A luminosidade do Sol adentrava como velha amiga, no ambiente. Banhando e causando calor na pele nua de Victoria, forçando-a remexer-se ao mínimo contato, abrindo, vagarosamente, suas pálpebras.
Tateou a cama, buscando sentir a pele macia que, antes, causava-lhe perfeito deleite; sentiu o espaço frio. Sem o calor infernal emanando da derme, sem o cheiro natural exalando dos poros. Tocou o lençol como quem toca o vazio.
- Porra! Isso é sério? - Resmungou após fazer uma breve mapeada no ambiente, constatando estar só. - Bacana! Transar e cair fora ainda está em alta. - Segue com murmúrios, até que ouve uma batida frenética na porta. - Entre, Carina.
- Virou vidente, foi? - Perguntou a loira, em tom de divertindo, sentindo-o morrer segundos depois com a expressão fechada que recebera em resposta. Jogou-se na cama, fitando a frieza perturbadora que irradiava das orbes castanhas de Victoria. - O que houve? A jovem dormiu de calça jeans, foi?
- Se fosse isso, tudo bem. - Disse, sentando-se. - Ela dormiu como veio ao mundo, nua. Mas, como pode ver, ela não está mais aqui. Deu no pé. Nenhum "tchau, obrigada pela noite" me foi dado. - Deslizou a mão direita por suas têmporas, transpassando uma pontada de frustração pelo ocorrido.
Carina, de súbito, erguera um pequeno bilhete rente à sua face.
- O que é? - Perguntou, não demonstrando tanto interesse ao tomá-lo em mãos. Então, o desdobrou, rindo incrédula com o que vira.
- Então... é o quê? - A loira perguntou, ansiosa pelo conteúdo do papel. - Fala, mulher.
Victoria leu. Releu. Suspirou, fitando, por fim, sua amiga.
- Quer um clichê? - Perguntou, Carina assentiu sorridente. - Ela deixou esse bilhete com número telefônico e, marcou com um beijo de batom. É mole?
- Ela deixou o telefone, é só ligar. Deixa de ser chata. - Carina alfinetou, e, antes que Victoria pudesse dizer algo, contornou a conversa. Queria falar de sua noite. - Bom, se sua noite foi boa, a minha também foi, digo logo. Acredita que fiquei com o rapaz do bar? Tinhas razão, um gato. Beija bem, tem pegada... ótimo para algo casual, não acha?
Victoria gargalhou, encaminhando-se até o banheiro, tendo Carina em seus calcanhares.
- Penso que irá usar o rapaz. Se te conheço bem, irá usá-lo e, descarta-lo quando uma faísca de amor surgir naquele coração. Foi o que fez com todos os outros, com todas as outras, minha querida. - Afirmou, enfiando-se sob o jato de água morna, mais para fria, do jeito que gosta.
- Ei! Não é bem assim, Victoria. Não sou tão má assim. - Retrucou, encostando-se na pia. - Quero aproveitar. Vai que ele se torna o amor da minha vida.
- Aham. - Debochou Victoria. - Bem me quer, mal me quer. Dune, dune te... pessoas que pendem para jogos assim, só tendem a curtir às custas dos outros. Amor da vida, por ora, não é compatível com você.
- Ok, nem eu acredito nisso. - A loira ergueu as mãos em sinal de rendição, sabia que, as palavras ditas pela amiga, eram a mais pura verdade. - Mudando de assunto, saindo de mim e indo para você, vai entrar em algo baunilha dessa vez? Ou vai seguir dando algumas palmadas, cintadas e chicotadas por aí? - Questionou, ajeitando-se em frente ao espelho, na intenção de ficar mais apresentável à qualquer ser humano que a visse.
- Não faço a menor ideia. Mas, não penso que essa moça seja totalmente baunilha. Pode ser pira da minha cabeça, mas, senti submissão por sua parte. Ah! E como senti.
- Está a tanto tempo nesse mundo que está vendo coisa fora dele, é? - Disse, fitando Victoria seriamente. Ela negou.
