Capítulo 39

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🦋 - ̗̀ SERENA CLARKE

É meu aniversário.

Talvez se fosse em outro caso eu estaria pulando de alegria. Depois de anos, eu realmente pensei que esse seria o melhor dia da minha vida, pensei que seria o dia em que eu passaria meu aniversário com pessoas que realmente se importavam comigo.

Patética. Burra, burra.

Me levantei da poltrona e andei em direção ao banheiro. Tirei minhas roupas enquanto a banheira enchia e me encarei no espelho. Eu estava no mesmo estado de quando cheguei na Corte Noturna. Esquelética, pálida, olheiras enormes e com lábios roxos; engoli em seco e entrei na banheira.

A solidão é uma coisa estranha.

Ela se arrasta por você silenciosa e calma, senta-se ao seu lado na excuridão, acaricia seus cabelos enquanto você dorme. Envolve seus ossos, apertando-os com tanta força que quase o impede de respirar, quase o impede de ouvir o pulsar do sangue que corre sob sua pele. Toca desde seus lábios até a penugem da nuca. Deixa mentiras em seu coração, está bem ao seu lado à noite, apaga todas as luzes imagináveis. É uma companhia constante, aperta sua mão só para empurrá-la para baixo quando você tenta se levantar, pega suas lágrimas só para forçá-las garganta abaixo.

Você acorda de manhã e se pergunta quem é. Você não consegue durmir e sua pele estremece. Você tem dúvidas tem dúvidas tem dúvidas

Vou.

Não vou.

Devo.

Por que não?

E mesmo quando você está pronto para se desprender. Quando está pronto para se libertar. Quando está pronto para ser uma pessoa nova. A solidão é uma velha amiga, parada ao seu lado no espelho, olhando nos olhos, desafiando-o a viver sem ela. Você não consegue encontrar palavras para lutar contra si mesmo, para combater as palavras que gritam que você não é suficiente nunca é suficiente jamais é suficiente.

A solidão é uma companhia amarga e vil.

Às vezes, ela simplesmente não vai embora.

Balancei a cabeça espantando os pensamentos e me levantei da banheira quando a água já estava fria, sequei meu corpo e respirei fundo estalando os dedos. Um sorriso apareceu em meu rosto quando meu corpo foi coberto por um vestido e meus pés por um salto alto, eu estava pegando o jeito em usar minha magia, tudo o que eu precisava fazer era imaginar, desejar e botar pra fora. É mais fácil do que eu imaginava.

Amarrei meu cabelo em rabo de cavalo alto deixando algumas mechas soltas e alisei o vestido. Ele era preto, com apenas uma manga, era justo no busto e a saia era rodada mais nada muito exagerado junto com uma fenda na perna esquerda. Ele tinha ficado ótimo, por mais que meu corpo esteja magro demais; o tecido pesado não deixa transparecer.

Saí do quarto e fui em direção a cozinha, ainda era muito cedo e sabia que Lucien tinha passado a noite aqui por seu cheiro estar forte. Comecei a preparar o café da manhã, eu devia isso a Lucien, depois de ter tomado seu tempo fazendo ele preparar refeições pra mim – das quais eu nunca sentia vontade de comer — acho que o melhor seria retribuir.

Quando terminei de arrumar toda a mesa, Lucien entrou na cozinha coçando os olhos com o rosto amassado, seu cabelo estava bagunçado e as roupas tortas. Ele arregalou os olhos quando me viu e seu rosto ganhou uma coloração avermelhada e eu soltei uma risada fraca.

— Bom dia, Lucien! — Falei dando um sorriso e apontei para a cadeira — Eu preparei o café da manhã para gente. Sente-se.

Ele obedeceu, me olhando com as sobrancelhas franzidas e a boca entreaberta.

— Você... Está bem? — Quase ri da sua cara quando ele perguntou.

— Estou — Respondi cortando um pedaço de bolo para mim e para ele — Percebi que ficar sentada em uma poltrona não vai resolver meus problemas e nem acabar com a guerra que está vindo.

— Entendo... Fico feliz que você esteja melhor — Ele falou com um pequeno sorriso — Não gostava de ver você daquele jeito.

— Eu queria agradecê-lo por tudo que fez — Falei e encarei seus olhos — Obrigada por cuidar de mim, Lucien, eu estou disposta a fazer qualquer coisa para recompensar o tempo que você desperdiçou me ajudando.

— Pelo Caldeirão, Serena! Não foi uma perda de tempo ajudá-la — Exclamou indignado — Não se preocupe, você não me deve nada. Eu te ajudaria de novo se precisasse.

— Obrigada! — Sorri e ele fez o mesmo.

— Ah, eu tenho algo para você — Lucien falou se levantando e eu franzi o cenho.

— Para mim? — Perguntei e ele concordou indo até a sala, segundos depois Lucien voltou com uma caixinha pequena na mão.

— Feliz aniversário! — Ele falou a colocando em minha frente e eu o encarei.

— O que...? Como você sabe sobre isso? — Perguntei.

— Você me disse, esqueceu? — Falou e eu me lembrei do dia em que tomamos café juntos e contamos nossas datas de aniversário — Abra.

Concordei com a cabeça a abrindo. Minha boca se abriu e eu encarei Lucien.

— Ela... É linda — Falei olhando para a pulseira. Ela era da cor prata, fina, delicada e tinha um pingente em formato de floco de neve.

Me levantei da cadeira e abracei Lucien.

— Obrigada, Lucien! Eu adorei — Falei me separando e ele sorriu deixando um pequeno beijo na minha testa — Me ajuda a colocar?

Ele concordou a pegando, ergui meu pulso e Lucien a colocou. Sorri de novo e segurei sua mão o puxando para se sentar novamente. Nós dois começamos a conversar e o café da manhã foi repleto de risadas, pela primeira vez eu me sentia bem depois de tudo o que aconteceu.

🌪️

Fechei a porta do quarto e andei em direção a cama. Minhas sobrancelhas franziram ao encarar uma caixinha preta de veludo em cima da cama, me perguntei se Bryce tinha a posto ali ou até mesmo Lucien.

Me sentei na cama e a peguei, um papel cai sobre me colo e eu o segurei observando a perfeita caligrafia.

"𝐕𝐨𝐜ê 𝐬𝐞𝐦𝐩𝐫𝐞 𝐬𝐞𝐫á 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐞𝐬𝐭𝐫𝐞𝐥𝐚 𝐦𝐚𝐢𝐬 𝐛𝐫𝐢𝐥𝐡𝐚𝐧𝐭𝐞."

Ofeguei sentindo meu coração acelerar. Abri a caixinha com as mão trêmulas, minha mente ficou silenciosa quando eu o peguei. Era lindo.

Me levantei e corri em direção ao banheiro, parei em frente ao espelho encarei meu reflexo... Então abri o fecho e o coloquei. Segurei a pedrinha azul entre os dedos e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

— Eu nunca mais serei usada novamente — Falei limpando a lágrima e respirei fundo — Mostrarei a todos eles a pessoa poderosa que eu nasci pra ser.

[✓]𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐂𝐚𝐨𝐬 𝐞 𝐒𝐨𝐦𝐛𝐫𝐚𝐬| ᵃᶻʳᶦᵉˡ Onde histórias criam vida. Descubra agora