A Bela Donzela

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Fazia três décadas desde que me tornei um primordial. O meu trabalho era viajar pelo Universo ajudando ou aconselhando heróis, além de cuidar dos animais feridos, que não são poucos. Tinha dias que eu ficava cansando da rotina exaustiva, mas fazer o que? É meu trabalho e não posso desistir dele.

Agora mesmo estava cuidando de um lobo que foi esquecido por sua matilha. Tive que guiá-lo até seus amigos, e, acredite, não é fácil. Depois disso senti um arrepio tomar conta do meu corpo, suspirei triste pois isso só acontecia quando alguém deixava de ser um herói. Me teletransportei para o lugar.

Eu estava em um jardim, não um jardim comum, o jardim das hespérides. Olhando em volta avistei uma garota morena ajoelhada no chão ela chorava enquanto via um cara partir em cima de um cavalo. A moça vestia um vestido branco, seus cabelos pretos estavam trançados, seus olhos eram pretos vulcânicos e demonstravam a dor que estava sentindo, seu rosto era belo, como se ela tivesse sido esculpida pelo melhor artista da Grécia.

Eu estava afastado em pé na sombra de uma árvore observando a cena, que me cortou o coração. Pobre garota. Eu iria avançar para conversar com ela quando senti a presença de um monstro, uma dracaena se aproximava lentamente da garota. Ela estava perdida em seus pensamentos e não percebeu o monstro. Se eu não interferisse ela morreria. Entrei na mente dela e descobri que seu nome é Zoe Nightshade.

- Zoe. - Chamei mentalmente. - Levante-se há um mostro atrás de ti. - Alertei. Ela se levantou rapidamente e procurou com os olhos até achar a dracaena que sorria faminta para a morena. Reparei que Zoe estava sem arma e estava muito assustada. Então fiz duas facas de caça aparecerem em suas mãos. - Siga seus instintos! – Falei, torcendo para ela seguir minhas ordens. Eu não poderia fazer mais que isso, malditas leis!

- Sssse renda garota e eu prometo que sssua morte ssserá rápida. - Sibilou, um sorriso malicioso formou-se em seu rosto. Zoe não se deixou intimidar e atacou a dracaena que por pouco conseguiu parar o golpe da morena com suas garras, mas Zoe não desistiu e girou as facas enfiando uma na barriga do monstro e a outra cortou seu pescoço, a dracaena se dissolveu em pó dourado. Zoe se virou olhando em volta, possivelmente me procurando.

- Parabéns. - Falei me aproximando dela, ela apontou as facas para mim, qualquer um veria que ela não sabia muito sobre lutas, pois com apenas um movimento de braço eu a desarmaria.

- Quem é você? - Ela perguntou, surpreendentemente sua voz estava firme.

- Me chamo Perseu. - Respondi parando a distância de um braço de Zoe. - Sou o primordial dos heróis. - Ela fez menção de se curvar, mas eu a impedi erguendo minha mão. - Por favor não o faça, não sou melhor que você. - Ela parecia surpresa, mas balançou a cabeça ficando ereta. Olhando mais de perto ela parecia uma princesa Persa.

- O que quer comigo Milorde? - Ela perguntou.

- Queria saber por que uma bela donzela como você está derramando lágrimas. – Respondi, dando um sorriso reconfortante. Sua pose se desfez e seu olhar ficou triste, aos poucos lágrimas apareceram em seus olhos. Sem hesitação dei um passo para frente a envolvendo em um abraço, o qual ela devolveu após a surpresa ter passado. - Não chore querida, ele não merece. – Falei, fazendo carinho em seus cabelos, podia sentir minha toga azul ficando encharcada, porém eu não ligava. Nunca gostei da ideia de ver uma mulher chorando, a não ser, é claro, que esse choro seja de felicidade. Após alguns minutos ela se acalmou eu a libertei do abraço e encarei seu rosto. Ela aparentava ter 14 anos, por isso era menor que eu.

- Me perdoe senhor. - Ela falou, podia ver medo em seus olhos. Lendo sua mente percebi que ela estava com medo de que eu a explodisse. Por que esses mortais sempre pensam o pior de mim?

- Não se preocupe Zoe. Eu não vou machucá-la, eu prometo. - Disse sorrindo. - Não precisa falar nada sobre o que aconteceu. - Acrescentei rapidamente, e ela finalmente pareceu relaxar.

- Obrigada. - Ela murmurou, ficando vermelha. Aquilo me fez sorrir novamente, as mortais são tão fofas.

- Por nada. - Falei me afastando um pouco e sentando no chão, o que foi um pouco incômodo por causa da toga. ARG! Como eu odeio isso, mal posso esperar para os mortais começarem a usar calças. Bati no chão fazendo sinal para ela sentar ao meu lado. - O que a senhorita pretende fazer?

- Eu não sei. - Ela respondeu suspirando, parecia que iria recomeçar o choro, porém se conteve. Ela não queria chorar na minha frente e eu entendia isso, por isso não a forcei a falar. Podia ver várias imagens em sua mente, a principal era uma lembrança das irmãs dela a expulsando dos jardim, elas a renegaram e isso é o que a machucava mais.

- Vamos fazer o seguinte. - Falei chamando sua atenção, eu queria afastá-la desses pensamentos. - Eu te treinarei e quando você estiver pronta eu a levarei para as caçadoras.

- Caçadoras? - Ela perguntou confusa. Hum, vejo que o grupo da deusa da lua não é tão popular.

- Sim, Ártemis a deusa da lua criou um grupo de donzelas, para lutar contra monstros. - Expliquei calmamente. - Então o que acha? - Perguntei a olhando, várias possibilidades passaram por sua cabeça, ela não confiava em mim, achava que na primeira oportunidade eu abandonaria. Por outro lado ela sabia que essa era sua única opção, afinal ela não sabia como viver no mundo mortal, nem mesmo sabia lutar.

- Eu aceito. - Ela falou ainda incerta. Eu sorri para ela, me levantei e ela seguiu meu exemplo.

- Primeiramente quero fazer algo que nunca fiz antes. - Falei ficando de frente para ela, ela ficou tensa. - Eu quero lhe dar minha benção, se você aceitar é claro.

- Eu aceito, senhor. - Ela falou, após alguns momentos de hesitação. Coloquei minha mão em seu ombro e recitei algumas palavras que meu pai me ensinou. Uma luz azulada rodeou Zoe, eu acabei de recitar e a luz desapareceu.

- Como se sente? - Perguntei ansioso, eu nunca tinha dado minha bênção a ninguém. Não sabia que poderes ela herdaria.

- Mais forte, eu acho. - Ela respondeu confusa.

- Acho que só vamos descobrir a diferença depois. – Falei, tentando soar esperançoso, eu realmente estou curioso com o que irá acontecer.

O Filho de CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora