A Visita.

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Estava em frente a um prédio branco, de uns 5 andares. Tinha algumas árvores ali perto, havia carros pela rua, o que de certa forma era bom, pois não fazia parecer estranho eu estar estacionado ali. Estava encostado no capô do meu carro, Thalia estava ao meu lado em silêncio, Annabeth havia ficado no hotel descansando da longa viagem.

Lembranças inundavam a minha mente. Minha mãe me levando para colher frutos, o sorriso do meu pai toda vez que eu entrava em sua oficina, meus irmãos e eu brincando de luta... Sem perceber lágrimas brotaram dos meus olhos e pela primeira vez não era um choro de raiva ou tristeza, era apenas saudades. Saudades da vida que tinha com minha família, meus amigos.

Senti a mão de Thalia em meu ombro. Ela me olhava solidária, acho que de certa forma ela entendia, afinal perderá sua mãe em um acidente e seu irmão... bom, ele está vivo e bem. Imagino que ela acredite nisso e de fato é verdade, mas ela não irá encontrá-lo tão cedo.

- Olá, meus jovens. - Ouvi uma voz feminina e fraca nos cumprimentando. Olhei para o lado, me deparando com uma senhorinha, ela era baixa, usava uma bengala de madeira, seus cabelos eram brancos e encaracolados, usava óculos redondos e finos. - Aconteceu alguma coisa?

- Não... - Falei baixo, limpando as lágrimas. Limpei a garganta para tirar a voz chorosa. - Eu apenas estava lembrando de quando eu era criança.

- Você morava aqui? - Questionou curiosa.

- Sim. - Sorri triste. – Há muito tempo atrás.

- Ah, sim. - Falou a senhora. - É um bom lugar. Criei meus filhos aqui e agora os meus netos. - Imaginei como seria ter crescido ali, não no mundo antigo, mas no atual mesmo. Vi um casal com um bebê entrando no prédio a minha frente, onde antes era a minha casa. Decidi que não seria ruim.

- Eu morei aqui até meus 4 anos. - Comentei.

- Nesse prédio?  - Apontou para frente.

- Pode se dizer que sim. – Respondi, fazendo uma careta. A senhora me avaliou curiosa.

- Você não me parece ser daqui. - Comentou. O que me fez dar um sorriso fraco.

- Vamos dizer que passei um tempo fora. - Falei.

- Eu quis dizer desse tempo. - Rebateu a senhora. Aquilo me fez arregalar os olhos. - Você tem um áurea antiga e forte, meu rapaz. Está destinado a grandes coisas. - Iria questionar a senhora, mas fui interrompido.

- Vovó! - Um menina surgiu atrás da senhora. Esta era magra e mais alta que Thalia, era loira, aparentava uns 13 anos. Tinha os olhos castanhos escuros, assim como sua antepassada.

- Oi querida. - Disse a grisalha. - Estou aqui conversando com esses jovens simpáticos.

- Claro que está. - A moça se aproximou pegando no braço da senhora. - Me desculpe, ela gosta muito de conversar.

- Tudo bem. - Sorri. - Ela é uma boa companhia. - A moça sorriu e se despediu, levando a senhora consigo. Olhei para Thalia que me olhava curiosa. - O que?

- Nada. - Disse rápido, ainda observando as figuras se afastarem. - Você está bem?

- Acho que sim.

- Acha?

- É complicado. - Me limitei a dizer. Ficamos calados. Gostava de Thalia por saber quando parar de perguntar. Eu não estava triste, mas também não estava feliz. - Vamos?

- Você quem manda. - Respondeu a morena.

- Poderia repetir isso de novo? - Perguntei sorrindo. - Só espera eu arranjar um gravador...

- Idiota. - Thalia falou me dando um beijo na bochecha. Sorri, abrindo a porta do carro para ela. Depois fui até a minha, dando uma última olhada no lugar antes entrar no carro.

- Bom dia, raio de Sol! – Falou, ou melhor, gritou Thalia entrando no quarto de Annabeth. Ouvi resmungos de debaixo dos edredons.

