52 - Comunicação.

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"Eu tô cansada de esperar
Me encontra naquele lugar
Eu juro que não vai faltar nada pra nós
E, meu Deus, tanta vida tem lá fora
Não me deixa ir agora
Só te peço essa chance de ficar"

Ela andava por um lugar desconhecido, em sua mão direita um cigarro era prensado entre o médio e o indicador; na outra, sua antiga Kodac era balançada levemente.

Olhava ao entorno, não se via nada de magnífico. Somente a fumaça brincava pelos ares, correndo assim que lhe saltavam a boca. Mas, era comum.

Traga-se, para logo após, solta-la. Seja pelas narinas ou lábios.

- Estou sentindo sua presença, consegue me ouvir? - A voz irrompeu o silêncio.

O timbre que ressoava, trazendo um pulsar forte ao coração, lhe era familiar. Como àquele cheirinho de bolo preparado pela matriarca, como o cheiro de um perfume inconfundível. Como a volta para casa.

- Anjo... - Respondeu-lhe. - Claro que consigo te ouvir.

- Em que direção se encontra? - Questionou, causando confusão na outra.

- Bem, não sei dizer. Estou em um lugar sem nexo. Tudo é branco. Irreal, penso eu. Sequer sei como cheguei aqui. - Disse, enquanto caminhava à lugar nenhum.

- Siga o som da minha voz, Vic.

- Eu estou sonhando novamente, não é?

- Está. - A jovem murmurou. - Disseram que estou morrendo. É verdade?

A mais velha seguiu a sonoridade da voz, parando rente à uma vidraça. Estranhamente, nada podia-se ver do outro lado. Se aproximou, tocou-a. Nada.

- Não. - Falou. - Não está morrendo, anjo.

- Mas... me chama de anjo como se aceitasse minha partida. - Entristeceu-se.

- NÃO! - Contrapôs, jogando seu cigarro para longe. - Estou tentando ser positiva. Só isso.

- Sinto medo. - Ela confinou. - Não quero desaparecer; me tornar uma fotografia do seu passado. Tenho lutado, mas, corro em círculos e nehuma saída se mostra. Estou me cansando. Diga que veio me buscar.

- Como poderia o fazer? - Um frazir de cenho externava sua aflição. - Estamos distantes, e, se isso é mesmo um sonho, em breve acordarei. Sozinha. Sofrendo pela incapacidade de fazer algo por ti.

- Me chame, estarei aqui. Fale comigo, busque minha energia, eu te sinto. Eu te ouço. Mas, em hipótese alguma, silencie. Não quero questionar, fraquejar, pensar na ideia que a vida será mesmo melhor sem mim...

[...]

As pálpebras se abriram, um suspiro pesado escapara; olhando para frente, um triste sorriso formou-se nos lábios. Um novo dia, uma nova manhã em que a fotógrafa estava ao lado da jovem.

- Está lutando aí, não é? - Perguntou, sabendo que a resposta seria muda. - Receio estar em delírio. Ouvindo em sonho, aquilo que minha mente prega durante noites a fio. Um novo dia se inicia, e, roboticamente, sigo os mesmo caminhos; traçando rotas imaginárias em que, ao caminhar até aqui, verei você sem esses aparelhos rodeando o corpo, sem precisar da ajuda deles para respirar. Se aparenta ser sempre uma despedida, acredite, não é. Eu... Só... Tenho tentado manter a esperança. Vêm sendo complicado, exaustivo; vejo pessoas sorrindo e isso me lembra teu riso, ao tentar olhar uma paisagem que daria uma bela captura, imagino que poderia fazer um belo quadro; ao viver, me dói saber que luta pela vida. Isso não irá passar, Lia. Até que volte, essa agonia permanecerá aqui. Você pode voltar? Por ti, por mim, por nós?

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