O Rei Dragão - parte 47: Eva

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Se eu pudesse mudar o mundo

Eu seria o raio de sol em seu universo

Você pensaria que meu amor realmente é algo bom

Querida, se eu pudesse mudar o mundo

Mutemuia repetiu duas vezes sua resposta, embora fosse bastante sucinta, para que não houvesse dúvidas quando o mensageiro transmitisse suas palavras à Rainha Rúbia Mai Tavor-Pan. "Lamento que tais incidentes tenham impedido que viesse a Rohr realizar os procedimentos cirúrgicos programados. Além da ausência de Dom Mauro garantindo a segurança da viagem entre a Casa Real e a Casa de Rohr, o momento não é propício. O que importa é salvaguardar a intocabilidade da sedo do governo. Conforme seu pedido, Rorh enviará os melhores Conselheiros para apoiar a defesa de sua fortificação. Agradecemos a oportunidade de serví-los."

O mensageiro, vestido num traje semelhante ao de Alis, quando Mutemuia a conheceu, virou-se nos calcanhares para montar seu maesel e voltar para a Casa Real. Os dônios tinham sorte de ainda haver um caminho livre para Rohr, no entanto o maesel abriu as asas transparentes de inseto, nas quais Mutemuia deixara de reparar e ela concluiu que eles não estavam tão confiantes assim de viajar por terra.

Mas os dônios já haviam concluído que dominar deslocar-se pelo ar era uma vantagem, poderiam descer um ataque aéreo sobre Tendas. O problema, concluíram, é que certamente os insurgentes defenderiam-se com as armas de longo alcance projetadas por Maria. E seria o medo desse revide que os impedia de descer um ataque? Não! Mutemuia sabia muito bem a resposta: a Rainha preferia fechar-se na segurança de sua fortaleza e evitar o confronto, ser protegida ao invés de deslocar forças. "Medrosa!", a Administradora riu sarcástica, "e acima de tudo, medo dos dragões, ela está em pânico com essa possibilidade, sem nenhuma convicção de vitória no caso deles decidirem retornar e brigar para assegurarem a superioridade!"

Bistiene ouvira a conversa e concordou, a Pensadora remoçara com o cheiro de guerra próxima, já passara pela Guerra Civil e ansiava pela próxima. Soltara os cabelos grisalhos do coque e deixou-os descer, escovados e brilhantes até a cintura. Também tinha trocado o manto roto por outro azul turquesa que valorizava mais os olhos da mesma cor.

Seguiram juntas para o Salão onde os Pensadores e Honrados esperavam para combinarem detalhes da invasão a Casa Real. Encerrada a exposição de Mutemuia do conteúdo de suas últimas correspondências com a rainha, Bistiene emendou para que todos ouvissem:

- Eis que temos passagem livre para nossos Guardiões rumarem para Tendas sem causar conflito com a Casa Real antes do momento planejado. Eles próprios nos forneceram subterfúgio.

- E os maesel? – Mutemuia perguntou ao ancião que dirigia o projeto maesel.

- Em vista da demanda enorme que nos requisitou, superamos todas as nossas expectativas de tempo. Eles estão nos estábulos, deseja vê-los?

- Por favor.

Mutemuia caminhou elegantemente, contudo devagar para o ancião conseguir acompanhá-la em direção a saída. Os Conselheiros vieram logo atrás dos dois. O Notívago Gago aguardava o término da sessão junto a porta e ofereceu o braço para a companheira.

No exterior da Casa de Rohr o grupo seguiu embaixo de uma garoa tímida que sequer impedia aos raios de Taor que incindissem com sua luz no pátio. Uma ponte-de-gil*15 adornava o céu além da plantação de reza-a-taor com linhas coloridas. Mutemuia foi confiante na direção do estábulo onde ocorreu o conflituoso encontro com Tairone e Nemo, mas o ancião apontou com o cajado e indicou para seguirem mais adiante.

- Tivemos que construir um novo espaço para esses animais, venha por aqui.

Mutemuia avistou um novo estábulo, simplório, com jeito de improvisado. Os Pequenos Gui e Fabine aguardavam com expressão de expectativa para acompanhar a exibição do tesouro que guardavam ali dentro para a Administradora. A jovem não tirava as mãos da tranca do portão, animada para abri-lo e rever outra vez os novos maesel, era impossível cansar de admirá-los. No interior desse recente anexo para os estábulos principais, eles cuidavam com devoção de uma das coisas mais belas que mãos humanas foram capazes de confeccionar. Quando o Pequeno Gui e Fabine escancararam o portão, Mutemuia perdeu o fôlego diante de tanta beleza. Eram centenas de maesel, reproduzidos a partir de um projeto bastante simplório: focar mais em adicionar um determinado dom a uma espécie de animal incrível do que tentar reconstruir dragões. Era uma ideia concebida há muito tempo pelo ancião sem que lhe dessem ouvidos. Agora o Conselheiro recebia com humildade as avaliações positivas, o resultado do trabalho ele creditava dever em maior parte às qualidades dos animais selecionados. Pois ele simplesmente escolhera as melhores linhagens de cavalos sargoneses e dotou-os com asas de cisnes.

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