Eu desviei de uma investida de Zoe, e ataquei com contracorrente, mas ela defendeu usando uma faca de caça. Ela girou e tentou dar um chute no meu estômago, mas eu abaixei e lhe dei uma rasteira. Ela caiu e soltou suas facas, coloquei minha espada em sua garganta.
- Parece que perdeu de novo. – Falei, dando um sorriso divertido. Ela bufou e empurrou minha espada. Ajudei-a a se levantar.
- Isso não é justo, você é um primordial e eu sou uma simples e inofensiva mortal. - Ela resmungou, cruzando os braços como uma criança malcriada.
- Inofensiva? Você? - Perguntei rindo. - Acho que aqueles pastores não concordam.
- Eles eram idiotas e mal sabiam usar uma espada. - Ela falou dando de ombros. - Até uma criança venceria eles.
- E foi exatamente o que aconteceu, não é? - Falei em um tom de brincadeira. Zoe me deu um olhar mortal, que quase me fez sair correndo.
- Você não é tão mais velho que eu, então pare de zombar ou eu vou ter certeza de que você não possa mais ter filhos. - Ela falou ameaçadoramente, aquilo me fez ficar branco. Eu não duvidava que ela realmente fizesse isso. A morena sorriu percebendo que sua ameaça surtiu efeito.
- Você é muito má, garota. - Falei irritado. Era realmente incrível a diferença de quando eu conheci Zoe para agora. Fazia um ano que estávamos treinando, eu a treinei em diferentes ambientes, desde desertos escaldantes à montanhas muito gélidas, onde estamos agora. Já era noite e já estava começando um fenômeno que eu chamo de aurora boreal.
- Você que me ensinou a ser assim. - Zoe respondeu, dando de ombros. - Agora vamos entrar que eu estou morrendo de frio. - Ela falou dirigindo-se à cabana que eu construí para nós, e eu entrei logo atrás dela.
A cabana era simples, feita de madeira, tinha uma sala e dois quartos. Dentro da cabana era bem quente e aconchegante, já que o vento não ultrapassava as paredes. A luz provinha de uma lareira mágica que ficava na sala. Sentamos no tapete que havia bem no meio da sala e ficava perto da fogueira.
- O que a senhorita deseja comer hoje? - Perguntei para a garota a minha frente.
- Hum, acho que arroz com frango, e um suco de uva. - Ela falou. Bati palmas e uma bandeja de ouro apareceu no colo dela junto com o pedido. Uma outra bandeja contendo as mesmas coisas apareceram no meu colo. Começamos a comer em silêncio. Eu sabia que estava na hora dela ir, mas era difícil se despedir de uma pessoa com quem você conviveu por um ano, todos os dias.
- Zoe. - Chamei assim que acabei de comer, colocando minha bandeja ao lado de meu corpo. - Acho que você já sabe sobre o que eu quero falar.
- Sim. - Ela falou dando um suspiro, ela também havia acabado de comer.
- Eu gostei do tempo que passamos juntos, mas esse não é seu destino. - Comecei falando tristemente. - Amanhã eu lhe levarei para o acampamento das caçadoras.
- Mas já? - Ela perguntou abrindo mais os olhos. - Eu achei que teria mais tempo.
- Infelizmente não. - Falei me levantando. - As Parcas me visitaram ontem me avisando que já estava na hora. - Ela parecia triste, mas assentiu, se levantando e indo para seu quarto.
- Boa noite, Percy. - Ela falou antes de fechar a porta.
- Boa noite, Zoe. - Eu murmurei, também indo me deitar.
Acordei sem a mínima vontade de me levantar. Hoje eu me despediria de minha única amiga mortal. Mesmo assim levantei e me dirigi para a sala, Zoe já estava acordada. Ela estava sentada de frente para a lareira encarando o fogo.
- Bom dia. – Falei, indo para perto dela.
- Bom dia. - Ela falou, se levantando.
