Alan 🍁
Parei minha moto em frente de casa e desci. Abri a porta de casa, tirei minha camisa e joguei no sofá. Calor da porra.
Fui direto para o meu quarto e tomei um banho gelado. Liguei o ar condicionado do meu quanto quando sai do banheiro e vesti uma cueca e uma bermuda. Me deitei na cama e liguei a tv.
Menor: Desce, eu e sua mãe queremos conversar com você e sua irmã. - abriu a porta do meu quarto e já foi logo falando.
Alan: Conversar o que? O que aconteceu? - levantei a sobrancelha.
Já achei que era problema. Tenho medo dessas conversas dos meus pais comigo e com a Íris. Sempre é bagunça.
Ele negou com a cabeça e fiquei mais tranquilo, já tava de saco cheio de problema. Queria paz, pelo menos por um tempo.
Menor: Se apressa ai, folgado. - saiu.
Me levantei calçei um chinelo e sai do quarto, dando de cara com a minha irmã com uma expressão preocupada.
Alan: Faz ideia do que é?
Íris: Nenhuma. - suspirou. - Mas a coisa é séria. Essas conversas dos dois sempre são e pela cara do papai, não é coisa boa.
Alan: Relaxa, não deve ser nada demais. - abracei ela de lado e descemos juntos as escadas.
Minha mãe estava sentada no sofá com uma cara de choro e meu pai tava em pé, de braços cruzados e encarando uma foto de nós quatro.
Íris: Mãe? O que foi? - se sentou perto dela.
Minha mãe olhou para minha irmã, pra mim, para o meu pai e começou a chorar. Íris abraçou ela e meu pai coçou a cabeça.
Alan: Vocês vão contar o que tá rolando ou vamos ter que esperar um telefonema pra saber quem morreu? - perguntei já puto.
Tava tudo muito estranho para não ter acontecido nada. Os dois estavam agindo estranho. A única coisa que poderia pensar era em coisa ruim.
Menor: Ninguém morreu, moleque. - deixou de encarar nossa foto e passou a me encarar.
Alan: Minha mãe tá se acabando no choro, você tá agindo mais estranho que o normal. O que eu poderia pensar? - meu pai suspirou e se sentou no outro sofá.
Menor: Nós vamos nos separar.
Foram minutos em silêncio desde que meu pai falou isso. Só ouvíamos apenas o fungado da minha mãe.
Não estava acreditando no tinha escutado. Desde menor, nunca ouvi meus pais brigarem sério, papo reto. As brigas que tinham na minha frente e da Íris, era apenas zoeira, ou por coisa boba.
Nunca achei que isso aconteceria. Meu pai é doido pela minha mãe, assim como ela por ele. Os dois sempre prioziram a felicidade.
Alan: Porque?
Menor: Pergunta a sua mãe. Foi ela quem quis isso. - se levantou, pegou a chave da moto e saiu de casa.
Olhei para minha mãe, que já estava mais calma e agora respirava fundo.
Íris: Porque isso agora?
Ana: Tenho meus motivos, filha.
Alan: Mas temos o direito de saber quais são esses motivos. - encarei ela. - Somos seus filhos e de uma forma ou de outra essa separação de vocês nos afeta também.
Ana: Alan... - engoliu o seco. - Eu não me sinto mais feliz aqui. Não nessa casa, aqui vivi os melhores momentos da minha vida, foi aqui que criei vocês dois desde que nasceram. É esse morro. Depois de tudo que aconteceu com a Aly e o Real, eu não me sinto mais bem aqui. E tenho medo de que possa acontecer algo com vocês...
Alan: Acha que se você for embora nós dois vamos com você? - neguei com a cabeça.
Ana: Sim... vocês dois viriam comigo. Vamos recomeçar uma vida nova longe... longe daqui. - sorriu pequeno.
