Em seguida tudo aconteceu muito rápido, pois Beatriz, recordando o artifício que usava ao escapar para o jardim em Tendas, tinha deixado sua sapatilha impedindo a porta principal de ser fechada.
Susso estava se dobrando sobre um joelho no chão querendo se aproximar da altura das meninas, quando Beatriz empurrou Sabrina porta afora e a fechou, feito isso encontou-se a porta com cara de que tentaria impedir que Susso tocasse sua irmã. Do lado de fora, ao ver-se separada da gêmea, Sabrina começou a gritar.
Eduardo procurava Mênia próximo dali e reconheceu o choro. Correu para origem dos gritos e encontrou Sabrina na entrada do tronco, apontando para porta dizendo "a Bê, a Bê!" Ele se espantou de encontrar tal objeto num lugar tão inusitado. Esmurrou e escutou a menina chamar seu nome lá de dentro. Nem viu quem abriu e invadiu a cabana. Agarrou a menina enquanto Susso debruçado sobre o filho no chão conferia se houve algum machucado grave, pois ele havia sido atirado longe pelo empurrão de Eduardo ao destrancar a porta.
De repente, os adultos deram conta da presença um do outro, cada um com sua preciosíssima criança no colo. Antes dos olhares furiosos tornarem-se uma discussão, Mênia interviu.
- Tudo bem, tudo bem, estamos todos na mesma situação, vamos conversar. Meu nome é Mênia, esses são meu marido Susso e meu filho Op-Hal. Vê, temos uma criança também, da idade delas, e vivemos escondidos no Espinheiro pela sobrevivência, nunca faríamos mal a vocês. Se não nos revelamos até hoje, foi medo. Foi só medo, tudo bem? Agora estamos todos aqui, estendo a minha mão, por favor, não queremos problemas.
- Desde quando estão nesse lugar? – Eduardo replicou ainda estressado.
- Você lembra do que os Guardas fizeram, daquela noite? Por muitas vezes já terem percorrido nosso gigante território, eles sabem estar em todos os lugares e sincronizar agir ao mesmo tempo! Desceram de balões, de seus barcos e também vieram montados em seus maesel, vieram... Você lembra... – ficou constrangida de falar claramente diante dos pequenos – Vieram inspecionar, todos ao mesmo tempo, mesmo assim conseguimos juntar algumas coisas e entrar no Espinheiro.
- E como entraram aqui? Como o monstro deixou que passassem sem atacar?
- Não é um monstro, é uma planta inteligente e permitiu nossa entrada do único jeito possível, mediante apresentação de uma relíquia que foi parte de um dragão um dia. – respondeu Susso.
Eduardo pensou rápido que seria melhor não revelar que ignorava o que fez o Espinheiro permitir sua passagem. Mênia aproveitou a pausa para encerrar as revelações.
- São suas?
-Sim.
- Muito lindas, escute, temos um bom estoque de artigos que seriam úteis para vocês e também coisas que aprendemos a fazer aqui e podemos ensinar. Elas precisam de um bom banho roupas novas, comida com sustância.
- Então foi você quem deu comida pra gente e remédio para ela?
- Foi eu. – Op-Hal assumiu.
A mulher conferiu o curativo já destruído por tanta aventura e cheirou a mistura.
- Ovo, babosa e folha de bananeira, aprendeu bem. – confirmou a mãe.
- Brigadu. – tentava agir normalmente como se o tranco da porta não tivesse doído.
A mulher insistiu passando a mão na cabeça de Beatriz.
- Onde eu morava, muito tempo atrás, tínhamos um par de gêmeos, eram grandes camaradas "os gêmeos quituteiros", cozinheiros de talento imcomparável! Vocês ainda não se apresentaram, como se chamam?
- Meu nome é Eduardo, essa é a Sabrina e ela é a Beatriz, viemos de Tendas.
- São apenas vocês?
- Sim, quer dizer, entraram dois maesel com a gente.
- Mais a Bisa, o Biso e o guarda, mas aí eles estão escondidos com Pedra Branca – acrescentou Sabrina.
- Entendo.
Disse Susso, então Mênia procurando ser o mais natural possível pegou o filho do colo dele. Seu suspiro de alívio deixou claro que o clima continuava tenso. Ambos os lados não confiavam contar mais sobre si e, no fundo, os adultos desejavam separar-se logo. O rapaz carregando uma gêmea no colo, tomou a outra pela mão.
- Vamos embora.
De repente a mulher ficou ressentida de concordar que partissem para o acampamento sem recursos, vendo que o trio estava sujo, maltrapilhos e magros demais.
- Ei, espera! Vou dar um banho em Op-Hal e servir uma sopa quente, fiquem para trocar de roupas e comer algo.
- Nós estamos bem.
- Por favor, Eduardo, é impossível substituir a mãe, eu só quero ajudar, veja como elas precisam.
Sem demorar-se a olhar, Eduardo sabia que as meninas precisavam, seu silêncio prolongado foi considerado um sim.
- Susso, esquenta água enquanto eu pego roupas limpas.
Cada um foi para um lado e a esposa voltou com roupas do marido e duas combinações dela.
- Isso deve servir. Venham!
Susso pôs água numa bacia de madeira e Mênia pôs todos os pequenos ali para ela e Eduardo poderem dar banho. Mostrou algumas misturas que fazia com base de babosa e outros vegetais. Vestiram eles e Mênia os levou para cozinha para que Eduardo se lavasse, ao sair sentindo um homem renovado encontrou o grupo se banqueteando com uma sopinha quente. Comeu, agradeceu e anunciou que deviam enfim rumar para o próprio acampamento.
- Voltem amanhã, trouxemos mantimentos diversos pensando solucionar o maior numero de empecilhos que pudemos elencar antes de vir. Quero dizer que tenho tecido pra costurar roupas para elas, venham buscar amanhã!
Após longa hesitação ele disse "Obrigado, faremos o possível para vir".
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Rei Dragão
FantasyNo início eram apenas os dragões. Com o advento da humanidade surgiu a guerra. O mundo teve de ser repartido entre homens e draconianos até que após séculos de rivalidade os dragões foram quase extintos. O único que sobrou foi Pedra Branca, um dragã...