Com o exemplo dos centauros, os demais povos isolaram seus acampamentos. Quem alugou quartos em casas tratou logo de certificar que conterrâneos estivessem nas vizinhanças, então, independente do consentimento dos tendenses, eles impuseram barreiras.
A relação com os Guardas começou com desconfiança à principio, passou a fiscalização da ordem entre visitantes e com o boato de que os centauros declararam guerra, passou a rigidez acabrunhada de quem está prestes a lutar. Assim que um feirante contratado por Dumbar delatou a notícia ao superior entre os Guardas, destacaram um dos Guardas no encalço do mensageiro deles, Atlas. O homem perdeu a pista do adolescente e também não localizou quem alugou a casa ao primeiro centauro hospedado em Tendas e seu parceiro bordês.
Enviaram outro Guarda num maesel veloz consultar a Casa Real, pouco tempo depois o homem retornou à residência do Líder Comum de Tendas, escoltado por amírios. Mesmo desocupada pelo Consenso ainda servia de base à Guarda Real, ali foram notificados de que estavam cercados, todas as estradas fechadas.
Os Guardas que circulavam pelas ruas foram confrontados e após lutas duras com alguns resultados trágicos, também foram recolhidos para junto de seus colegas presos na residência do Líder Comum.
Mésios, tessiânicos, tendenses, sargonenses, amírticos, urupenhos, amírios e bordeses*12 reuniram-se para fechar o povoado. Os Guardas cercados dentro da antiga casa de Silvio, tiveram fé que assim que o mensageiro real se aproximasse da vila e visse a situação, retornaria correndo ao palácio, certamente com alguns indivíduos em seu encalço, porém ele seria mais ágil e chegaria seguro em seu destino. Irada, a rainha enviaria reforços que poriam a Casa Real novamente no controle. Nada disso aconteceu. O mensageiro avistou um grupo de pessoas armadas aguardando se ele ousaria tentar se aproximar de Tendas. Impotente, obrigou seu maesel a dar meia volta e retornou à segurança da Casa Real.
Com o passar das horas, o sub-Chefe da Guarda avisou os colegas o que provavelmente teria acontecido.
- Aquela covarde, nos abandonou à mercê dos invasores, não moverá nenhum reforço sem consultar o Consenso.
A colaboração dos moradores dos draquéis foi decisiva para a ocupação do território, afinal a área urbana era pequena e o terreno que não fosse deserto ou estrada, provavelmente servia como draquel de alguém. Mesmo os matutos mais desconfiados permitiram a entrada dos insurgentes e deram-lhes orientação útil para efetivar a tomada de Tendas, embora o centro do movimento fosse a vila, era necessário esse conhecimento local.
Nos acampamentos, a cumplicidade ao tomar a vila em conjunto, estava longe de garantir amizade entre os povos. A interação no convívio era mínima. A conivência por estarem cometendo a mesma digressão abafava a desconfiança mútua. Ainda precisavam abrir uma comunicação oficial. A noite foi péssima, tendenses temiam por suas famílias, afinal eram suas mulheres e crianças ali, os outros temiam um ataque externo ou traição de algum insurgente. Muitos mantiveram vigilância na madrugada.
Na madrugada escura os líderes designados de cada povo começaram a preparar-se para sair, poucos conseguiram dormir e a ansiedade impedia o sono atrasado pesar. Dezenas de chaleiras apitaram e leiteiras deixaram o ar cheiroso. Odor de recomeço diário com pão. Haviam variações entre hábitos de alguns que preparavam desjejum regado de sustância, outros consumiam o mínimo necessário para obter energia. Então, os vultos dos líderes desentocaram de seus lugares, acompanhados por conterrâneos rumo a comparecer a reunião convocada por Tairone.
Uns fungaram o cheiro de esterco de cavalo e sentiram um disfarçado desprezo pelos centauros. Nomes conhecidos em Dhomini e humildes representantes locais tiveram que aguardar lado a lado, em silêncio, pelo primeiro sinal luminoso de Taor no céu. A tensão prevista entre os líderes de Porto Seco, Nova-Amirtréia e Frontir-Mésia, foi reprimida pelo tratamento igualitário dado pelos centauros. No horário combinado o acampamento admitiu somente os líderes. Os acompanhantes que retornassem aos seus postos ou ficassem por ali, como desejassem. Recepcionavam o último quando um sargonense que auxiliava na fronteira oeste chegou apontando uma mulher obesa sentada num tipo de poltrona instalada na carapaça de um maesel imenso, com patas articuladas de caranguejo, cabeça de aranha e rabo de escorpião.
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O Rei Dragão
FantasiaNo início eram apenas os dragões. Com o advento da humanidade surgiu a guerra. O mundo teve de ser repartido entre homens e draconianos até que após séculos de rivalidade os dragões foram quase extintos. O único que sobrou foi Pedra Branca, um dragã...