O Sol já começava a dar seus primeiros sinais quando cheguei no acampamento. Blackjack me deixou em frente ao meu chalé e já ia voltar para o estábulo, quando pedi para ele esperar enquanto eu ia tomar banho e escovar os dentes, além de finalmente me vestir totalmente. Coloquei uma calça jeans preta com um básico all stars e uma camisa branca com uma jaqueta de couro, peguei a mochila e coloquei mais algumas peças de roupa, além de néctar, ambrosia e a minha carteira.
- Você demora para se arrumar em, chefe. - Disse o Pégaso quando montei nele.
- Se reclamar mais não te dou o donuts que está na minha bolsa. – Ameacei, e ele sabiamente se calou. Quando chegamos nos estábulos Nico já estava lá, o que fazia os cavalos ficarem inquietos.
- Você demorou. - Acusou ele, parecia um pouco nervoso. - As meninas saíram há meia hora atrás e os campistas já estão acordando.
- Desculpa, tive que salvar uma criatura marinha hoje cedo. – Disse, descendo de Blackjack.
- Tudo bem. - Ele disse. Olhava para os lados incomodado. - Os animais não costumam gostar de mim. - Eu ia falar algo, mas ele balançou a cabeça, como se já tivesse se acostumado. – Então, como vamos sair daqui?
- Não é óbvio? – Perguntei, apontando para Blackjack. Isso fez os dois reclamarem, Nico fez uma careta e negou com a cabeça e o Pégaso relinchou.
- Eu não quero, chefe. - Suplicou Blackjack. - Esse cara cheira a morte.
- Ei. - Falei. - Ele é meu... amigo. E você já disse que meus amigos são seus amigos, não é?
- Amigo é? - Nico sorriu de lado, mas o ignorei. Ainda olhava o Pégaso, que parecia pensar.
- Tudo bem. - Disse ele finalmente. Senti uma ponta de contrariedade. - Mas você vai ficar me devendo uma caixa de donuts.
- Combinado. - Sorri, fiz sinal para que o Nico se aproximasse e o ajudei a subir, já que ele não tinha a menor noção. Subi na sua frente e tirei a mochila segurando-a na minha frente. Blackjack levantou voou, o que fez Nico me abraçar forte. Quando estabelecemos uma altitude, tirei minha mão esquerda da crina do alazão negro e coloquei na perna de do filho de Hades, o acariciando, e comecei a conversar com ambos.
Falei sobre alguns assuntos que sabia que os dois gostavam, para que Nico se acostumasse com a altura e para que Blackjack se acostumasse com Nico. O que pareceu funcionar, pois o moreno afrouxou o aperto e o Pégaso parou de reclamar. Pedi para Blackjack me deixar perto de uma concessionária de motos. Após lhe dar o donuts que eu tinha prometido e ele ter uma breve despedida de Nico, o pégaso voltou para o acampamento. Descemos do telhado em que tínhamos aterrissado e rumamos para a loja que ficava bem em frente.
- Hoje fizemos um bom avanço. – Comentei, sorrindo para o moreno.
- Eu não quero fazer amizades com pégasos. - Nico rebateu, mas eu sabia que era mentira. Mesmo assim não falei mais. - Você vai mesmo comprar uma moto?
- Você prefere ir andando? – Perguntei, como se aquilo fosse algo banal.
- Não, só... deixa. - Ele deu de ombros.
- O que? - Perguntei o olhando, imaginando o motivo dele achar isso tão estranho. - Você quer uma também?
- Definitivamente não. - Ele sorriu, algo que tinha ficado um pouco raro desde que eu tinha o reencontrado. Ele estava bem mais sério e recluso, diferente da criança agitada e alegre que eu conheci. - Eu não sei andar e não tenho carteira.
- Ok. - Falei quando chegamos na loja. Logo fomos atendidos e nos foram apresentados vários modelos. Escolhi uma Yamaha Ninja 300, ela era preta com detalhes azuis escuros. Comprei dois capacetes um das mesmas cores da moto para mim e um totalmente preto para o Nico. Felizmente não tivemos que esperar para que entregassem, já que escolhi aquela que já estava na loja. Saímos de lá quase meio dia. - Me lembre de quando tudo isso acabar eu tirar um dia para te ensinar.
- Está falando sério? - Ele perguntou. Vi seus olhos brilharem, o que me fez rir.
- Claro que estou. – Falei, sorrindo e subindo na moto. Coloquei o capacete e ajudei Nico a colocar o dele. - Prometo ser paciente. - Ele subiu atrás de mim e comecei a andar atrás de um restaurante, para depois começarmos a seguir para Oeste. Já tinha um objetivo em mente, São Francisco. Lá no monte Santa Mônica era onde se encontrava Atlas, e, se minha teoria estivesse certa, Zoe correrá perigo se encontrar com ele. Parei em um Mc Donald's que ficava no caminho.
