"Cegos os olhos, continuarias de qualquer forma presente, surdos os ouvidos, e tua voz seria ainda a minha música, e eu mudo, ainda assim seriam tuas as minhas palavras.
Sem pés, te alcançaria, a arrastar-me como as águas, sem braços, te envolveria, invisível como a aragem, sem sentidos, te sentiria recolhida ao coração como o rumor do oceano nas grutas e nas conchas.
Sem coração, circularias como a côr em meu sangue, e sem corpo, estarias nas formas do pensamento como o perfume no ar.
E eu morto, ainda assim por certo te encontrarias no arbusto que tivesse suas raízes em meu ser, e a flor que desabrochasse murmuraria teu nome."Ela apertara a mão...
E, nesse instante, Vilarin sentiu como se uma corrente elétrica perpassasse tua carne; arrebatando-a numa sensação fora do habitual. Suas mãos, antes firmes, tremularam. Havia sido correspondida?
- Lia... - Chamou, fitando-a como uma mãe atenta aos primeiros passos de um filho; temendo ter sido enganada por seus próprios desejos. - Apertou minha mão, faça novamente.
A jovem, sem vestígios de dúvidas, era a sombra que dava vazão aos desejos da mais velha; "rastejando" aos teus pés numa oferta deleitosa, escutou-a. Apertara a macia pele, colorindo a ponta dos pálidos dedos em um visível tom avermelhado.
Os orbes agitaram-se.
Aos poucos, a menina abria teus olhos para apreciar o mundo novamente.
De repente, como se o trem voltasse aos trilhos, como se a vida voltasse a fazer algum sentido, os orbes cintilaram ao mirar a presença da mais velha. A agonia tomou conta do corpo; ela queria respirar por conta própria.
Em menos tempo ainda, enfermeiras em seus jalecos brancos surgiram rapidamente.
- Peço que se afaste, senhora. - Uma delas pediu docemente. - Se possível, não deixe que as crianças vejam esse processo. Acredito que ver alguém saindo dos tubos seja um tanto quanto nojento.
Vilarin assentiu, caminhando até os pequenos.
- Ela voltou, Tóia? - O menino questionou, apoiando sua mão no ombro da mulher que se pôs agachada diante deles, priavando-os da cena que ocorria logo atrás.
- Acredito que sim, pequeno. - Sorriu.
Por dentro, uma ansiedade eletrizante fazia o sangue correr veloz pelas veias. Apenas queria se aconchegar ao lado da mulher na qual depositou tanto afeto; acariciar seus cabelos e sussurrar: "passou".
E, mesmo que nada tenha passado realmente, cuidaria para que o "trauma" não se alastrasse pelo campo emocional tão intensamente que, pudesse causar possíveis danos prolongados. Catastróficos.
- Vic... - A rouquidão perpassou a carne, atingindo-a em cheio.
Ela, sem pensar, maneou sua cabeça em direção a voz que chamava-lhe. Ergueu-se, caminhando para perto da presença outra vez.
- Daremos mais um tempo para essa interação... - Uma das enfermeiras disse, pousando a mão gentilmente sobre o ombro da fotógrafa. - Voltaremos em breve, precisamos fazer alguns exames.
- Oh, ok. - Vilarin murmurou.
Sua atenção fora tomada pela jovem.
Foram dias e dias imaginando como seria teu despertar; mas, nenhuma projeção elaborada por sua mente seria capaz de descrever o que abraçara teu interior ao tê-la olhando-a de volta. Analogias seriam insuficientes para explicar o que é inexplicável. Isso, somente seria entendido por quem já esteve no lado sombrio da existência, a beira do precipício clamando para que o universo, Deus, as divindades trouxessem de volta aquilo que podeira ser perdido em questão de segundos.
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Nosso Prazer [BDSM]
ChickLitAtravés das lentes, Victoria Vilarin captava formas, coisas e pessoas. Sendo uma fotógrafa no apogeu de seus bem vividos 30 anos, possuía uma carreira brilhante no ramo fotográfico. Mas, como nada era 100% como se via, ela mantinha uma outra faceta...