Alan: Mãe, te respeito, te amo e admiro a mulher que você é, mas daqui eu não vou sair nunca! Aqui é minha casa, nasci e fui criado aqui por você e pelo meu pai e a senhora sempre soube o risco que é morar em uma favela e o risco que corremos por ter escolhido essa vida do crime. Não adianta mais chorar por isso, o destino já tá feito. Já está traçado. Só saio daqui no saco preto.
Ela negou com a cabeça e voltou a chorar.
Peguei a minha camisa que deixei no sofá e sai de casa.
Alguém deve ter drogado a minha mãe. Puta que pariu, ela nasceu aqui também, porra. Sempre morou aqui, é cria da favela, formou uma família aqui e agora vem com essas esses papo torto pra cima de nós.
Meu papo já dei, não vou sair nunca daqui. Aqui é o meu lar.
••••••••••
Sentei na calçada da casa do Tito e soltei fumaça.
Rael: A tia Ana tá com essas noia mesmo? - balancei a cabeça confirmando. - Meu pai comentou que mandou um papo sério pra ela. Disse que não tinha porque ela invertar essas mentiras se queria mesmo só se separar do Menor. E ela disse que não era mentira, tava falando sério.
Alan: Eu não consigo entender. Ela nasceu aqui, sempre foi chegada do Tito e dos outros, sabe o risco de tudo e agora tá com isso. - neguei com a cabeça.
Rael: O que vai fazer?
Alan: Eu? - balançou a cabeça. - Porra nenhuma. Vou ficar na minha, já falei pra ela o que tinha que falar. Não sei da Íris, se vai com ela ou não, mas eu não vou. - soltei mais fumaça.
Ficamos um tempo ali em silêncio e logo vi o Léo subir o morro cambaleando. O Érico apareceu na esquina e correu igual foguete.
Os dois ficaram frente a frente e sem esperar que Léo falasse alguma coisa, o Érico deu um soco nele.
Me levantei na mesma hora com o Rael e corremos na direção dos dois. Érico já tinha destruído mais dois socos no Léo, que já estava caído no chão com a boca sangrando.
Alan: Caralho, Érico, tá maluco porra? - empurrei ele pra longe.
Leonardo: Deixa ele... eu mereço... bate mais, bate mais. - falou fico embolado.
Rael ajudou o Léo a levantar. Ele tava bêbado que só a porra. Parece que ficou a noite toda em claro bebendo e chorando.
Rael: O que aconteceu contigo, Léo? - colocou ele sentando na calçada da casa do BN.
Leonardo: Eu.... não... sei. - começou a chorar.
Érico: Não sabe? Você simplesmente traiu a Juliana na cara dela e agora ela tá no hospital. - bufou de raiva. - Seu puto.
Leonardo: Hos.... o que? Porque? Quero ir lá. - tentou se levantar.
Rael: Você não vai a lugar nenhum, tá bêbado demais pra isso. - colocou ele sentando de novo.
BN: Mais que porra é essa, Leonardo? - abriu a porta da casa. - Quem te bateu?
Érico: Eu. - BN olhou pra ele. - Depois você conta para o seu pai, Léo, o que você fez. - disse e saiu descendo o morro.
O BN olhou pra nós e falamos que não estávamos sabendo de nada. Ajudamos o BN a colocar o Léo pra dentro de casa e depois saímos.
Rael: Vai pra onde, maluco? - perguntou, assim que montei na moto.
Alan: Se esse papo for verdade, que a Juliana tá no hospital, a Bia tá sabendo, né. - liguei a moto. - Vou lá fazer uma visita a minha mulher. - ele riu.
Acelerei a moto e desci o morro a todo vapor, em direção ao Vidigal.
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Crias da Favela
Lãng mạnAlemão - Vidigal Dois morros diferentes entre si, mas ao mesmo tempo iguais. Duas gerações cheias de conflitos, mas com muito amor e cumplicidade envolvida. Seus pais viveram grandes emoções e descobriram o amor em meio ao caos. Agora chegou a vez...