- Por que paramos aqui? - Perguntou Nico depois que descemos da moto e caminhávamos para dentro da lanchonete.
- Já é meio dia e ainda não comemos, se quiser morrer de fome fique à vontade, mas eu não consigo essa proeza. – Falei, me sentado em uma mesa. Logo uma garçonete veio nos atender. Ela me pareceu bastante simpática, pelo menos comigo. Pedi dois combos, com hambúrguer, batata e refrigerante e Nico pediu só um do mesmo, segundo ele confiando no meu bom gosto.
- Ela gostou de você. - Disse ele, parecendo um pouco irritado.
- Tem como não gostar? – Questionei, dando um sorriso convencido.
- Tem sim. - Ele cruzou os braços. - Eu sou a prova disso.
- Claro... - Segurei a risada. Ele estava com a cara de abusado. Ele fazia um bico pequeno, o que eu achava muito fofo. Além é claro de fazer um olhar entediado, para fingir que não se importava. - Por isso que está com ciúmes de mim.
- Não vou embarcar nessa sua loucura, Jackson. - Disse ele. Soltei a risada que estava prendendo e vi que isso o fez dar um pequeno sorriso. Ficamos em um silêncio confortável até a garçonete voltar com o nosso pedido.
- Então... – Falei, quando já havia devorado um combo e Nico terminava o seu hambúrguer. - Como você está em relação a Bianca?
- Preocupado. - Ele disse e deu outra mordida. – Cara, isso é muito bom. Por que não me trouxe aqui antes?
- Você não pediu. - Sorri inocente. Ele me mostrou o dedo do meio.
- Claro. Porque do nada eu ia te pedir para me trazer numa lanchonete para provar um negócio que nunca comi. - Falou irônico.
- Não faria? - O provoquei, ele revirou as orbes negras. - Tenho muitas coisas para lhe mostrar desse século.
- O quê por exemplo? - Perguntou curioso.
- Videogames, filmes coloridos e em 3D...
- 3D? - Me interrompeu curioso. Balancei a cabeça, explicando rapidamente. - Legal. - Falou quando eu terminei.
- É sim. - Sorri. Era estranho pensar que tanto Nico como Bianca não conheciam essas coisas que hoje em dia eram tão comuns. - E ainda tem a internet.
- Você está me deixando muito curioso, Jackson. - Ele disse, terminando seu lanche.
- É para ficar. - Confessei divertido. Nico me olhou com uma sobrancelha erguida. Pisquei para ele, o que o fez ruborizar e virar o rosto para olhar a rua. - Quer mais alguma coisa?
- Não. – Respondeu ainda olhando em volta. Reparei nele, não que não tivesse feito isso antes, mas agora era diferente eu acho. Ele estava alto, quase na altura do meu ombro. Seus cabelos eram lisos e um pouco mais compridos do que o meu, já que os seus cobriam sua testa, quase chegando nos olhos, incríveis olhos negros que tanto me atraíam, ele já tinha alguns cabelos perdidos no rosto, um começo de barba. Seu estilo era um tanto gótico, já que vestia basicamente preto, desde a camisa até o coturno. - O que você está olhando? - Ele perguntou, voltando a me olhar.
- Você. - Eu disse simplesmente. Apoiei minha cabeça na minha mão que estava na mesa. E não deixei de lembrar de que Gaia reclamaria por não estar seguindo a etiqueta. - Você é lindo, sabia?
- Eu... - Ele ruborizou. De branco foi para vermelho em poucos segundos. - Eu...
- Você? – Incentivei, dando um sorriso de lado.
- Eu vou ao banheiro. – Disse se levantando um pouco rápido demais. E praticamente correu para o banheiro. Eu chamei a atendente para pedir a conta.
- Aqui está, Sr. - Ela disse, me entregando a conta junto com outro papel. Vi que era um número de telefone, guardei no bolso para jogar depois. Eu já tinha encrenca demais, não precisava de mais uma.
- Aqui está, Srta. - Dei o dinheiro junto com uma boa gorjeta, ela conferiu e me olhou espantada. Ela era bonita, loira, por volta de 1,70m, tinha um belo corpo, aparentava ter uns 25 anos e tinha um sorriso cativante, em seu crachá tinha o nome Sarah.
- O senhor me deu 100 dólares a mais. - Ela disse, gaguejando um pouco. Os humanos são tão fofos, bom... alguns, outros podem ser tão feios quanto os piores e mais horripilantes monstros do tártaro, e não na aparência, mas sim nas atitudes e ações.
- Pode ficar. - Eu sorri para ela, que finalmente começou a sorrir. - Não precisa agradecer, tenha uma boa tarde. - Me levantei quando vi Nico voltando.
- Vamos? - Ele falou, fingindo que a moça não estava ali.
- Vamos. - Falei. Dei um ultimo sorriso para Sarah e finalmente pegamos a estrada a caminho de São Francisco.