O Rei Dragão - parte 21: Duplicidade

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Alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes, pensam que são reis

Mutemuia se reuniu na restrita Sala da Cúpula do Conselho com os Pensadores e Honrados mais experientes, ficava protegida numa mesa alta tendo diante de si diversas solicitações enviadas por escrito de temas que desejavam abordar. Um pouco abaixo dela uma Notívaga já experiente em atas, anotava rapidamente a data e os nomes dos presentes. Obviamente com tantos dias de espera ficaram furiosos de saber pelos corredores que a entrada no Espinheiro havia sido autorizada. Esperavam ser consultados sobre o melhor momento e os primeiros a saber.

- Eles serão trazidos para cá? E por que não os levaremos de volta a Casa Real? – disse um bastante idoso apoiado num bastão.

- Verdade! Eles que se entendam com aquelas duas aberrações! – muitos concordaram.

- Pois por acaso o Consenso nunca conviveu com aberrações? – ironizou o Pensador responsável por ensinar adestramento de feras.

- Nunca, nunca ofenda um maesel, seu... seu... tratador de bestas! – o idoso ameaçou bater-lhe com o bastão.

Apanhando, o Pensador acrescentou:

- Bem sabes do que falo! Bem sabes do que falo!

Do lado de fora das portas trancadas, Alis viu dois homens que precisaria tirar do caminho se quisesse aproximar-se de Mutemuia. Disparou dois dardos com a zarabatana e os Guardiões da sala de reuniões do Consenso desmaiaram. Passando por cima deles disse:

- Queria ver se tivessem usado isso no teste de aptidão...

Abriu as portas e não pôde crer na visão da alta esfera do Consenso discutindo e brigando feito moleques.

- Ah! Chegou a mocinha! – acusou uma das muitas senhoras no recinto, uma Pensadora magra de cabelos cinza-azulados.

- Eu a liberei dessa reunião, já que está aqui, sente-se. Aproveitem os outros e façam o mesmo, por favor. – mandou a Administradora.

A sala se reorganizou, o Pensador ficou massageando as marcas vermelhas das pancadas. Mutemuia prosseguiu.

- Chega de acusações como se eu tivesse arbitrariamente organizado essa expedição. É uma ordem direta de nossa líder suprema! Eu estive em sua presença e fui instruída a proceder assim.

- Líder Suprema! Temos que discutir a existência de uma líder representante da espécie, já que os dragões abandonaram o continente Dorijan, a função caducou. – disse uma outra Pensadora.

- Autonomia para os Líderes Comuns e descentralização do poder! Representações políticas locais! – ecoaram palavras de ordem.

- Chega! – a Administradora perdeu a paciência – Tais pautas não serão discutidas agora!

- E quando serão? Sabemos que foi Mauro quem sugeriu a rainha que o permitisse entrar no Espinheiro, por causa dele paramos nossas atividades em função dessa caça que em nada nos interessa. E essa pessoa hospeda-se aqui como fosse um príncipe. – acusou a Pensadora de cabelo cinza-azulado que parecia liderar uma numerosa ala.

- Sem me alongar demais no fato que, para quem exige descentralização do poder, a senhora prioriza regalias à realeza e insinua que a plebe não merece... Fico realmente é espantada com a falta de cerimônia com que relata as descobertas de seus espiões, esperava que tivessem discrição. É fato, existe um poder central em vigência, a Casa Real Humana tem mais de dez vezes o tamanho das terras do Consenso e essa discrepância é menos assustadora que a contagem de recursos humanos. Mesmo com melhor aparato tecnológico ainda dependemos deles. Pense, e se todos os outros povoados se voltassem contra nós em apoio à rainha? Eu não incentivarei a rebelião do Consenso, eu manterei essa Casa um centro de pesquisa e politicamente nulo o quanto puder. Essa era a filosofia de Erasmo Rohr, essa será a minha prática de Administração interna. Alis, parta imediatamente daqui com o Guarda de confiança da rainha e faça o que tem que ser feito. Essa reunião está encerrada.

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