40- "O tempo não está a nosso favor"

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A dominadora sorriu, um sorriso pequeno; não mentira quando alegou orgulho, essa palavra mediana em tamanho, grande em significado; não era usada com frequência, mas, saltava firme quando sua parceira se saia bem em algo.

Em linhas gerais, não fazia-se necessária a congratulação. Para outras pessoas. Para aquelas que, sequer se importam com o bem-estar da outra parte. Um jogo de impacto, nunca era só um jogo de impacto; ao mínimo toque, por mais sutil que seja, no âmbito psíquico, todo cuidado era pouco; Vênus sabia bem disso. Já presenciara, mais de uma vez, submissas cairem em subspace, ou, seguir por longo período em um subdrop.

Isso, nem de longe, seria motivo para orgulho. Subspace e Subdrop, não era um lugar lindo; não era como estar anestesiado após tantos opióides; como flutuar em nuvens de algodão(elas sequer são feitas disso) não era como passar por um longo período inconsciente e, de repente, despertar; também, não era como passar pelo alívio, pela leveza, pelo vale da transparência e da paz. Ambos os processos, podiam ser densos e pesados. Danosos. Não era próximo ao efeito do álcool, tampouco, de se estar chapado.

Chegar a esse estado, não daria medalhas, não vestiria o bottom ou Top, de uma carcaça melhor; chegar a esse estado, não era o objetivo, nunca seria. O objetivo era alcançar máximo prazer, não aprisionar; era fazer sentir leve e completo, não se martirizar. Expressar e vivenciar a sexualidade, nunca seria errado; meta, não seria questionar se foi algo certo ou errado, era terminar com a certeza de que, tal lugar lhe trouxe o prazer, tal lugar, era seguro, era para onde pretendia voltar.

Olhando para Angel, tão profundamente, Vênus sabia que não chegou ao limite, sabia que não a "violou" de forma densa e danosa; mas, sua preocupação, ainda assim, fazia-se intensa. Olhando-a, via abaixo de si, uma pessoa frágil, vulnerável; alguém que, merecia todo cuidado, ainda mais agora; e, sem pensar, era isso que iria oferecer.

- Angel, querida, consegue mover-se?

Angel murmurou, negativamente. A verdade era: estava cansada; como uma criança após horas e horas de brincadeira. Retornar aos jogos, mesmo que, de forma inesperada, fora como regressar para casa. A sensação era de, ter o prato preferido posto à mesa em uma visita à casa da matriarca, como provar, em êxtase, a sobremesa preferida. Sentia tudo. Sentia o ambiente a sua volta, a presença marcante da dominadora próxima a si, zelando apenas com um olhar, pelo seu bem. Sentia cada fibra do corpo, da alma, só... não queria e, não conseguia se desligar da espiral em que entrara. Reconhece: um pouco mais, levaria sua persona à borda; àquela borda em que se emite dentro da outra parte um sinal de alerta. Mas, sequer ocorreu.

- Irei buscar água e algo para te alimentar, ok? - Vênus disse, colocando-se de pé.

- N-não, fica aqui. - Angel respondeu em um fio de voz, pousando sua mão gélida na perna de Vênus.

- Tens certeza, não prefere comer e beber algo? - Indagou, procurando na expressão da submissa, algum indicativo; ela parecia imersa no nada, negando novamente com um murmúrio. - Tudo bem, ficarei.

Como uma mãe que acalenta o filho durante a madrugada em que o pequeno ser se amedronta, Vênus tirou seus saltos, jogando-os para longe, então, aproximou-se do sofá, sentando-se no piso gélido; trazendo com facilidade, o corpo da submissa para si, aninhando-a em seus braços.

Ela a olhava, com olhos pequenos, e, nesse momento, Vênus caiu em encanto. Não um encanto intencional, com próprio propósito de admiração, mas, um encanto genuíno. Não sabia, não tinha a mínima noção de como era estar na outra ponta do chicote. Não sentia essa vontade, nunca sentiu na realidade. Mas, isso não a impedia de admirar quem se colocava em tal posição; quem se entregava, tinha a legítima vontade, tesão, para estar ali, submetendo-se.

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