O Rei Dragão - parte 48: Insurreição

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Poderosa Liberdade

Poderosa Liberdade da Alma

Seja livre

Eva sempre defendeu o direito feminino de viver com posse total de suas escolhas, sendo mésia, além da rivalidade na navegação, julgava um absurdo como os bordeses cerceavam suas mulheres. Mésios são voluntariosos e certamente os que mais se "misturam" entre outros povos de Dhomini-Dorijan. Encontram-se um grande número deles na pirataria, no Consenso, na Guarda Real, trabalhando em vilas ou fazendas, muitos desafortunados decaídos a escravos e até no Templo de Sargos algumas moças de origem mésia tem cargos menores. A liberdade é um conceito amplo em Frontir-Mésia.

Por isso a moça odiou-se ao acordar icomodada pela culpa. Nenhuma satisfação devia a Trácota, "nenhuma, nenhuma, nenhuma" repetia para si mesma enquanto analisava detalhes ignóbeis no teto. Delicadamente para deixar Eduardo continuar dormindo, afastou uma mecha que escondia o rosto dele. O semblante lhe parecia tão interessante quanto na noite anterior. "O que mudou?" No Consenso, as garotas debatiam o tema Escolher Uma Companhia Exclusiva versus Estar Submetendo-se aos Padrões Sociais e as diferenças culturais tornavam-se gritantes, porém em Rohr, a liberdade sexual era corriqueira já que não é uma instituição que preza a formação de famílias entre seus membros. Quem porventura fizesse essa opção, geralmente abandonava a sede e retornava para a terra de origem, indo trabalhar no máximo como Governança ou Pequeno nas residências dos Líderes Comuns. Portadoras de novos conhecimentos, donas de si mesmas, foram pouquíssimas mulheres na história de Rohr que optaram desperdiçar anos de estudo e trabalho pela maternidade.

Então, o desconforto que cutucava Eva nessa manhã, trazia espinhos piores que a fidelidade. Considerando o que Trácota disse que pretende fazer após abandonar a Guarda Real, Eva teria que sacrificar sua prezada liberdade, trocá-la por aquele homem descrito como uma grande escultura de ouro. "Será que vale tanto?"

Eduardo emitiu um rosnado, despertou e levou poucos instantes para recordar a noite passada. Sorriu largamente e sem abrir os olhos puxou Eva pelos quadris mais para perto dele.

- Taor já ilumina o horizonte, devemos retornar. – ela rolou para fora do colchão e começou a buscar suas coisas espalhadas.

- Está bem... Hum... – ele levou as mãos na cabeça com expressão de dor.

Eva tinha esquecido que Eduardo acordaria com a primeira ressaca, já vestida ajoelhou ao lado do rapaz.

- Ei... passamos da conta com a aguardente ontem, é normal sentir isso.

- E por quê você está ótima? – perguntou abrindo um olho só, testa enrugada, cara inchada e um gosto metálico na boca.

- Porque já estou acostumada a beber. Vem, eu ajudo a levantar, antes de descer a gente bate na porta do vizinho e pede um pouco de água e qualquer coisa pra mordiscar. Quando chegarmos no acampamento você toma um banho e fica revigorado.

Essa manhã tornara-se uma decepção em vista do que Eduardo planejou brevemente ao despertar. "Não crie expectativas" o lema do feirante só encontrava argumentos a favor. Só restou concordar:

- Tá bom.

O casal chegou ao fim da ladeira quando o galo cantou o raiar do novo dia.

***

Água não é um recurso abundante em Tendas e devido ao instantâneo aumento populacional, surgiu a necessidade de racionar o uso. Oportunistas, os tendenses criaram "casas de banho" na Vila do Mercado, onde as pessoas recebiam um balde com uma quantidade de água razoável para um banho, além disso, um esponjão áspero e sabão emprestados, pois o próximo da fila reutilizaria os mesmos. O negócio deu lucro, inclusive Eduardo optou pela "casa de banho", para se lavar, um amigo tendense pagou para ele usar o serviço. Na saída, encontrou Caça Escalpos que avisou terem sido convidados por Tairone a participar do último dia de treino antes da chegada dos Guardiões de Rohr.

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