- Eu não voltei para salvar você. Muito menos para preencher esse vazio que lhe adentra o corpo. - A rigidez na fala, a expressão obscura, o olhar indiferente. Em que momento as coisas deixaram sua naturalidade e leveza para trás? - A culpa disso, em parte, é minha. Mas, como teve a capacidade de tomar meus sentidos de tal forma a me deixar enredar nessa sua história; eu não procurava por uma ligação profunda. Por uma mulher que acordasse ao meu lado todos os dias. Era para ser algo pautado. E, olha na merda em que nos enfiamos.
Vilarin avançou dois passos à frente, suas mãos enlaçaram-se com as da jovem. Como estavam frias. Como se houvessem petrificado-se, externando um frieza descabida. Seus olhos buscavam os dela, encontrando nada além de escuridão nos globos oculares. Sua alma era um lugar restrito. Difícil acesso. A mais detalhada análise não traria seus encantos à borda.
- Se eu soubesse que estava infiltrando-se em solo desconhecido, acha mesmo que eu deixaria seguir adiante? - Indagou retoricamente. - Não menti. Em momento algum. Pelo contrário, contei sobre meu passado; arranquei um curativo que esteve intocado por anos, apenas para mostrar minhas feridas, mostrar aquilo que mais me doía. Eu confiei em você. A deixei chegar perto, tão perto que poderíamos ter virado um ser uno. E, nem estou falando de encontro carnal. Preste atenção no que diz, está tão equivocada em suas palavras...
- Não há equívoco. Somos errantes. Eu nunca lidei com algo assim antes, entende? Eu nunca fui longe tão somente para proteger alguém; e, sim, estou a me contradizer. Porra! Eu estou uma bagunça e não sei em que direção seguir.
- Podemos seguir juntas, Lia. - Aproximou-se a testa, unindo-a com a da moça. - Não precisamos tornar as coisas mais difíceis. Acharemos um caminho, sim?
- Me leve para casa?
- Tudo bem, vamos. - Ao mover-se para trás, sua mão fora puxada fortemente, os corpos negavam-se a criar um afastamento. - Vem, vou te levar. - Insistiu.
- Seu coração, Victoria...
Um suspiro pairou no ar. A incredulidade e surpresa banharam-lhe a face. O corpo aconchegou-se no outro, as mãos que tocavam a derme gélida, aqueceu cada espaço de pele. Aos poucos, via-se o semblante doce de Lia. Ela regressava à si, saindo do espaço vago e cheio de perturbações em que se acomodara.
- Ele está aberto para que se acomode, menina. Não sei que nome ele dará para tua presença, nem sei que sentimento ele atribuirá à ti, mas será um privilégio e tanto descobrir a decisão dele. - Victoria murmurou entre suas bocas. O alito morno, com cheiro frutífero, soprou levemente em seus lábios. Era um convide.
Selaram-se os lábios...
Um gosto ferrozo misturava-se a saliva...
A fotógrafa rapidamente tomou distância.
Novamente, tão forte quanto o primeiro pesadelo; Lia desfazia-se. Dessa vez, em carne viva. Sangue jorrava por sua boca, clavícula, cabeça. Era diabólico seu desintegrar do corpo.
- NÃOOOO! LIAAAAA. - O grito judiou-lhe a garganta. Os orbes marejaram no mesmo instante. Seus joelhos encontraram o piso tingido em vermelho. Um choro copioso, idêntico ao de uma criança em desespero, fazia seu corpo tremelicar sem pausas. Era o medo da perda lhe tomando...
- Filha, acorda.
O sobressalto do corpo. Suor banhava as têmporas. O coração batia desgovernado. Lágrimas caíam pelos orbes.
- Mãe... - A voz saira embargada. - De novo. Eu a vi sangrar. Eu não pude evitar, ela está partindo, deixando-me ao léu. - Suas palavras saíam arrastadas, seu pulmão queimava ao buscar uma respiração ritimada.
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Nosso Prazer [BDSM]
ChickLitAtravés das lentes, Victoria Vilarin captava formas, coisas e pessoas. Sendo uma fotógrafa no apogeu de seus bem vividos 30 anos, possuía uma carreira brilhante no ramo fotográfico. Mas, como nada era 100% como se via, ela mantinha uma outra faceta...