O Rei Dragão - parte 42: O Outro Op-Hal

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- Insetos por um lado é bom sinal, água próxima. – Trácota comentou.

- Por outro lado são pestes incômodas. – Pérola tentava não coçar as picadas.

Alis,demonstrou indiferença enquanto um mosquito furava a pele dela para sugar sangue. Aquele era o menor dos males a fustigá-la. Começou com o dardo misterioso, "sem dúvida" e desde então uma insônia antinatural impedia de repor energias. Nenhum sono, mesmo que breve, já se esquecera de como era sonhar. Tinha momentos de querer estirar o corpo cansado no solo e pedir que prosseguissem sem ela. Engolia as palavras de desistência sobrepondo lealdade às próprias necessidades.

Repassava os conteúdos que teve oportunidade de apreciar com os Pensadores, para ser justa, até os Pequenos muito lhe ensinaram. Também havia as promessas de Mutemuia, a importância do resgate do conhecimento draconiano. "Eles viram a aurora do tempo."

- Eles viram a aurora do tempo.

- E você acha que estão nos observando agora? – Trácota puxou assunto discretamente.

Alis estava sentada com as costas apoiadas numa pedra abraçando uma das pernas. O Guarda se acomodou na pedra e inclinou bastante o corpo para conversarem. Alis disse:

- Cícero me disse que tem visto o fantasma do Rei Dorijan nas últimas noites.

- O Chefe disse que é sonho!

- Cícero garantiu que estava bem acordado.

- Alis, por Taor, nosso amigo não nos vê, caminha com a ajuda de um cajado improvisado, é difícil acreditar nisso.

- Cícero contou que Dorijan é um dragão negro que se camufla nas sombras e investiga pensamentos com olhos azuis penetrantes. Que ele invade as mentes de vocês enquanto dormem.

- De vocês? Por que poupa você, Alis? Por quanto mais vai esconder que não tem dormido? Eu cresci num família com muitas mulheres, na época da Guerra Civil, tive que ficar como homem da casa, protetor. Força do hábito, eu presto muita atenção em todas.

Alis passou o dedo mínimo desenhando o maxilar do rosto comprido de Trácota. A barba era loura como o cabelo e nascia falhada, um tufo preencheu o furo do queixo. A pele e a íris acompanhavam o tom dourado, então Trácota parecia uma grande escultura de ouro. Enfurnou-se aninhada no meio do peito largo, nenhum lugar poderia ser mais confortável para uma mulher fragilizada do que um abraço de Trácota. "Tão lindo, meu amigo", pensou em alertá-lo sobre não tentar entender Eva, pois a diligente paciência dele nunca conteria o temperamento impulsivo da Guardiã.

- Os dragões voltarão para o continente Dorijan, nos resta pedir clemência para os homens. E vamos rezar pelos que fizeram coisas imperdoáveis.

Num repente Alis levantou e saiu da clareira para procurar Caça Escalpos que saíra junto com Nicanor à procura de Nízor.

- Mauro!

Rato correu e tentava acalmar a colega enquanto a puxava pela cintura de volta para clareira. Surtando, a mulher dobrou o corpo para Rato perder o equilíbrio e soltá-la. Correu e continuou a gritar. Rato persistiu em abordar tentando auxiliar e o ela chutou e quase socou o rosto dele, que se mantinha esquivo na defensiva.

- Tá louca, mulher? – Caça Escalpos atendeu o chamado, segurava um pato morto e pôs diante do nariz dela – Bicho de água, falta pouco, não pira agora.

Nicanor também chegou segurando uma ave. O Chefe fez sinal para ele e Rato continuarem a caçar Nízor, água e carne. Precisava de um tempo sozinho com Alis para fazê-la se recompor.

- Porra, Alis, não pode ficar desse jeito! – já que estavam sozinhos, abraçou a moça.

- São crianças, Mauro! Nós estamos do lado errado! Foi um milagre terem sobrevivido ao ano do dragão e o que fazemos? Tentamos garantir que a atrocidade se complete!

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