O Rei Dragão - Final: Eduardo

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Venha, que o que vem é perfeição

Eduardo convidou Silvio e Mênia para dividir com ele a casa no alto da ladeira. Dedicaram dias a conversar sobre tudo o que viveram e superar a falta das crianças. Na verdade, havia muito trabalho de reconstrução a ser feito. Convidaram Silvio para ocupar uma cátedra em Rohr ou continuar com o cargo de Líder Comum de Tendas, obviamente recusou, optou por continuar com Mênia. O casal ficou radiante de alegria ao descobrirem que Mênia esperava mais um filhinho.

Um dia Taori surgiu, Abelha e Coisa vieram contentes recebê-la. Eduardo saiu para o jardim também animado, com um enorme sorriso:

- Oi, magrela.

- Oi, quero mostrar uma coisa para você.

- Cadê?

- No Espinheiro.

Eduardo enrugou a testa, achou estranho e concordou ir.

- Nós também vamos. – Silvio acrescentou segurando a mão de Mênia.

- Sim! Gostamos muito de vocês, acreditamos que também gostarão do que preparamos. - abriu as asas e elevou-se no ar.

Eduardo montou Coisa e foi atrás. Taori caprichou nos volteios e Eduardo usou todos os segredos de manobras que era capaz de realizar com o maesel branco. Ururau juntou-se a diversão, voava batendo as asas de um jeito estranho. Eduardo e Taori riam voando em espirais pelo corpo do enorme dragão fazendo força para manter a estabilidade com o deslocamento de ar gerado pelas longas asas verdes.

Nas ruas as pessoas aplaudiam e torciam, para animar a brincadeira. Entre risadas francas pousaram. Silvio, Mênia e Abelha já aguardavam ali.

- Incrível! – Mênia exclamou.

O Espinheiro tinha recuado e o antigo Parque Botânico foi revitalizado, podiam sentir o perfume das plantas de longe. Todo o tipo de vegetal que Silvio desejasse estudar.

- Aos fundos o Parque Botânico encontra a floresta que ocupa o estreito entre os continentes. – Ururau descreveu – E a casa de vocês ainda está lá!

- Obrigada, meninas, eu estava sentindo muita falta daquela tranquilidade. – Silvio beijou o rosto da esposa – Vamos?

Mênia assentiu, sabia que aquele era o lugar que fazia Silvio feliz. Abraçou Eduardo:

- Você é um menino maravilhoso! O mundo é seu! Vai se encontrar!

Silvio e Eduardo trocaram um cumprimento. Silvio passou o braço por cima dos ombros da mulher, piscou o olho e voltaram-se para o caminho de sua casa no Parque Botânico. Abelha abaixou para ser montada pelo casal e sumiram entre as árvores.

Eduardo ficou treinando a piscadela de Silvio, aprendeu a ler, lutar, voar e ainda faltava saber piscar daquele jeito.

- Por dentro estão se rindo de mim, né magrelas?

Virou para conversar com suas meninas. Era impressionante o tamanho de Ururau e a ofuscância de Taori.

- A gente não vai se despedir de você. – Ururau começou.

- Viemos fazer um convite! – Taori completou.

- Ah, é? – cruzou os braços achando graça, elas eram as mesmas arteiras.

- Vem conhecer as terras draconianas! – disse Ururau.

- E tantos outros lugares que você sonha, nada mais o prende aqui...

Eduardo balançou a cabeça sem dar indícios do que responderia.

- Mundo, aqui vou eu!

***

Milhares de anos depois, no terraço de seu palácio, Ururau fareja lodo entre as frestas das pedras. Jamais se esqueceria de quando ficava na ponta dos pés para admirar a Vila do Mercado, em Tendas. Além do lodo, seu olfato fenomenal sente o cheiro do fim da vida, não será hoje nem amanhã, mas esse dia virá e é preciso registrar para as gerações futuras tudo o que Ururau viu do mundo.

A parte difícil de amar humanos é que a vida deles é muito curta, a dos maesel também. Bisa, Biso, Abelha, Coisa, Silvio, Mênia, Rosa, Mauro, Trácota, Eva, Ana-Ix, Tairone, África, todos já morreram, seus filhos morreram e dos filhos dos seus filhos nem os ossos restaram. Ficaram no passado. Jamais serão esquecidos.

Dentre tantos um nome preferido:

- Eduardo.

Ururau e Taori admiram com seus idênticos olhos verdes a vista das novas cidades, o modo de vida que superou o sentido de ser dragão ou ser homem, a sociedade tornou-se uma.

- Eduardo adoraria essa vista. – Taori comentou, falavam dele constantemente.

O aventureiro conheceu o mundo inteiro, viveu uma vida longa e partiu para a última viagem num aposento do palácio de Ururau.

- Amor para sempre. – disseram as duas.

Voaram para a cidade e pousaram na praça que pediu para construírem com placas de pedras expostas a vista de qualquer um, queria que conhecessem suas palavras. Eescolheu uma placa para iniciar e começou a registrar tudo o que testemunhou até se tornar a sexta Rei Dragão.

FIM

O Rei DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora