38- Seguindo com o "jogo"

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"Sabe quando você atravessa no meio do tráfego? Você olha a rua e vê um carro chegando, mas sabe que consegue atravessar antes de ele alcançá-lo. Então, apesar de o sinal estar vermelho, você atravessa mesmo assim. E tem sempre uma fração de segundo em que você se vira e vê o carro chegando, e sabe que, se não continuar em movimento, vai ser o fim. É assim que ela se sente agora. Sabe que irá conseguir atravessar. Mas o carro está lá, e, ela parou pra olhar ele se aproximando."
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Uma, duas, três... eram cada vez mais espessas, tomavam "formas", deixavam seus ruídos correrem pelos telhados vizinhos, deixavam-se cair pela grama umidecendo-a. As gotas, assim como muitas situações em nossas vidas, desciam desenfreadas, porém, alegres; era o curso natural, chegara a hora de caírem, ao fim da chuva torrencial, se revestiriam de secura, algo sem "vida".

Trajando uma camiseta grande, essa que, pegara da parceira, Angel encontrava-se apreciativa, olhando fixamente o espetáculo: as gotas da chuva bailavam na grama esverdeada, murmuravam ao ir de encontro a água da piscina, silenciavam-se. Vinham novas, fazendo tudo outra vez.

Era bom, o som, o cheiro de terra molhada. Apenas isso, era mais do que suficiente para tranquiliza-la. Não sentia-se angustiada, sentia-se em casa. Acordar, levantar, preparar o café, esperar sua Dona acordar, eram coisas que faziam-na sentir-se bem, revigorada. Mesmo que, ao encara-la de perto, com olhos repletos de plenitude, uma certa inocência, algo gritasse dentro de si, denotando que tudo poderia ser uma grande besteira.

Não poderia ser uma besteira, não era. Besteira, em seu sentido mais literal da palavra, foi o que a ex da parceira fez ao vir à casa. Isso, de longe, fora uma grande besteira, uma grande tolice; de certo, pensou que poderia olhar para uma cicatriz, toca-la com sutileza, e, não fazê-la doer. Não doeu, abriu o machucado outra vez, dilacerou. E, não foi em um órgão qualquer, foi naquele que palpita, que ao invés de carregar as mais belas sensações vividas, carrega muitas mágoas e feridas. Tocou o coração, com lâminas afiadas que, foram habilmente lançadas em forma de palavras. É algo, há algo. Se não houver, a jovem acabara de criar esse algo...

Mas, por hora, o assombramento, desespero, medo, não se faziam presente. Sofrer por antecipação, morrer antes do tiro, sequer era uma opção.

Suspirando, deixando com que o "cheiro" bom de chuva invadisse suas narinas, Angel voltou-se para dentro da casa, indo em direção à mesa que havia posto, sentando-se ao lado da cadeira em que Vênus costumava sentar-se. Cabeça baixa, palmas elevadas. Posição simples. Mas que, para ela, significava muito: entrega, comprometimento, servidão.

Sem problema algum, sem incomodar-se com a dor em suas nádegas que, eram pressionadas pelos calcanhares, passaria minutos esperando. Como de fato o fez, passou incontáveis minutos ali. A dominadora costumava sempre ser pontual na hora do café, mas, dessa vez não. Tardou um pouco. Inquestionável. Afinal, é sua casa, seu reino, não há lugar para esse tipo de questionamento vindo da parte que se submete, certo?

Conforme os passos se aproximavam, mais seu coração se agitava. Sua boca salivando pela visão da mulher logo cedo, suas entranhas se revirando, sua imaginação fluindo. Havia sentido falta disso, muita. Quando sentiu a presença ao lado, foi impossível não olhar de soslaio. A mulher estava com as pernas exposta, seus pés, repousavam lindamente em um salto.

- Bom dia, senhorita. - Saudou Vênus, pousando sua mão direita no topo da cabeça de sua submissa.

- Bom dia, Senhora.

Vênus sorriu, um sorriso comedido, repuxado pelo canto de boca. Então, deixando com que o som do salto fino ressoasse pelo piso, direcionou-se ao seu assento, mirando a submissa ao lado. Então disse glacialmente:

Nosso Prazer [BDSM]Onde histórias criam vida. Descubra agora