51 - A esperança é, realmente, a última que morre?

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"O que sou pra você? Ela pergunta.
Eu coloco as mãos em seu peito e sussurro: Você é toda esperança que eu já tive na forma humana."

O encosto da cadeira em nada era confortável. Assim como a posição que Vilarin estava; com seu corpo jogado para trás, uma das mãos agarrada a da jovem inconsciente, encontrava-se em um cochilo.

Em dias, esse foi o único momento em que sua mente fora capaz de desligar-se. A respiração tranquila denotava que sonhos ruins ainda não rondavam-na. Sendo audível, somente o bipar das máquinas. Nada além.

Passaram-se alguns minutos; imperceptíveis aos sentidos. Um tocar no ombro despertava a mulher que dormia desajeitada.

- Sinto em informar, mas o horário de visitas acabou. - Disse a enfermeira com sua voz doce.

Coçando as pálpebras com a mão livre, Vilarin suspirou pesadamente; seu corpo estava cansado, a pontada em sua cabeça mostrava que seria necessário um punhado de horas em sono profundo para compensar tantas outras em puro tormento.

- Tudo bem. - Falou por fim. - É... Posso me despedir ao menos? Coisa rápida.

- Claro. - Respondeu a enfermeira, afastando-se.

Movendo-se na direção de Lia, Victoria que ainda mantinha sua palma junto a dela, umedeceu os lábios, pondo-se a falar:

- Eu não queria ir; deixar você para trás causa um desconforto gigantesco, Lia. Mas, peço que não se preocupe, ok? Eu voltarei. Só aceito sair daqui quando finalmente abrir seus olhos e reagir. Abandona-la jamais será uma opção. Jamais. - Enfatizou a última palavra, inclinando-se até alcançar a bochecha da jovem, onde depositou um casto beijo. - A vejo em breve, minha menina.

Vilarin ergueu-se, e, sem olhar para trás, pôs-se a caminhar para fora do quarto. Seus olhos, de um instante para o outro, molharam. Inundaram-se. Enquanto dava passadas largas para chegar ao elevador, sentia os pingos caírem sobre suas vestes. Enxuga-los era inútil. A cada lágrima que se secava, três ou mais corriam pelas maçãs do rosto.

Quanta dor...

Quantas lágrimas são necessárias para saciar um sofrimento?

A mulher não saberia dizer. As lágrimas que despencavam pelos orbes afogavam-na em uma grande tristeza, esquecendo-se de aliviar o peso que se instaura cada vez mais no íntimo sôfrego. Dizem que o pranto alivia. Mas, e quando o choro afoga? Faz-se o quê?

                                  (...)

"Será um adeus. Feche os olhos, negue-se a ver isso. Doerá dilacerar enquanto me olhas assim. Tornemos isso menos horroroso." - A voz chorosa murmurou, invadindo novamente, um sono conturbado.

Impulsionando-se bruscamente à frente, Victoria despertou ao chamado do motorista; suor escorria pelas têmporas, a boca estava seca. Seu peito subia e descia agressivamente causando-lhe uma dor lascinante.

Outra vez. Tormento.

- Tudo bem, senhorita? - Perguntou ele, olhando-a pelo pequeno visor.

- Como eu...? - Questionou confusa. - Eu não me lembro de entrar nesse táxi.

- Seu ponto de partida fora uma padaria aos arredores do Hospital Albert Einstein. Lembra?

- Ah, claro. - Mentiu. A verdade é que sua mente não se recordava; a última imagem que a mesma deu-se o trabalho de gravar, era a imagem da jovem deitada, imóvel, respirando com a ajuda de aparelhos. - Ok, desço aqui. Agradecida, tenha um ótimo dia. Não. Uma ótima tarde, noite; tanto faz.

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