- Não é isso, criatura. Sabe melhor do que ninguém que consigo separar muito bem relacionamento baunilha de relação no jogo. Mas... ah! Quer saber, deixa quieto, esquece. Some daqui, quero terminar meu banho em paz. - Fechara o vidro do box, voltando-se para seu banho.
- Ok, ok, grossa. Irei fazer um café. Eu que não vou para casa de barriga vazia. Sua geladeira é repleta de coisas gostosas, irei aproveitar. - Diz, saindo do banheiro.
Carina, como toda melhor amiga, possuía seu "passe" dentro da casa. Conhecia cada canto, com exceção da cozinha, não fazia ideia de onde ficava algumas pequenas coisas, tais como saleiro ou pote de café. Seu caminho, era um caminho certo para a geladeira e só; já que, seguindo o "exemplo" da amiga de infância, não possuía grandes habilidades na cozinha. Do jeu jeitinho, organizou a mesa do café, colocando alimentos para um batalhão ali.
Sentou-se na cadeira à direta daquela que era disposta na ponta. Nunca sentara nela e, talvez, nunca se sentaria.
Começou seu desejum. Minutos depois, uma morena, bela, completamente bem vestida, desce às escadas.
- Nunca vou entender a rapidez com a qual se arruma, Victoria. Quando eu crescer, quero ser como você. Senta aqui, vai. - Indicou-lhe a cadeira da ponta.
Victoria sentara, servindo-se.
- Não tenho que ir produzida ao trabalho, Carina. - Afirmou, dando um generoso gole em seu suco de Laranja.
- Certíssima. Aliás, arrasa de qualquer modo mesmo. - Carina diz em tom de obviedade, lançando uma piscadela para a amiga.
- Vamos, termina aí. Tenho que ir logo, meu dia será longo. - Apressou, enfiando uma torrada na boca, levantando-se em busca da bolsa.
- Nasceu de 7 meses, só pode. - Zombou a loira. - Deixa eu colocar as coisas na pia e guardar o resto. - Ergueu-se, dispondo de boa dose de lentidão para organizar tudo, deixando uma Victoria irritadiça, bufando pelos cantos.
- Vamos, criatura! - Diz, perto da porta. Carina logo vem. - Quer uma carona ou veio de carro? Se veio de carona, me diz que alguém levou teu carro para casa, garota. - Encaminhou-se até o carro, seguindo para o lado do motorista.
- Vim com meu carro, mas relaxa. Não foi dessa vez que a polícia me pegou.
- Maluca do caralho, hein. Mais tarde nos falamos. - Victoria depositou um selinho nos lábios da loira, ação que, para elas, era a coisa mais normal.
Com a despedida devidamente feita, ambas adentraram em seus veículos, rumando por caminhos diferentes.
Victoria seguira para o Studio, à trabalho.
Carina, para casa. Precisava tomar um banho e jogar-se sobre sua cama.
(...)
Durante o dia que se seguiu, como um hit dos anos 90, grudado na mente, a fotógrafa não conseguira desvencilhar-se dos pensamentos em torno da jovem que passara a noite em sua casa, em sua cama. Uma parte de si, dizia que deveria ligar. A outra, a que sequer estava pronta para algo romântico, dizia que era uma furada. Uma furada daquelas gigantescas que, causam dor ao fim. Que movimentam, bruscamente, a vida.
Quando, por fim, o dia de trabalho se encerrou, rumou para casa. Estava decidida a tomar um bom banho, comer algo leve e, falar com a amiga que, ficou uma fera com sua decisão de não ligar para a moça.
E, mesmo dizendo que não, que não entraria em algo romântico, a dúvida ainda martelava em sua cabeça: Ligar ou não? Eis a questão.
Entre pensar demais na jovem e dormir, ter uma boa noite de sono ainda era a melhor opção.
Continua...
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Nosso Prazer [BDSM]
ChickLitAtravés das lentes, Victoria Vilarin captava formas, coisas e pessoas. Sendo uma fotógrafa no apogeu de seus bem vividos 30 anos, possuía uma carreira brilhante no ramo fotográfico. Mas, como nada era 100% como se via, ela mantinha uma outra faceta...