O Rei Dragão - parte 43: Beijo da Morte

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Nicanor sentiu uma pontada de remorso ao matar Fidélix. Porém, na vez de entregar Pérola para Nízor ficou decepcionado com o pedido de entregá-la viva. Nízor afirmou que se duas pessoas desaparecessem em seu turno de vigília soaria duvidoso, precisaria bolar uma armadilha. Sabia que Rato havia roubado o livro de poesias da cabana de Silvio, bastou furtar o ladrão e colocar o objeto na mochila de Pérola. A garota tola imaginou que fosse um presente anônimo, embora Nicanor tenha observado uma sutil amabilidade dela em relação a Rato durante o desjejum. Talvez Pérola desconfiasse do ladrão parcialmente redidimido.

O resto do dia ela passou indócil, ansiosa para ficar só e ler escondida. Esqueceu totalmente o nível de perigo que pairava sobre eles. Sem que precisassem induzir, a moça escapuliu, aproveitando um momento de ausência de Mauro que pediu para ficar um pouco sozinho com Alis. Daí Pérola caiu nas mãos de Nízor. Logo que Eva e Marília reclamaram o sumiço da amiga, os Guardas iniciaram uma vistoria nos entornos. O Chefe e Alis ao retornar depararam-se com o rebuliço.

- O que foi agora? – perguntou Mauro.

- A Pérola sumiu. – Trácota explicou.

- Esse pessoal de Rohr só arruma problemas. A mochila dela é aquela ali. Tem sinal de ter sido arrastada ou algo assim? Não teve nada estranho?

Caça Escalpos levantou a mochila de Pérola e encontrou um bilhete embaixo.

- Essa é a caligrafia da Pérola, está escrito: "descerei antes de vocês, nos encontramos no rio."- porém negou que ela seria capaz de fazer o que estava escrito – Eva leu para Mauro, depois acrescentou - Impossível, ela nunca sairia andando por aí sozinha.

- Enquanto vocês não fazem nada de útil poderiam ao menos vigiar umas as outras.

Mauro culpabilizou Eva e Marília pela irresponsabilidade da colega. E gritou:

- Nízor! Está me deixando para o final por quê? Vamos logo com isso!

Voltou a desafiar o assassino que o ignorava, enquanto se divertia eliminando peças secundárias. Ao menos o Chefe teve a compaixão de pedir que Trácota convencesse Eva de que precisavam seguir viagem rumo ao rio, Pérola não estava mais por perto, precisavam seguir viagem.

Passada a estufa o rio não ficava muito longe.

Ouviram o borbulhar das águas e aceleram o passo. O avistaram e postaram-se na margem para admirar o continente draconiano ao alcance de umas braçadas. A vegetação era a mesma do lado do rio em que estavam, tudo igual, mesmo assim, outro continente.

O rio era largo, límpido e escorria para o norte, ou seja, viajariam a favor da correnteza. Havia embarcações abandonadas na margem, uns pequenos barquinhos propícios a passeios curtos e impulsionados com remos, outros movidos a motores de tecnologia ultrapassada. Difícil foi escolher um barco em bom estado, a maioria tinha apodrecido. Encontraram um que por razão desconhecida fora mantido fora da água.

- Tem algum taore instalado nele? – Cícero perguntou.

- Eu confiro.

Eva foi sondar o estado do motor segura do que fazia.

- De onde você é? – perguntou Rato.

- Cresci viajando de barco com meus pais nos rios de Frontir-Mésia, só no final da minha adolescência que estabeleceram morada fixa em Porto Seco. Acho que foi por isso que procurei o Consenso, gosto de mecânica e aventura.

- Também sou mésio. Seguinte, acho que essa merda é de uns cem anos atrás, a capacidade do motor é diferente dos taores que os barcos hoje usam. Podemos aproveitar os taores das lanternas.

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