupo de turistas que estavam indo para os elevadores. Fingimos prestar atenção na guia, que contava a história do lugar enquanto descíamos para uma área mais restrita.