O Rei Dragão - parte 15: Pressentimento

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Sempre estar lá
E ver ele voltar
Não era mais o mesmo
Mas estava em seu lugar...

O trio caminhou um longo trajeto até a casa de Op-Hal, percurso que ele faria bem mais rápido pelas copas das árvores e galhos do Espinheiro, mas as meninas eram uma negação nesse quesito, eles bem que tentaram. Foi sofrível, resultando unicamente em pulsos, joelhos ralados, e Op-Hal foi resmungando "são duas gemolengas, é". Beatriz não sentia mais medo do menino, embora o achassem esquisito, pequenininho, com uma maneira invocada de andar, os braços afastados do corpo e punhos fechados, as pernas um pouquinho arqueadas e sobrancelhas franzidas como se estivesse prestes a entrar numa briga. Sem dúvidas, ele não era tão ágil por terra e se apostassem corrida Sabrina seria a vencedora.

À medida que se aproximavam da casa, Abelha aparentava um nervosismo, primeiro porque não carregava as meninas, que preferiram caminhar atrás do menino; segundo que mesmo que elas quisessem seria difícil, pois não havia trilha, iam mata adentro e tinha passagens estreitas e complicadas até para a passagem do maesel sozinho; por último sua intuição dizia para não se aproximar da casa. Apurou os ouvidos procurando o maesel branco, percebeu que este já estava longe. Quando viu a casa, as pernas de Abelha estacaram, seus sentidos impediam de prosseguir e parou observando as meninas assentirem o convite de Op-Hal para entrar.

***

Ao concluir o abrigo, Eduardo viu-se solitário no acampamento, e sentiu um enorme vazio. Desde que o Chefe da Guarda matou seus avós tantas coisas aconteceram que ele mal teve tempo de sofrer. Deitou com as costas na grama com as pernas dobradas pôs as mãos sobre os joelhos. Chorou quieto, sem soluçar, enxugou as lágrimas com os dedos, e devido estarem sujos de barro, seus olhos começaram a lacrimejar mais e arder. Começou a piscar num movimento involuntário para expulsar os corpos estranhos e nisso via em flashes a cabana que fizera. Estava ridiculamente mal feita e Eduardo sentiu uma onda de raiva dele mesmo, pensou que tudo o que fazia dava errado e cada dia que sobreviveram naquele lugar devia-se a graça da Divindade, posto que ele não possuía competência para proteger as meninas.

Desejava apenas ter quem cuidasse delas melhor do que ele, enganchar o braço ao redor do pescoço do Chefe e pular num precipício sem fim. Mais nada.

Ouviu um estalar de gravetos.

- Você está aí espiando? Apareça! O que quer? – gritou.

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