Capítulo 6

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Érico ☠️

Encarei ela serinho, esperando que a mesma risse e dissesse que era mentira, o que não aconteceu.

Passei a mão no meu rosto com força. Porra, eu tô muito fodido.

Tayla: Escutou? - cruzou os braços.

Érico: Sim, caralho. Não sou surdo. - revirou os olhos.

Tayla: Como vai ser agora?

Érico: Como assim?

Tayla: Como assim? - me imitou e fechei a cara. - Quero saber como que vai ser o bagulho agora daqui pra frente, né Érico? Não tenho condições de criar uma criança sozinha, ainda mais sendo de menor e não tendo teto pra ficar debaixo. Não tenho grana pra bancar tudo isso não porra.

Érico: Se vira.

Tayla: Como é? - me olhou sem acreditar. - Não é possível.

Érico: É isso mermo, se vira. Da teus pulos, nega.

Tô pegando a mina não nem dois meses e já veio pro meu lado cheia de conversinha dizendo que tá grávida? Meu pau!

Sei bem o que isso. Essa não é a primeira, nem a última vez que vai acontecer. E na moral, tô cansado dessa história repetida tio.

Tayla: Você é um escroto! - trincou os dentes. - Não é justo eu arcar com tudo sozinha, sendo que você é o culpado de tudo!

Érico: Eu o culpado? Ah garota, vai se foder pra lá. - neguei com a cabeça. - E quem me garante que isso filho é meu? Você deve tá fazendo isso tudo por interesse, e tá aí fazendo esse showzinho de merda.

Tayla: Acha que isso é drama? - assenti.

Érico: Acho, e daqueles bem sem graça.

Tayla: Pois está enganado! Tudo que eu menos queria era está aqui grávida com apenas quinze anos! Não queria ter sido expulsa, muito menos está morando de favor na casa de uma amiga. Você já se sentiu deslocada? Desconfortável por está atrapalhando a vida de uma família? É assim que me sinto! E a propósito, nem queria vir aqui falar contigo. Mas não vi outra saída. Você é o pai, você fez e nós temos que arcar com as consequências agora!

Érico: Nós não, fia. Me bota fora dessa. - negou com a cabeça. - Não achou bom sentar em mim? Não tava pedindo por mais?

Tayla: Seu nojento. - descruzou os braços. - Foi você que não quis usar camisinha!

Érico: Existe remédio pra que?

Tayla: Eu falei que não tinha dinheiro! Porque era isso ou eu passava fome.

Érico: Existe uma solução pra isso tudo. - falei de um tempo depois. - Tira o feto. - me olhou incrédula. - Seria melhor para nós dois.

Tayla: Eu não ouvi isso. - fechou os olhos e passou a língua nos lábios. - Posso não ter dinheiro, muito menos ter casa, mas aborto nunca passou pela minha cabeça. E não vou fazer isso, só porque acha que é mais fácil. E sabe de uma coisa? Não preciso de você. Vou criar esse filho sozinha, custe o que custar.

Érico: Bom, dei minha sugestão. Se prefere assim, que seja. - dei de ombros. - Mas depois não venha arrastando assinha pro meu lado não, porque tudo o que menos verá, é a cor do meu dinheiro.

Tayla: Não sabe o alívio que é escutar isso! - sorriu sarcástica. - Agora, estou dando graças a Deus que meu filho não vai ter um pai escroto como você. E se depender de mim, você nunca vai olhar na cara dele ou dela. - se aproximou mais de mim e me deu um tapa.

Érico: Ficou maluca, tio? - perguntei sério. - Tá querendo levar um tiro na cara, sua puta?

Tayla: Nunca mais olhe na minha cara! - se virou e saiu pisando fundo.

Passei a mão no rosto onde ela bateu. É pequeninha mas tem força pra caralho! Bufei ao ver o Léo me olhando feio.

Leonardo acha que só porque é inteligente e faz faculdade acha que quer dar uma de fodão pra cima de mim. Ah, vai se foder.

Me livrei dele rápido e subi pro alto do morro. Vulgo, meu lugarzinho de paz. Fui pra mais longe possível do pessoal que tava ali e me sentei no chão acendendo um verdinho.

Só queria paz.

•••••

Entrei em casa e fechei a porta. Não ouvi nenhum barulho na casa, o que significava que tava sozinho. Menos mal.

Fui em direção as escadas, para subir pro meu quarto, quando ouço a voz do coroa, que brotou do chão, me chamar. Me virei pra ele, que me olhava feio.

Érico: Qual foi? - perguntei sem paciência.

RK: O que porra você pensa que tá fazendo da vida? - encarei sem entender. - Não me olha assim, você sabe muito bem o que é. - se aproximou em passos lentos de mim. - O que tu tem na cabeça, Érico?

Érico: Não tô entendendo nada, coroa. - ele desviou o olhar do meu, passando a mão no rosto.

RK: Não sabe? Então, quer dizer que não vai saber dizer o motivo da boca que tu toma conta não dá muito lucro? Não vai saber falar, o porque os crias tão vendendo as porras abaixo do preço? - gritou. - Tu, além de tá nesse corre errado, ainda faz tudo ao contrário. Tá com o juízo no cu, carai?

Érico: Eu não sei do que você tá falando! - falei alto. - Se tivesse, falaria mermo. Mas eu juro pai, que não sei! - bufou. - Papo reto, coroa.

RK: Some da minha frente, Érico, some.

Érico: Não acredita em mim, não é? - ri sarcástico. - O senhor nunca acreditou, e acho que nunca vai. Posso ter vacilado em outros bagulho, mas no trabalho não! E não sei o que porra significa essas quedas aí, eu juro.

RK: Sai daqui, caralho. A gente conversa depois. - suspirei fundo.

Minha relação com meu pai sempre foi meio conturbada. Quando eu era pivete, era foda pá carai. RK me levava pra jogar bola no campinho, me levava pro alto do morro pra soltar pipa.

Depois que cresci e decidi entrar pro tráfico, o bagulho mudou da água pro lixo. Não sei o que porra foi, mas acho que é porque ele queria um futuro melhor pra mim. Ele queria que eu fosse igual ao Léo.

Mas não deu certo isso. Só não larguei a escola pra não dar mais treta com os coroas, mas isso não é pra mim. Nunca foi.

Minha mãe gostou menos ainda que meu pai, mas não deu. O crime, além de ser um caminho mais fácil, sinto que é o meu lugar. Nasci no meio disso, nasci pra isso e só saio daqui em um saco preto.

Virei de costas pro meu pai e subi as escadas pisando fundo.

Não aguento mais esse caralho. Posso até ser errado, e os caralho a quatro mas o trabalho pra mim é coisa séria!

Não vacilo nisso não pivete. Tito me alertou muito que se eu pisasse na bola um dia, tomava no cu bonito.

E tudo que menos quero, é problema com ele.

Entrei no meu quarto e bati a porta com força. Entrei no banheiro, tomei um banho pra relaxar. Me enxuguei, e vesti uma roupa.

Peguei meus bagulho, descendo as escadas e sai de casa, fui descendo o morro de moto e passei pela barreira sem nem olhar para os vapor.

Corri em alta velocidade, desviando dos carros. Subi o morro, e parei em frente a goma dela.

Bati com força na porta, que tempo depois foi aberta.

Juliana: Érico? Tá fazendo o que aqui?

Érico: Preciso me distrair. - suspirei.

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