capítulo 53

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Miguel 💨

Entrei em casa acompanhado da minha mãe e me sentei no sofá, ao lado da minha irmã e do meu sobrinho.

Mirele: Seja bem-vindo, titio. - fez uma voz de criança e sorri. - Você está bem?

Miguel: Sim, estou. Não tá doendo tanto. - ela olhou para os curativos e fez uma cara feia.

Infelizmente acabei levando três tiros ontem na invasão. Um foi de raspão, um foi no ombro e outro no braço.

Meu pai pirou. Ficou maluco quando me viu cheio de sangue e o Marcos não ficou muito diferente. Ainda não vi nenhum deles, mas já sei que vou tomar um esporro.

Alguém bateu na porta e minha mãe foi abrir. Escutei a voz da Kiara e olhei para trás.

Fazia poucos dias que havia pedido ela em namoro. Fiz isso morrendo de medo de levar um não bem grande, mas deu tudo certo no final.

Ela ainda admitiu que gostava de mim desde quando éramos mais novos. Sinceramente, nunca havia percebido nada e até confessei isso para ela.

Kiara: Oi. - sorriu. - Desculpa não ter ido ontem no hospital. Minha mãe está doente e tinha que ficar com meu irmão.

Miguel: Tudo bem, nega. - sorri e ela suspirou parecendo cansada.

Sabia que a Vitória não estava bem. A Kiara não falou nada, mas dá pra perceber. Depois da morte do Baiano tudo mudou na vida delas e tá tudo pesado para a Kia, da para perceber isso.

Ela nem teve tempo de ter alguns dias de luto e já estava tendo que ir procurar emprego. Minha mina é forte pra caralho, mas não nego que ver ela assim me parte o coração.

Jhe: Mi, vem me ajudar aqui na cozinha. Seu pai chega já para o almoço e não tem quase nada pronto. - falou.

Minha irmã assentiu e colocou o Theo no carrinho, levando ele para a cozinha.

Miguel: Senta, amor. - falei. Kia se sentou do meu lado e deitei a cabeça dela no meu ombro que não estava machucado. - Me conta, vai. O que está acontecendo?

Kiara: Como assim? - me encarou.

Miguel: Não precisa de muito esforço para perceber que você não está bem. - respirou fundo. - Preta, você sabe que estou sempre aqui por você, não sabe? - assentiu. - Me conta, o que tá te deixando assim?

Kiara: É a minha mãe. - desviou seu olhar do meu. - Ela... não quer mais sair da cama, não quer ficar mais com o meu irmão porque diz que tudo nele lembra o meu pai. Eu não sei mais o que fazer, Miguel. - falou entre as lágrimas. - Não tenho mais tempo pra mim porque tenho que cuidar da casa, cuidar da minha mãe, cuidar do meu irmão que está totalmente dengoso e com medo de tudo. Tenho que trabalhar e... não estou dando conta de nada, sinto que não estou sendo o suficiente. E o pior, eu nem pude sofrer, tive que ser forte por mim e pela minha família e isso está me matando... e ainda tem você. - encarei ela. - Miguel, você não imagina o tamanho do medo que tive te de perder. Não aguentaria se... se tivesse acontecido alguma coisa mais grave contigo. - desabafou.

Miguel: Porque estava guardando tudo isso pra você? - deitei novamente a cabeça dela no meu ombro. - Não sou apenas seu namorado, sou seu amigo também. Não precisa tá carregando esse fardo todo pra si não. - beijei a testa dela. - Eu sei, meu amor, que é triste essa situação. Eu no seu lugar não saberia nem por onde começar. Você é suficiente sim e muito forte. Tenho certeza que sua mãe é grata por tudo que está fazendo, mas no momento ela não está nas condições de demonstrar, nem dizer isso. - ela suspirou fundo. - E quando a mim, me desculpa. Fui pego de surpresa e não tinha como reagir.

Kiara: Obrigada, amor. - me beijou. - Só promete que vai ter mais cuidado? Sério, Miguel, eu não vou aguentar perder outra pessoa que amo.

Miguel: Você me ama? - sorri e ela também.

Kiara: Amo. - me deu um selinho. - Amo muito.

Miguel: Te amo também, minha preta. - a beijei com vontade. - E eu prometo ter mais cuidado. - disse entre o beijo.

Ficamos ali mais um pouco só jogando conversa fora. Até que meu pai chegou e minha mãe veio nos chamar para almoçar.

Meu pai me olhou por um tempo, mas não falou nada. Só desviou o olhar tempo depois e se sentou na mesa.

Respirei fundo e me sentei também.

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Entrei na boca e recebi alguns comprimentos dos vapores. No canto estavam o Guilherme e o Vinícius conversando, caminhei até eles e me sentei na cadeira.

Guilherme: Cara, o que tá fazendo aqui?

Miguel: Bom te ver também, Guilherme. - sorri falso e ele revirou os olhos. - Cadê o Marcos?

Guilherme: Desde ontem ele não aparece aqui. - levantei uma sobrancelha.

Vinícius: Seu pai e seus tios que estão tomando conta de tudo. - falou. - Ninguém sabe onde ele se meteu, nem a Alyssa.

Miguel: Já ligaram pra ela? - afirmaram com a cabeça. - Puta merda.

Vinícius: Depois que tu apagou no beco, ele sumiu. - disse. - Eu fui atrás, mas perdi ele de vista.

Aquilo estava soando tão estranho. Marcos não era muito de desaparecer assim, só quando algo muito grave acontecia.

Me despedi dos meninos e sai dali. Só tinha um lugar que íamos quando o sapato apertava em casa.

Subi o morro a pé mesmo. Por onde passava as pessoas me olhavam e algumas até falavam comigo.

Cheguei no alto do morro e subi pela escadinha que tinha ali. De longe avistei ele e suspirei fundo, indo até lá. Me sentei ao seu lado e ficamos um bom tempo em silêncio.

Miguel: Eu tô bem. - falei quebrando o silêncio. - Não morri.

Marcos: Mas poderia. - soltou fumava do cigarro.

Miguel: Mas não morri, Marcos. - ele assentiu.

Marcos: Tu disse que ia sair dessa vida, não disse? - me olhou. - E é isso que tu vai fazer, Miguel. Tua ficha é limpa, da o fora antes que seja tarde.

Miguel: Marcos...

Marcos: Não quero saber de nada. Tô cansado desse bagulho. - bufou. - Em poucos messes quase perdi a Alyssa, a Juliana, o Vinícius, o Guilherme e você. E eu não quero mais isso, papo reto.

Miguel: Tudo bem, eu te entendo. - suspirei. - A Kia tá sofrendo muito pela perda do Baiano e ela disse que ontem ficou com medo de me perder também.

Marcos: Pois é. Já passou da hora de tu meter o pé. - assenti.

Miguel: Eu vou, irmão. Eu vou. - desviou o olhar. - Mas você tem que relaxar, Marcos. Essa viagem vai ser ótima pra tu descansar. Curti tua mina, aproveita mais a companhia dos outros e quando voltar procura ficar mais tempo com o Bernardo, relaxar.

Marcos: Tu acha mesmo que vai ser uma boa ideia essa viagem? - dei de ombros.

Miguel: Não sei, mas não custa tentar. - ele assentiu.

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