Capítulo 10

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Miguel 💨

Guilherme tinha o olhar fixo para o corpo do homem. Tio PH e meu pai também não estavam diferentes.

Meu pai havia trazido o corpo do cara que a Bia matou e trouxe também o outro que ela deu uma surra.

Estávamos analisando o cara morto, pra ver se algum de nós o reconhecia, fazia poucos minutos e não estava mais aguentando aquilo.

Suspirei fundo querendo sair logo daqui. O cheiro for de sangue, fazia minha cabeça doer.

Marcos: Tá, já chega. - pegou uma lona, cobrindo o cara. - Já vimos o suficiente.

Vinícius: Não reconheço ele de nenhum lugar. - falou, após sairmos da salinha.

Ptk: Como se desse, né? Bianca deixou o maluco irreconhecível. - ri.

Touro: Tenho que admitir, ela tem uma mira boa pra caralho.

Miguel: Melhor que a minha, porra. - admiti.

E nem estava brincando. A mina tem mermo uma mira muito melhor do que a maioria dos vapores, e da minha.

Meu pai não me deixa participar muito dos bagulhos e acho isso bom até. Eu realmente não sei se é essa vida mermo que quero pra mim.

Cresci nesse meio, via meu pai agoniado com os ataques que ocorriam, com as mortes de moradores, dos vapores. E não sei se é isso mesmo que quero pro meu futuro.

A preocupação, o desespero pra tentar proteger tua família a todo custo, a incerteza se isso vai acontecer de novo, é foda. Marcos é mais velho e maduro, sabe lidar bem com a pressão. Mas eu não.

Gosto de ser livre, de viver sem ninguém pegar no pé, apesar da minha mãe fazer esse trabalho direitinho, ainda consigo dar uns perdido nela. E no final, acabo levando uma surra por desobedecer as ordens dela.

PH: Calem a boca! - falou alto, que até me assustei. - É por causa desse desgraçado que minha mulher tá no hospital e minha filha tá traumatizada! Sério que estão fazendo piadinhas?

Miguel: Calma tio. A gente sabe o que aconteceu, só estamos querendo que o clima fique mais leve. - falei.

PH: Se quiser mermo que essa porra melhore, ajude seu irmão e os outros a investigar quem está por trás disso. - me encarou. - Deixe de fazer corpo mole e aja! Talvez assim, vendo os outros trabalharem, você aprenda algo. - engoli o seco.

Touro: Cala a boca você, Pedro! - entrou na minha frente. - Tudo bem, entendo teu lado, também tô com raiva e triste pelo que aconteceu, mas em que momento tu me viu descontar isso no teu filho? - cruzou os braços. - Não venha fazer com o meu, o que não quer que façam com o seu! Ninguém aqui, muito menos o Miguel, tem culpa de nada.

Meu tio desviou o olhar do meu pai, pra mim. Neguei com a cabeça, saindo dali.

Meu tio, por partes, tá certo. Não agrego nesse meu "trabalho" na boca. Juliana que faz o trabalho todo.

Mas a real é essa, não quero isso pra mim. Agora, é definitivo.

Subi na minha moto, descendo o morro e indo pra ONG da minha mãe. Desci da moto e entrei, indo direto pra sala dela.

Jhe: Oi meu amor. - falou olhando para alguns papéis na mesa. - Está tudo bem?

Miguel: Não.

Jhe: Aconteceu algo com sua tia? É a Bia? Seu pai? - me olhou preocupada. - Seu irmão?

Miguel: Não... não é ninguém, mãe.

Jhe: Então porque não está bem? - se levantou da cadeira, vindo na minha direção.

Miguel: Não quero isso pra mim, mãe. Quero uma vida normal, sem muitas preocupações. - abracei ela.

Jhe: Entendo perfeitamente. - me apertou mais no abraço.

•••••••

Depois de horas conversando com minha mãe, me abrindo com ela, contando dos meus medos. Finalmente, me sentia mais leve.

Jhenifer é a mulher mais importante da minha vida, tirando a Mirele e minha avó. Ela me entende como ninguém. Sabe o que sinto, em relação a tudo.

Aí de quem disser que ela não é minha mãe. É bença e tchau, fi! Jhenifer é e sempre foi minha mãe. Assim como o Touro é meu pai.

Sou grato e vou ser sempre por eles terem me escolhido, me aceitado e me criado. Não teve coisa melhor que aconteceu na minha vida.

Miguel: Te amo, mãe. - beijei a testa dela.

Jhe: Meu amor, eu te amo. - me abraçou.

Miguel: Será que meu pai vai ficar com raiva? Sei que ele nunca quis a Mirele envolvida, isso ele sempre deixou claro. Mas nunca falou nada sobre eu e o Marcos.

Jhe: Não tenha medo. Acredito que seu pai nunca havia falado nada de vocês, porque achava que iam seguir os mesmos passos dele já que viviam na boca vendo ele trabalhar. Jonathan nunca pensou que ia querer trilhar seu próprio caminho, mas fique tranquilo, filho. Sei pai o ama e isso é que importa! Certeza que ele vai te apoiar no que decidir. - sorriu.

Miguel: Tudo bem. - sorri nervoso. - Vou falar com ele agora.

Jhe: Agora não, depois do almoço. - se levantou e pegou a bolsa. - Vamos pra casa.

Miguel: Tenho que comer brócolis, hoje? - me levantei também.

Jhe: Hoje não. - sorri.

Miguel: Já falei que te amo? - ela sorriu.

Saímos da ONG, indo para casa.

••••••

Respirei fundo entrando na boca. Limpei minhas mãos suadas na minha bermuda e fui na direção do meu pai.

Miguel: Pai? - o chamei.

Ele estava conversando com uns vapores, e virou pra mim. Falou algo para os vapores, que saíram e veio na minha direção.

Touro: Qual foi?

Miguel: Eu preciso falar de com o senhor. - levantou uma sombrancelha e limpei minha garganta. - Não quero mais trabalhar na boca.

Touro: Se for por causa do que o teu tio falou, esquece isso filho. Ele tá errado... - o interrompi.

Miguel: Não, ele não está, pai. - suspirei. - Não quero mais trabalhar na boca porque não é isso que desejo pra minha vida. Quero estudar, ter um futuro diferente daquele que o senhor sonhou pra mim.

Touro: Tem certeza? - assenti. - Tudo bem.

Miguel: Que?

Touro: Se é isso que quer. - deu de ombros. - Vai em frente. Tem todo o meu apoio.

Miguel: Sério? - assentiu. - Nossa, que tava aqui morrendo de medo do senhor me bater. - gargalhou.

Touro: Só quero teu bem, meu pivete. Se não se sente bem, fazer o que? Não vou te forçar a ficar aqui. - abracei ele.

Miguel: Obrigado pai!

Saímos do abraço, após um vapor chamar nossa atenção. Meu pai o encarou e percebi que atrás dele estava uma mulher, que sorriu pra mim.

Touro: Qual o b.o?

Feijão: Essa mulher disse que queria mandar um papo sério pra vocês. - o vapor falou.

Meu pai me olhou e dei de ombros.

Touro: Solta o verbo.

- Só queria saber como meu filho estava.

Touro: E quem é teu filho?

- Ele. - apontou pra mim.

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