Alyssa 🌻
Meu corpo inteiro doía. Tudo.
A luz que vinha de uma janela pequena era a única que tinha, e só iluminava uma pequena parte do quartinho que eu estava.
Eles me torturaram da pior forma possível. Não me machucaram, nem se quer encostaram em mim. Somente me amarraram pra eu não poder fazer nada.
No começo não entendi o que ia acontecer. Mas depois, entraram segurando o Rael, e entendi tudo.
Eles machucaram o Rael de toda forma, e cada coisa que eles faziam, repetiam "É isso que vai acontecer com todos da sua família, sem exceção."
Estava assustada, com muito medo. Isso já faz dois dias e até agora não ouvi nada sobre o meu irmão. Não sabia se estava bem, se estava vivo.
O Rael é forte, eu sei. Mas ele saiu tão frágil dessa sala. Sangrando muito.
Desespero, medo, angústia, nojo, preocupação.
Era tudo que sentia. Um misto de sentimentos, que me sufocava a todo instante.
Ouvi um barulho na porta, e levantei minha cabeça, que estava entre minhas pernas.
A porta foi aberta e entrou uma mulher, com ela havia outra menina.
- O que foi, princesinha? Tá assustada? - riu. - Não precisa ficar. Ninguém aqui vai encostar em você, ordens do seu papai. - se aproximou.
A mulher era ruiva, um pouco alta e tinha olhos claros. A menina, que acompanhava a mulher, tinha as mesmas características, porém o cabelo era preto.
Essa mulher me lembra alguém. Ela lembra minha mãe.
- Tá me reconhecendo, Alyssa? Não? Deixa eu me apresentar, então. Sou Ariane, sua titia. - me encarou. - Esposa do seu tio, Pistola e, infelizmente, irmã da sua mãe. - revirou os olhos. - Vamos, Rebecca, conheça sua prima.
A menina suspirou olhando a mãe de cima a baixo e me lançou um sorriso pequeno.
Ariane: É impressionante o quanto você parece com sua mãe, claro, com os cabelos do Mathias. - riu. - Ainda não sabe o porque está aqui, não é bonitinha? Infelizmente, não posso contar, mas já deve saber que o seu pai quer a cabeça do Tito, e é óbvio que vamos conseguir derrubar vocês. - riu pelo nariz. - Finalmente irei conseguir o que sempre me pertenceu, o cargo de dona da empresa e de brinde, vejo vocês caírem, e o Tito se foder pelo que fez com o meu pai. Você sabia que seu papai Tito, matou seu vovô? - se aproximou mais.
Alyssa: Se ele matou, é porque teve motivos. Minha mãe contou o que o Carlos fez e achei pouco o que meu pai fez. Vocês todos são farinha do mesmo saco. - ela levantou uma sobrancelha. - Querem sempre matar, destruir uma família para se sentirem bem. Nunca estão satisfeitos com porra nenhuma! - falei alto. - Vocês são uns monstros!
Ariane: Como se sua família fosse santa. - ironizou. - Você, Alyssa, mesmo não querendo tem o mesmo sangue que eu correndo em suas veias. Se acha que somos monstros, você também é.
Alyssa: Nunca. Não sou igual a vocês que precisam arruinar, traumatizar, manipular e matar pessoas pra se sentirem mais poderosas. Não sou, nunca fui, e nunca serei assim. - ela riu de novo.
Ariane: Não tente negar suas raízes. - se abaixou, ficando na minha frente. - Seu pai, Mathias...
Alyssa: Ele não é o meu pai! - gritei.
Um barulho de estalo ecoou pelo quarto. Minha mão foi direto para o lugar onde ela havia me batido.
Ariane: É sim! - gritou também. - E não grite comigo, sua vazia! - cuspiu em cima de mim. E se levantou. - Espero mesmo que o Mathias comece logo a te colocar nos eixos, te educando novamente e não permitindo que trate sua tia assim, porque se eu ficar responsável por isso, você vai aprender, custe o que custar, a me tratar com respeito. Então reze, Alyssa, reze para o seu pai não me deixar a frente disso. - me olhou antes de sair.
A menina me olhava com pena e suspirou fundo antes de seguir a mãe.
A porta foi novamente trancada e me encolhi mais ainda, escutando um barulho alto de trovão.
As lágrimas começaram a descer que nem vi. Minutos depois, a chuva começou a cair e, com isso, estava começando a ficar toda molhada por conta das goteiras.
O frio estava grande, a chuva cada vez mais ficando forte, os trovões não paravam e minhas lágrimas ainda desciam.
A angústia no meu peito crescia mais e mais. A vontade de gritar era necessária.
E foi isso que fiz, até ficar sem voz.
•••••••••••
Os trovões já havia parado algum tempo, a chuva estava mais fraca, mas ainda não havia parado.
Depois da visita indesejada da Ariane, ninguém mais veio aqui. Nem mesmo para me dar comida, água, ou uma notícia do Rael.
O tempo estava passando devagar, o amanhã parecia que não chegaria e a incerteza do que estava por vir fazia com que eu me sentisse ainda mais com medo.
Tudo aqui fazia me lembrar daquela droga de pesadelos. E esse cansaço mental estava me esgotando, me deixando mais fraca.
Eu só queria que isso acabasse. Que meu pai, o Renan, entrasse por aquela porta, tirasse eu e meu irmão daqui, nos levando de volta para os braços da minha mãe.
Durante esses dias que estive aqui, esse foi meu único desejo.
•••••••••••
Um estrondo alto, fez com que eu ficasse em alerta.
Barulhos de bombas, chegaram aos meus ouvidos e fechei os olhos desejando que fosse minha família.
De repente, barulhos de tiros começaram e me levantei indo para perto da porta.
Ouvi um burburinho ali fora, acredito que seja dos seguranças que ficavam aqui.
Voltei para onde estava, com um sorriso pequeno no rosto e mais aliviada.
Tinha certeza que o meu pai não iria nos deixar aqui e que iria fazer qualquer coisa para nos tirar daqui.
Fechei meus olhos e pedi pra que tudo ocorresse bem. E que possamos sair sem feridos.
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Crias da Favela
RomantizmAlemão - Vidigal Dois morros diferentes entre si, mas ao mesmo tempo iguais. Duas gerações cheias de conflitos, mas com muito amor e cumplicidade envolvida. Seus pais viveram grandes emoções e descobriram o amor em meio ao caos. Agora chegou a vez...