- Preparada para enfrentar uma vida de aventuras e caça aos monstros? – Perguntei, tentando soar animado.
- Eu já tenho essa vida com você. - Zoe falou fazendo uma careta. - A única diferença é que não vou ter que olhar essa sua cara feia todos os dias. - Completou ela, sorrindo.
Eu fingi estar ofendido. - Ah é assim? - Perguntei divertido. Ela balançou a cabeça em confirmação. - Então não vou te dar o presente que eu planejei dar hoje.
- Você sabe que eu estava brincando, não é? - A morena me falou. - Eu jamais acharia isso de você, o homem mais bonito que eu já conheci.
- Isso eu sou mesmo. - Falei convencido.
- Claro que é. – Ela falou ironicamente, e eu resolvi ignorar. – Agora onde está meu presente?
- No fundo do mar. – Respondi. E antes que ela pudesse falar alguma coisa eu nos teletransportei para o palácio do meu irmão Pontos.
Apareci em um salão totalmente azul, fiz uma bolha de ar para Zoe e eu. Meu irmão estava bem a nossa frente, imponente em seu trono feito de safiras azuis.
- O que o trás aqui maninho? - Perguntou Pontos sorrindo. Eu caminhei em direção a ele sussurrando algo em seu ouvido. Ele assentiu e caminhou até Zoe. – Ajoelhe-se, por favor. – Ele pediu. Ela prontamente obedeceu, Pontos colocou uma mão em seu ombro, recitou algumas palavras e depois se afastou, voltando a sentar em seu trono. Zoe me olhou questionadora.
- O que aconteceu? - Perguntou ela, se levantando.
- Não está sentindo nada de diferente? - Perguntei sorrindo. Ela me olhou confusa, depois percebeu que já não estava mais envolta em uma bolha de ar.
- Percy me pediu para devolver o seu poder sobre o mar. - Pontos explicou também sorrindo. Zoe correu para me abraçar me agradecendo.
- Não precisa agradecer, você me deu Anaklusmos a minha arma preferida. Nada mais justo que eu te devolver o seu poder preferido. - Pisquei para ela sorrindo feliz, ela devolveu o sorriso e se virou para Pontos se curvando e agradecendo a ele também.
- Faça bom uso dos poderes e lembre-se, o mar está ao seu lado. - Meu irmão falou sorrindo simpático.
- Nós precisamos ir. – Anunciei, indo para perto de Zoe e pegando sua mão.
- Até mais, irmão. - Pontos falou. – Adeus, Zoe. – Zoe se despediu e eu nos teletransportei. Aparecemos no meio de uma floresta, ao lado de um lago. Ao longe podia se ouvir um barulho de lutas, também havia barulho de conversas e risadas.
- Bem, acho que é isso. - Falei encarando Zoe.
- Obrigada por tudo, Percy. - Ela falou me abraçando. Retribuí o abraço, enterrando meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro. Eu iria sentir falta disso. De ter uma pessoa sempre ao meu lado, seja para brigar ou para lutar. Iria sentir falta das nossas conversas até altas horas da madrugada.
- Vou sentir saudades. – Sussurrei, ainda abraçado a ela.
- Eu também, Percy. - Ela falou se afastando para me encarar. - Promete que virá me visitar?
- Juro no Styx. - Falei, um barulho de trovão soou selando meu juramento. Zoe deu um tapa na minha cabeça.
- Pare de fazer juramento estúpidos, Jackson. - Ela rosnou.
- Mas não é estúpido, Zoe. – Falei, fazendo biquinho. - Só fiz porque tenho certeza que vou cumprir e queria que você também tivesse essa certeza.
- Não precisa jurar, Percy. - Ela falou, revirando os olhos. - Eu confio em você. - Aquilo me fez sorrir.
- É muito bom ouvir isso. - Falei. - Agora eu tenho que ir, pois Ártemis está próxima. Boa sorte. - Dei um beijo em sua bochecha e me teletransportei, mas antes pude ouvir um "adeus" de Zoe.