O Rei Dragão - parte 17: Apresentações

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Em seguida tudo aconteceu muito rápido, pois Beatriz, recordando o artifício que usava ao escapar para o jardim em Tendas, tinha deixado sua sapatilha impedindo a porta principal de ser fechada.

Susso estava se dobrando sobre um joelho no chão querendo se aproximar da altura das meninas, quando Beatriz empurrou Sabrina porta afora e a fechou, feito isso encontou-se a porta com cara de que tentaria impedir que Susso tocasse sua irmã. Do lado de fora, ao ver-se separada da gêmea, Sabrina começou a gritar.

Eduardo procurava Mênia próximo dali e reconheceu o choro. Correu para origem dos gritos e encontrou Sabrina na entrada do tronco, apontando para porta dizendo "a Bê, a Bê!" Ele se espantou de encontrar tal objeto num lugar tão inusitado. Esmurrou e escutou a menina chamar seu nome lá de dentro. Nem viu quem abriu e invadiu a cabana. Agarrou a menina enquanto Susso debruçado sobre o filho no chão conferia se houve algum machucado grave, pois ele havia sido atirado longe pelo empurrão de Eduardo ao destrancar a porta.

De repente, os adultos deram conta da presença um do outro, cada um com sua preciosíssima criança no colo. Antes dos olhares furiosos tornarem-se uma discussão, Mênia interviu.

- Tudo bem, tudo bem, estamos todos na mesma situação, vamos conversar. Meu nome é Mênia, esses são meu marido Susso e meu filho Op-Hal. Vê, temos uma criança também, da idade delas, e vivemos escondidos no Espinheiro pela sobrevivência, nunca faríamos mal a vocês. Se não nos revelamos até hoje, foi medo. Foi só medo, tudo bem? Agora estamos todos aqui, estendo a minha mão, por favor, não queremos problemas.

- Desde quando estão nesse lugar? – Eduardo replicou ainda estressado.

- Você lembra do que os Guardas fizeram, daquela noite? Por muitas vezes já terem percorrido nosso gigante território, eles sabem estar em todos os lugares e sincronizar agir ao mesmo tempo! Desceram de balões, de seus barcos e também vieram montados em seus maesel, vieram... Você lembra... – ficou constrangida de falar claramente diante dos pequenos – Vieram inspecionar, todos ao mesmo tempo, mesmo assim conseguimos juntar algumas coisas e entrar no Espinheiro.

- E como entraram aqui? Como o monstro deixou que passassem sem atacar?

- Não é um monstro, é uma planta inteligente e permitiu nossa entrada do único jeito possível, mediante apresentação de uma relíquia que foi parte de um dragão um dia. – respondeu Susso.

Eduardo pensou rápido que seria melhor não revelar que ignorava o que fez o Espinheiro permitir sua passagem. Mênia aproveitou a pausa para encerrar as revelações.

- São suas?

-Sim.

- Muito lindas, escute, temos um bom estoque de artigos que seriam úteis para vocês e também coisas que aprendemos a fazer aqui e podemos ensinar. Elas precisam de um bom banho roupas novas, comida com sustância.

- Então foi você quem deu comida pra gente e remédio para ela?

- Foi eu. – Op-Hal assumiu.

A mulher conferiu o curativo já destruído por tanta aventura e cheirou a mistura.

- Ovo, babosa e folha de bananeira, aprendeu bem. – confirmou a mãe.

- Brigadu. – tentava agir normalmente como se o tranco da porta não tivesse doído.

A mulher insistiu passando a mão na cabeça de Beatriz.

- Onde eu morava, muito tempo atrás, tínhamos um par de gêmeos, eram grandes camaradas "os gêmeos quituteiros", cozinheiros de talento imcomparável! Vocês ainda não se apresentaram, como se chamam?

- Meu nome é Eduardo, essa é a Sabrina e ela é a Beatriz, viemos de Tendas.

- São apenas vocês?

- Sim, quer dizer, entraram dois maesel com a gente.

- Mais a Bisa, o Biso e o guarda, mas aí eles estão escondidos com Pedra Branca – acrescentou Sabrina.

- Entendo.

Disse Susso, então Mênia procurando ser o mais natural possível pegou o filho do colo dele. Seu suspiro de alívio deixou claro que o clima continuava tenso. Ambos os lados não confiavam contar mais sobre si e, no fundo, os adultos desejavam separar-se logo. O rapaz carregando uma gêmea no colo, tomou a outra pela mão.

- Vamos embora.

De repente a mulher ficou ressentida de concordar que partissem para o acampamento sem recursos, vendo que o trio estava sujo, maltrapilhos e magros demais.

- Ei, espera! Vou dar um banho em Op-Hal e servir uma sopa quente, fiquem para trocar de roupas e comer algo.

- Nós estamos bem.

- Por favor, Eduardo, é impossível substituir a mãe, eu só quero ajudar, veja como elas precisam.

Sem demorar-se a olhar, Eduardo sabia que as meninas precisavam, seu silêncio prolongado foi considerado um sim.

- Susso, esquenta água enquanto eu pego roupas limpas.

Cada um foi para um lado e a esposa voltou com roupas do marido e duas combinações dela.

- Isso deve servir. Venham!

Susso pôs água numa bacia de madeira e Mênia pôs todos os pequenos ali para ela e Eduardo poderem dar banho. Mostrou algumas misturas que fazia com base de babosa e outros vegetais. Vestiram eles e Mênia os levou para cozinha para que Eduardo se lavasse, ao sair sentindo um homem renovado encontrou o grupo se banqueteando com uma sopinha quente. Comeu, agradeceu e anunciou que deviam enfim rumar para o próprio acampamento.

- Voltem amanhã, trouxemos mantimentos diversos pensando solucionar o maior numero de empecilhos que pudemos elencar antes de vir. Quero dizer que tenho tecido pra costurar roupas para elas, venham buscar amanhã!

Após longa hesitação ele disse "Obrigado, faremos o possível para vir".

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