Capítulo 68

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Lívia 🌺

Meu corpo todo doía. Sentia uma ardência forte no braço e outra na coxa esquerda. Minha cabeça também estava doendo muito.

Não consegui abrir meu olhos. O medo de imaginar o que podem fazer comigo, com meu filho e com meu irmão é enorme. Eu não sei quem são, de onde vem ou do que são capazes, só tenho a certeza de que bons não são.

Queria que tudo não passasse de um pesadelo. Que quando eu abrisse meus olhos, iria ver o Rael, dizendo que foi só um sonho ruim e que estava tudo bem.

Senti meu nariz arder e as lágrimas descerem. Tinha certeza de que não era isso que ia acontecer, não tinha nem a certeza de ainda veria o Rael.

Leonardo: Lívia. - escutei ele me chamar. Sua voz era trêmula, triste e baixa. - Acorda.

Foi aí que consegui abrir meus olhos. Devagar fui me acostumando com a claridade. Eu estava deitada em um colchão e o Léo estava ao meu lado sentado no chão.

Era um quarto grande onde estávamos, mas escuro. Não tinha luz, nem janela. A porta era pequena e estava trancada.

A perna do estava sangrando também, acredito que tenham atirado nele. Tentei ficar sentada, mas estava sem forças.

Leonardo: Não faz muito esforço. - pediu e eu assenti. - Como foi que te pegaram?

Uma chama de lembranças se acenderam na minha mente. Eu estava bem, ao lado da minha mãe e da minha tia, depois já não estava mais.

Lívia: Estávamos na casa do tio Renan. - falei com dificuldade. Minha garganta estava seca, precisava de água. - Estava tudo bem, até começar a invasão no morro. Tio Renan e o nosso pai, tiveram que sair pra comandar. Eles invadiram a casa e destruíram tudo até nos achar, Léo. Foi... horrível. Eles... atiraram na mãe. - falei com uma voz de choro. - E me pegaram. Tia Lua tentou impedir, mas eles foram pra cima dela também e... fizeram ela desmaiar. Eu tô com medo, Léo. - lágrimas desceram no meu rosto. - E... se acontecer alguma coisa comigo? Léo... meu filho....

Leonardo: Não vai acontecer nada, Lívia. Vão vir nos buscar. Vamos ficar bem! Se acalma. Você precisa ser forte, seu filho precisa mais do que nunca de você, eu preciso de você, minha irmã. Acha que o Rael, do jeito que é louco por você, vai te deixar aqui?

Lívia: Não. - funguei o nariz.

Leonardo: Lógico que não! Tenta ficar bem, descansa.

Respeitei fundo e tentei me acalmar. O meu irmão está certo, eu tenho que ser forte, por mim e pelo meu bebê. O Rael não me deixaria aqui, nunca. Ele também já passou por uma situação dessas e deve imaginar como é ruim.

Acredito que já faz um tempo que estávamos aqui e até agora ninguém apareceu. Nem para nos dar água ou comida, nem mesmo para falar conosco.

Com o tempo, por conta das lágrimas, meus olhos foram pesando. Tentei deixar eles abertos e não consegui. Apaguei tão rápido e sem perceber.

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Eu estava em um campo lindo, cheio de flores das que eu mais gostava. Cheirei algumas delas e sorria lembrando da minha infância.

Minha avó Solange, costumava plantar flores comigo e todos os finais de semana ela aparecia com uma muda diferente. Peguei gosto e acabei me apaixonando por algumas.

Era boa a paz e a calmaria que elas nos trazia. Dizem que o cachorro é o melhor amigo do homem, para mim eram as plantas. Eu amava e ainda amo plantas elas e amo o cheiro.

Crias da FavelaOnde histórias criam vida. Descubra agora