O Rei Dragão - parte 35: A Última Noite do Ano

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Quando Tairone retornou trazia um novo cavalo. Vendera o anterior ao ferreiro, que ficou felicíssimo com a oportunidade de adquirir um animal de raça pura, um cavalo sargonês mesmo machucado poderia lhe render. Com a troca, ainda trouxe uma diferença que foi paga em função de um cavalo ter maior valor no mercado do que o outro. Assim que chegou estendeu o dinheiro para Nemo.

- Não entendo.

- Eu dei o animal a você, então qualquer lucro com a revenda é seu. Aceite.

- Obrigado.

Ambos conheciam o destino desse dinheiro: comprar ferragens para montagem de peças de motor, talvez um novo adaptador taórico.

Separaram poucos de seus pertences para deixar em Tendas, comunicaram a Gael que passariam dois dias fora. Depois de conhecer a culinária da esposa de Gael e descansar um pouco, partiram para Casa de Rohr.

- Hoje é o último dia do ano. – recordou Nemo, ao alcançarem a estrada.

-Será por isso que tem forasteiros na vila? – esfregou o rosto – Vai render confusão, como começou uma ideia dessa?

- Aconteceram muitas coisas nas últimas semanas. A Guarda vai ter trabalho ao regressar, essa gente para dispersar.

- Não vai ser fácil. Em termos de diplomacia, entende? Não aceitarão ser tratados como "qualquer um" os quem vem pra cá.

Nemo compreendeu o comentário, Tairone não quis ser esnobe, foi realista. Lembrava o que ele fez nos portões do Templo da Mãe Taor.

- Agora é até melhor Caça Escalpos estar no Espinheiro! Aposto que tem a ver com a mensagem que levamos.

- Concordo. Essa notícia foi realmente inesperada, espero que a Administradora nos esclareça as dúvidas. Nemo, o que aconteceu naquela casa?

- Eu encontrei um indício que pode significar que havia crianças na casa. Nós sabemos que sim, pelo que Ri-Tha nos disse em Sargos, faltavam apenas evidências.

O bordês pigarreou, a lembrança da visão de seu filho balançou suas emoções. Ficou flagrante para Tairone que escondia algo, seu companheiro de viagem parecia estar se esforçando para dominar a onda de sentimento. Respeitou a intimidade do outro e poupou de interpelações sobre o que desejava esconder.

- Ah! – Nemo esfregou os olhos, nariz, face, ficando um pouco vermelho. Então distinguiu uma faixa acinzentada entre Espinheiro e as nuvens, chovia por lá enquanto eles suportavam o calor – Como ia dizendo, encontrei uma roupa com botões arrancados.

Tairone franziu a testa, precisava de explicações para captar a relevância dessa ausência de botões.

- Meninas arrancam botões furtivamente para decorar como olhos de bonecas de pano. Ao menos no Bordo é assim, acredito que seja uma pista.

- Você é bem inteligente, bordês. Ainda bem que eu não vendi você para o Guarda da Rainha.

- Humpf! – se Nemo segurava a onda de choro, ao rir da piada do amigo, deixou duas lágrimas precipitarem pela face morena – Eu tive uma visão.

- Visão?

- Vi duas meninas gêmeas na casa, tenho certeza que recebi uma revelação.

Tairone enrugou a testa e analisou o horizonte vacilante do deserto:

- Aprendi a confiar nos seus ímpetos. Então você acredita que são duas meninas?

– Obrigado. Posso apostar tudo nessa hipótese. – deram uma longa pausa na conversa – O que era aquilo que tirou da casa?

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