Capítulo 57

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━ 🦋 - ̗̀ SERENA CLARKE

Eu já tivera mais do que uma cota justa de experiências de quase morte; isso não é algo com que você se acostume. Mas parecia estranhamente inevitável enfrentar a morte outra vez. Como se eu estivesse mesmo marcada para o desastre. Eu havia escapado repetidas vezes, mas ela continuava me rondando.

Eu nunca pensei muito em como iria morrer. Na verdade, a morte não é algo bom de se pensar, por mais que eu a desejasse.

Agora, eu sinto o peso das súplicas que fazia ao Caldeirão para que, de algum modo, me matasse. Sinto o peso de quando olhava para as estrelas e desejava a morte por não aguentar mais a dor que sentia por estar com Kieran; sinto agora, o peso dos pedidos que fazia para as estrelas cadentes...

Mas na minha opinião, morrer no lugar de quem eu sabia que amaria até meu último suspiro, me parace uma boa maneira de partir.

Eu não consigo respirar direito, me sinto sufocada. Meu corpo inteiro dói, meu peito formiga e minha cabeça parece que irá explodir toda vez que tento abrir os olhos.

Eu sei que estou morrendo. Mesmo parecendo inconsciente, eu escutei tudo. Ouvi sobre o veneno na flecha que estava cravada em minha barriga, ouvi o desespero na voz de Azriel enquanto suplicava para que eu ficasse acordada ou quando Madja disse que não podia fazer nada em relação ao que iria acontecer comigo.

Eu estou morrendo e eu não quero isso.

Não agora, não era para ser agora.

Tentei abri os olhos mais uma vez e desta vez consegui. Observei ao redor e encontrei Azriel andando de um lado por outro com um livro na mão, suas sombras também seguravam alguns livros.

— Az... — Não posso dizer que isso foi um sussurro, acho que nem transmitiu som, mas de algum modo ele escutou. Os olhos de Azriel se encontraram com os meus, sua boca se entreabriu e suas mãos soltaram o livro.

Ele se aproximou de mim como um raio e sua mão tocou minha bochecha devagar.

— Meu amor... — Ele sussurou e eu tentei sorrir.

Gostava de quando ele me chamava assim, queria poder escutar mais vezes.

— Eu irei... Irei encontrar um jeito de encontrar o antídoto e você vai ficar bem — Ele falou parecendo ofegante.

— Az...

— Eu estou procurando nos livros... Um jeito de ir para o outro universo, eu irei consegui e voltarei a tempo... — Sua voz saia quase em um tom desesperado — Você ficará bem.

Sabia que ele estava tentando ficar o mais calmo possível.

— Está tudo bem — Falei encarando seus belos olhos — Está tudo bem, Az...

— Não, você está morrendo! Eu estou perdendo você — Seus olhos brilharam em lágrimas e meu peito apertou.

— Não irá me perder, Azriel — Falei tentando não demonstrar a dor que sentia — Não se preocupe, você vai ficar bem.

— Me perdoa... Me perdoa, eu sinto muito — Concordei com a cabeça freneticamente — Por tudo o que fiz, por trair sua confiança, por machucá-la. Me perdoa.

— Está tudo bem — Eu realmente deveria parar de dizer isso — Azriel...

— Você vai ficar bem, eu irei fazer você ficar bem — Não respondi, meus olhos se desviaram para suas sombras que passavam as páginas dos livros agitadas — Ficará bem para vermos a Queda das estrelas juntos.

Não sabia o que era a Queda das estrelas.

— Eu irei ver seus olhos brilharem enquanto você as observa e o seu sorriso... — Ele parou de falar e eu ofeguei sentindo meu peito queimar como se estivessem o rasgando, Azriel apertou minha mão se ajoelhando ao lado da cama — O sorriso que ilumina o seu rosto e o sorriso em que eu sou apaixonado.

Ergui minha mão sentindo a dor se espalhar pelo meu corpo, não me importei, apenas toquei seu rosto.

— Cante para mim? — Falei me sentindo cada vez mais fraca — Aquela que cantamos juntos, preciso... Ouvi-lo cantar... Mais uma vez.

Azriel concordou com a cabeça se aproximando mais. Sua voz começou a soar baixinho enquanto ele começava a cantar a música, sorri levemente tocando sua bochecha e apreciei sua voz.

— Você está perfeito esta noite — Sussurrei junto com ele abrindo os olhos e observei seu rosto. Seus olhos continuavam fechados e seus lábios estavam separados, engoli em seco e puxei sua nuca juntando nossas bocas quando senti uma dor avassaladora atingir meu coração que pulsava com dificuldade.

Azriel se afastou e por mais que meus olhos estivessem abertos, a única coisa que senti foi a escuridão me engolir.

━ 🦇 - ̗̀ AZRIEL

O desespero tomou conta de todo o meu corpo quando me afastei de Serena, sua mão em minha nuca caiu sem força na cama e seu corpo afundou na cama.

— Serena? — Segurei seu rosto com as duas mãos e encarei seus olhos ficarem opacos.

O laço de parceria.

Eu não o sentia.

Ele não estava lá.

Porque ela não respirava mais.

Serena estava morta, minha parceira estava morta em meus braços.

— Não, não, não! — Me levantei e me ajoelhei ao seu lado da cama erguendo seu corpo.

Senti meu coração se estilhaçar em milhares de pedacinhos.

— Serena! Por favor, por favor — Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha e eu a puxei para meu peito — Por favor, acorde! Eu estou implorando, por favor não me deixe.

Supliquei apertando seu corpo contra o meu, minhas sombras as cercaram e a abraçaram agitadas.

— Eu ainda preciso de você.

Então era aquilo. O oceano de dor. A margem além da água fervente tão distante que eu não conseguia imaginá-la, muito menos vê-la.

Eu me sinto vazio de novo.

Eu gritei. Gritei tão alto que a casa pareceu estremecer, a porta do quarto foi aberta abruptamente e eu apenas ignorei sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto enquanto suplicava a Mãe, ao Caldeirão, aos deuses e a qualquer um para que trouxesse ela de volta.

De volta para mim.

[✓]𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐂𝐚𝐨𝐬 𝐞 𝐒𝐨𝐦𝐛𝐫𝐚𝐬| ᵃᶻʳᶦᵉˡ Onde histórias criam vida. Descubra agora