24- Clicks na câmera, toques no corpo

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09:00 horas da manhã, o despertador fazia o seu trabalho de sempre; tocando sem parar no móvel disposto ao lado da cama, parando assim que um tapa forte o atingiu, fazendo com que caísse no chão em um baque estarrecedor.

O barulho foi o suficiente para que Victoria abrisse os olhos de uma vez, bufando irritada ao sentir sua cabeça latejar. Beber era bom, por hora, mas a ressaca que vinha no dia seguinte, sempre seria a pior parte. E como se não bastasse, temia um olhar de pena da sua parceira ao vê-la, não queria que isso ocorresse.

O olhar não viria agora, Lia não estava ali. A mulher sequer precisou tatear a cama em busca do corpo da parceira, já estava acostumada com as saídas fininhas dela... Mas o olhar poderia vir depois e isso não seria bom.

Tentando ignorar seu temor, com muito custo Victoria se sentou na cama, massageando suas têmporas na tentativa falha de sanar sua dor de cabeça, mesmo sabendo que só um comprimido resolveria. Levou uns bons segundos na mesma posição, fazendo os mesmos movimentos, para quê tomasse uma dose imaginária de coragem e levantasse.

Mesmo que a coragem não fosse grande, ainda era algo; por isso em meio a passos arrastados Victoria foi até seu banheiro, se arrependendo no mesmo momento em que fixou seus olhos no espelho. Seus olhos um pouco inchados devido a tanto choro no dia anterior, um curativo em sua testa; estava mesmo um trapo, mas daria um jeito.

Tratou de lavar bem o rosto, deixando com que sua expressão abatida ficasse para trás, nenhum resquício de sofrimento seria visto; nenhuma evidência emocional negativa seria notada. Escovou os dentes, dando um sorriso para si mesma no espelho... estava melhor, sem sombras de dúvidas!

Como se estivesse nova em folha, Victoria vestiu uma camiseta grande na cor preta e saiu porta a fora descendo para o andar de baixo, onde encontrou Lia de costas enquanto fazia algo na cozinha.

A menina estava adorável: com um pijama na cor vinho, os cabelos presos desajeitados em um coque... A visão dela tão confortável, se sentindo em casa, arrancou fácil um sorriso dos lábios de Victoria que sem fazer barulho se aproximou da bancada, sentando-se em uma das banquetas, enquanto mantinha os olhos presos na jovem.

Foi nesse momento, olhando Lia concentrada em algo que percebeu: Ela não foi embora, não iria. Ela queria ficar, então não tinha porque temer seu olhar de "pena".

Victoria não queria assustar, mas no momento em que Lia se virou, foi inevitável o leve susto.

- Eu não queria assustar, desculpe.

Lia mantinha uma das mãos no peito, enquanto colocava a jarra recém feita de suco na bancada, segurando-se para não explodir em um riso pela cara de culpada que a mulher estava fazendo.

- Tudo bem, como se sente?

- Estou bem, só com um pouco de dor de cabeça.

- Você se lembra de tudo? - Lia perguntou um tanto retraída, não tendo qualquer noção da reação que a mulher poderia vir a ter, mas esperançosa de que não viesse a ser algo negativo; tudo o que queria, era ver sua parceira bem.

- Sim, inclusive, obrigada por tudo. Pelo cuidado; por você ter ouvido minha história até o fim sem correr.

- Victoria...

- Deixe eu terminar. - Victoria cortou suavemente, vendo a jovem assentir com a cabeça, dando a volta na bancada até estar sentada ao seu lado, fazendo com que se virasse completamente em sua direção. - Eu contei minha história porque não quero esconder nada de você, não quero algo do meu passado me assombrando ao ponto de nos atrapalhar. Colocar tudo para fora, chorar em seus braços ontem, foi como me desprender de muitas amarras; eu estou melhor, estou me sentindo bem, graças a você em uma parcela enorme. Então, apenas obrigada, obrigada por ficar.

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