Capítulo 25

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Kiara 🌟

Miguel se sentou ao meu lado e me abraçou forte. Não consegui retribuir o abraço, pois estava sem forças.

Enzo chorava ao meu lado e o Bernardo estava tentando acalmá-lo, mas ele não se controlava.

Tudo ao meu redor estava em câmera lenta. Nada estava fazendo o menor sentido e, de repente, momentos e lembranças vividas ao lado do meu pai vieram a tona.

Toda a minha infância foi baseada no amor, cumplicidade e união minha e dos meus pais. Fui filha única por quinze anos, confesso que amava receber todo carinho e a atenção deles, mas depois do Enzo, tudo pareceu fazer sentido.

Meu pai foi o que mais amou a chegada do meu irmão, já que ele sempre quis um casal de filhos. Fez até tatuagens com nossos nomes.

Estava indo tudo tão bem. Nós estávamos planejando morar em São Paulo, com a família do meu pai. Viemos aqui somente para pegar algumas coisas nossas, íamos contar isso logo para todos.

Não sabia o porque de estar lembrando do meu pai e o porque de tá sentindo um vazio enorme no meu peito. Não sabia, mas desconfiava. E não queria acreditar, não era possível.

Miguel: Kiara, ei. - alisou meus cabelos. - Tenta ficar relaxada, você tá tremendo muito.

Não conseguia responder, era como se eu tivesse perdido o controle do meu corpo. Apenas ouvia e não reagia. Era como se eu estivesse anestesiada, como se estivesse em outro mundo.

Um mundo onde nada acontecia com meu pai.

Miguel: Kia? - colocou as mãos em meu rosto e o virou para encará-lo. - O que tá acontecendo? - perguntou, enxuguando as lagrimas do meu rosto suavemente.

Seu toque me deixou um pouco mais calma, mas ainda me sentia estranha. O vazio aumentava e não conseguia sair do transe.

Miguel: Fica calma. - sussurrou. - Eu tô aqui. - me abraçou novamente. - Está tudo bem.

Não, não estava nada bem. E uma coisa me dizia que não ia ficar por muito tempo.

••••••••

Já fazia algumas horas que estávamos ainda aqui no mesmo lugar. Enzo, mesmo em meio aos barulhos dos tiros, dormia ao lado do Bernardo.
Eu ainda estava nos braços do Miguel, era o único jeito que conseguia ficar mais relaxada.

Miguel sempre foi bem atenciso e preocupado comigo. Somos amigos desde que me entendo por gente e quando ele precisou sempre o ajudei e vise e versa.

Por isso me sentia melhor ao seu lado. Seu abraço era uma espécie de abrigo para mim. O abrigo no qual não estava mais querendo sair.

Quando percebi que meu sentimento por ele ia além de amizade, me afastei. Sabia que ele não sentia o mesmo que eu e não queria me magoar. O melhor que fiz foi me afastar, era o que achava, mas ainda sim habitava em mim um sentimento, que jamais seria correspondido.

Os barulhos dos tiros foram diminuindo e escutei o celular do Miguel tocar no mesmo instante. Me afastei um pouco dele, para que pudesse atender.

Miguel: Marcos, você tá bem? - perguntou assim que atendeu. - Não, não vi. - respondeu. - Tô em uma das casa do coroa com ele, Kiara e Enzo. - falou. - Pura que pariu. - falou baixo. - Não brinca com isso.... Tá, tá, eu tô indo aí. Fé! - desligou o celular e me olhou preocupado e ao mesmo tempo com pena.

Engoli o seco já entendendo.

Kiara: É o meu pai não, é? - perguntei com lágrimas nos olhos e ele assentiu de leve. - Não... fala que é mentira. Fala que meu pai tá bem e que... que ele tá vivo.

Crias da FavelaOnde histórias criam vida. Descubra agora