Lucien
Lucien foi uma decepção desde que nasceu. Não era forte como os irmãos mais velhos, não era parecido com os irmãos mais velhos e definitivamente não era amado como os irmãos mais velhos.
Nunca sentiu que pertencia à corte outonal até começar a andar pelos lugares que Beron considerava sujos demais para pensar em ir. Fez amigos, viveu todo tipo de situação boa e ruim com eles e até mesmo se apaixonou, mas em sua própria casa existiam pessoas a quem não podia confiar esse tipo de informação.
Ele ainda se lembrava do dia em que Darlan foi morto em sua frente e se lembrava ainda mais da conversa que teve com Eris depois disso. Em noites silenciosas e solitárias, as palavras ditas ainda flutuavam pela sua mente.
-É melhor assim, Luci -Eris murmurou, hesitante em chegar perto do irmão.
-Você não sabe o que é melhor para mim -Lucien se recusava a encará-lo.
-Você pode não entender agora, mas em alguns anos vai me agradecer por isso. É o melhor para você!
-Por acaso isso é melhor para mim? -apontou para o enorme curativo em sua barriga. -Beron teve coragem de queimar e rasgar a pele do próprio filho. Não posso ter nem um pouquinho de felicidade, Eris? Não posso ter alguém que realmente me ame como eu sou?
-Nós amamos você, Luci...
-Nós quem? Você e a mamãe? As únicas pessoas que sabiam sobre Darlan? Um de vocês, se não os dois, falou sobre ele para Beron, quem foi?
Eris abriu e fechou a boca e olhou para a parede antes de falar.
-Fui eu. Eu contei para o papai -sua voz falhou e foi o suficiente para Lucien desconfiar.
-Te conheço o suficiente para saber quando está mentindo -Lucien sussurrou. -Foi a mamãe, não foi? -as palavras saíram dolorosamente dos lábios trêmulos.
Eris abaixou a cabeça e Lucien soube que deveria sair dali imediatamente. Não iria sobreviver naquela casa de loucos.
Tamlin nunca soube que Jesminda era Darlan e foi melhor assim. O grão-senhor da corte primaveril não era muito diferente de Beron nessa questão e, falando com sinceridade, os dois eram absolutamente iguais: não se importavam com quem teriam que usar ou o que teriam que fazer para chegar ao topo. Sair da corte outonal e ir para a corte primaveril foi como escapar das garras de um tigre e ir correndo para as de um leão.
E com Elain não era muito diferente. Ela podia ser gentil e maravilhosa, mas era a pior sentença que ele poderia ter. Lucien a odiava e sentia que estava ofendendo a decisão da Mãe e do Caldeirão quando afirmava isso a si mesmo, só que esse ódio apenas crescia todas as vezes em que ele contrariava as próprias vontades para tentar se aproximar e ela só se afastava. Talvez ele não a odiasse, talvez odiasse a si mesmo.
Claro que não era culpa dela, ela não faria mal a alguém, mas tudo parecia uma piada de mal gosto. Fugir de casa para ser livre, acabar mais preso do que estava e ter uma ligação superior com alguém que ele não achava atraente ou interessante.
Quando Thesan comentou que Helion sabia um jeito de quebrar a parceria, Lucien nem mesmo hesitou. Queria a sensação de liberdade que lhe foi tomada tantos séculos antes, queria voltar a sentir a liberdade de poder trepar com quem quisesse sem pensar em Elain, queria ser livre para escolher com quem iria ficar e o mais importante: queria poder se sentir especial.
Por muito tempo ele esteve sozinho, se afogando nas próprias decepções e tristeza. Se ele pudesse ser especial em algum quesito ou se encontrasse alguém que o fizesse se sentir especial como Darlan um dia fez, talvez pudesse ser feliz.
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Corte de Fogo e Escuridão (Lucien × Azriel)
Fanfic' "O fogo real e o fogo falso irão fazer as pazes e esse será o começo para o Sol tomar coragem para encontrar a Escuridão." Azriel se esticou na cadeira enquanto encarava fixamente as palavras gravadas no papel. Elain teve uma visão pela manhã e...