Quando se é uma criança, um pré-adolescente, adolescente, até adulto, aquele conselho de mãe: "não confie em pessoas entranhas" ou "não vá na conversa de estranho" parece uma bobeira; obviamente se evita outrém alheio, com conversas tortas. É enraizado em nós, humanos, principalmente nos desconfiados de "nascença". O que muito se perde no meio do caminho, é a voz cuidadosa desse dito maternal e tão popular, arrebatando os seres racionais para uma maré de "sei o que estou fazendo, sou grande e sei me cuidar". É uma verdade tal dizer? Não, não é. Depois de crescidos, com algum complexo de grandeza, com uma individualidade gritante, o dito caí no esquecimento. Ou, é jogado ao vento propositalmente, erroneamente. Esse eu, se fode. E clama pelo dizer de anos atrás; por qualquer proteção que lhe livre do buraco em que se enfiara.
Lia sabia que estava se enfiando em uma zona de perigo, um campo minado. E, no momento em que sentiu-se completamente jogada a própria sorte, até a própria crença, se maldiz por ignorar àquele conselho, mas, se bendiz por pensar que nada fora em vão.
Ao abrir os olhos, com todos os sentidos confusos, sentira amarras em volta de suas mãos; sua liberdade estava ameaçada. Olhara ao redor, não reconhecera, nem se lembrava de como fora parar ali. Aparentava ser um porão, pouco usado, se levado em conta todas às tralhas que ali continham. Com pouca luminosidade, ficava difícil exergar muito além, a pouca luz que adentrava no ambiente, era a luz da lua que vinha de uma janela pequena ao leste. Pela claridade, era possível saber que era tarde da noite. Porra! Tudo estava fluindo mal.
- Como se sente, boneca? - Uma voz firme, masculina, ressoou em seus tímpanos.
- Não chegue perto, me enojas. - Lia cuspiu às palavras, tentando desvencilhar do toque em seus ombros. - Eu vou gritar.
- Pode gritar, ninguém ouvirá. - Ele riu, deslizando suas mãos para o pescoço da jovem, apertando-o. - Não deveria ter se metido nisso, agora vai pagar. De algum modo, ou, com a própria vida.
- Quem irá cometer tamanha crueldade, tu? - Lia questionou entre-dentes, enquanto o ar começava a ficar escasso, dificultando sua respiração. - Sei... que... bater em mulheres... é um jogo para você...jogo baixo.
- Ele não fará isso, mas eu... bem, poderia o fazer... - A voz feminina surgiu, dando forma à um corpo, parando diante da jovem. Enxotando o cara para longe.
Não fora espantoso reconhecer Jéssica, havia visto a mulher no parque, com aquele menino. Mas, como alguém como ela, com todas suas ações passadas servindo de vigas pesadas, abriria espaço para um novo ser humano, uma nova vida carregada de inocência? Que tipo de amor ela teria para ofertar? Que tipo de mãe ela poderia ser?
- ... mas não irei. - continuou a falar, expressando uma calmaria absurda em sua face. - Sabes... enquanto estava apagada aí, fui até sua nova "morada". Falei com Victoria.
- Você o quê? - Vociferou, tentando, inutilmente, soltar-se.
Jéssica riu, puxando uma cadeira ao lado, sentando de frente para Lia. Então disse:
- Menina, não há espaço para nós duas na vida dela. Quem você acha que ela deve escolher? Eu, mãe da filha dela, ou, você?
- Mãe da filha dela? Que porra de mãe é você? Privou a menina do contato com a outra parte, passou a vida com um agressor; Isa, não têm sido bem tratada por esse homem, pensas que não sei? Eu sei. Lola me contou absolutamente tudo. Essa base familiar é um fiasco...
- CALA A BOCA! - Bradou Jéssica, acertando um tapa estalado na face da jovem. - Não me testa, e nem mencione sobre o que pouco sabe.
- Muito sei. Victoria jamais irá lhe perdoar pelo que fizera com ela; falo da outra parte, de tu e esse verme que chama de marido. Ela pode ficar brava comigo por omitir, mas... sobre tuas sujeiras... ah, são piores do que quaisquer omissões por minha parte.
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Nosso Prazer [BDSM]
ChickLitAtravés das lentes, Victoria Vilarin captava formas, coisas e pessoas. Sendo uma fotógrafa no apogeu de seus bem vividos 30 anos, possuía uma carreira brilhante no ramo fotográfico. Mas, como nada era 100% como se via, ela mantinha uma outra faceta...