- Thalia, pega leve. – Disse, tentando em vão ajudar Annabeth. A morena, para variar, não me escutou e se jogou na cama com a loira. Eu me limitei a cruzar os braços e observar a interação das semideusas.

- O que você quer? - Resmungou Annabeth surgindo do mar de panos fofos e quentes.

- Oras. Você não queria passear? - Thalia perguntou divertida.

- No momento só quero dormir!

- Sem problemas, dá para fazer os dois ao mesmo tempo. Já ouviu falar de sonambulismo? - Thalia se desviou de uma travesseiro enquanto falava.

- Por Zeus! - Falou a loira irritada. - O que eu fiz para merecer isso?

- Algo muito bom. - Respondeu Thalia. - Sem dúvidas. - Deixei as duas discutindo. Me dirigi para o meu quarto que ficava no mesmo corredor, bem ao lado do quarto da filha de Atena. Entrei no banheiro indo logo para o box. Assim que saí de Moschato lembranças tomaram a minha mente e depois do que a senhora falou... Como ela sabia?

Senti a água gelada em meu corpo e desejei que ela levasse esse turbilhão de pensamentos. Eu ainda faria grandes coisas? Imaginei que se tornar primordial seria o ápice da minha vida imortal. Porém aquela figura não parecia achar isso, e pensando bem acredito que meu pai ache o mesmo. Terminei o banho um pouco melhor. Me vesti com uma calça preta e uma camisa social roxa. Estava me olhando no espelho, quando senti uma presença familiar.

- Olá, irmã. – Cumprimentei, ainda não olhando para ela.

- Oi, Percy. - Ouvi a voz doce de Ananke. - Você precisa se acalmar.

- Eu não estou nervoso. - Comentei olhando para ela. Ela sorriu compreensiva.

- Entendo que tenha muitas dúvidas sobre o seu futuro. - Disse a primordial.

- Eu não deveria ter?

- Eu não disse isso. - Rebateu rapidamente.

- Desculpe. - Falei me aproximando. - Eu apenas achei que quando me tornasse um primordial todas essas dúvidas, esses sentimentos fossem passar.

- Percy, por mais que Caos tenha lhe tornando um de nós você sempre terá uma parte mortal.

- E isso é ruim? - Questionei.

- Não. - Respondeu sorrindo. Ela colocou a mão em meu ombro. - Isso só te torna mais especial. - A abracei e ela devolveu o abraço.

- Suas filhas não vão facilitar para mim, né? - Perguntei quando nos separamos.

- Nem um pouco. - Respondeu rindo. - Acredito que você foi o ser que mais as irritou em toda a existência delas.

- Eu sou incrível.

- Isso não foi um elogio. - Falou Ananke risonha.

- Amor, eu... - Thalia falou entrando no quarto, logo atrás Annabeth vinha toda emburrada. Ambas pararam ao ver minha irmã.

- Thalia, Annabeth, essa é uma de minhas irmãs, Ananke, a primordial do destino. - Disse sorrindo. - Acho que você as conhece, irmã.

- Sim. - Ananke sorriu simpática. As meninas se curvaram. - Ah, isso não é necessário. Levantem-se.

- É um prazer conhecê-la. - Disse Annabeth maravilhada. Fiquei quase ofendido, ela nunca teve essa reação comigo.

- O prazer é todo meu, meninas. - A primordial sorriu. Thalia estava nervosa eu podia sentir daqui. Me aproximei dela segurando na sua mão e sorrindo. Isso a acalmou um pouco.

- Por que não aproveitamos esse encontro e vamos comer? - Sugeri.

- E de qual momento tu não aproveita-se para tal? - Perguntou Ananke. Me fingi de ofendido.

- Tártaro é pior que eu. – Rebati, fazendo todos sorrirem. Aceitaram minha sugestão e fomos comer em um restaurante ali perto. E assim se passou o resto do dia, ou devo dizer noite? Entre risadas e histórias embaraçosas sobre mim.

O Filho de CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora