AUTUMN | ryujin + yeji

[20] Sentir

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YEJI

Eu acreditava que nunca ouviria aquela voz novamente.

Estava pegando no sono, querendo só que aquele dia passasse logo, mas ouvi uma voz familiar.

— Você está sendo muito forte, filha... Você não tem noção.

Quando olhei para o lado, vi minha mãe, sentada ao meu lado, olhando para frente.

Não estávamos mais no hospital, e sim na varanda da casa dela, a qual não é mais dela.

— Mamãe? — a chamei, ainda desacreditada.

— Oi, filha. — sorriu ao me olhar. Como eu senti falta daquele sorriso.

Meu choque era tão grande e tão visível que eu nem consegui me levantar da cadeira em que eu estava para ir até ela e abraçá-la, talvez numa tentativa de acabar com toda a saudade, então eu fiquei imóvel, boquiaberta, enquanto a encarava.

Olhei para baixo para ter certeza do que estava acontecendo e estranhei ao não ver a curvatura da minha barriga, onde minha filha deveria estar.

— A florzinha não está aí. — mamãe disse.

— O que? E onde ela está? — perguntei, já que não estava entendendo nada.

— Ela ainda não existe aqui, mas também é sobre ela que precisamos conversar. — olhou em meus olhos dessa vez.

Aquele olhar fazia eu me sentir viva. Ver ela bem, saudável, poder falar com ela era tudo o que eu precisava.

— Yeji, você sabe que uma gestação é algo delicado. Ainda mais no seu caso. — começou a dizer — E você precisa ter cuidado, precisa deixar que cuidem de você e aceitar que eu não estou mais lá.

— Mãe...

— Sei que dói muito, tanto em você quanto no seu irmão. Mas saiba que eu estou orgulhosa de vocês dois. Por favor, não deixe que ele te perca e não perca a florzinha também.

Os meus olhos se encheram de lágrimas naquele momento, porque eu sabia que ela estava certa.

Percebendo minha situação, minha mãe estendeu os braços e eu não pensei duas vezes antes de ir até ela e sentar em seu colo para abraçá-la, como uma criança desesperada, mesmo meu tamanho sendo superior ao dela.

— Você está indo bem, e tem uma ótima pessoa ao seu lado. — ela disse, enquanto acariciava minhas costas — E uma coisa. Toma cuidado com aquele cara. — se separou do abraço por um momento, apenas para me encarar, pois sabia exatamente de quem ela estava falando — Ele é louco e você sabe disso.

— Eu não sei como fazer ele parar.

— Ele não vai. — começou a acariciar meu rosto. Eu ainda não estava acreditando que podia sentir o toque dela — Por conta disso você tem que continuar sendo forte.

— Mãe, eu tenho tanto...

— Medo. Eu sei, amor. — tirou a palavra da boca dela — É uma situação muito complicada, mas o que ele quer é isso, porque ele acha que vai ser como nas outras vezes. Faça o oposto disso, Yeji. Você consegue. — sorriu levemente.

Foi depois dessa fala que eu me toquei que eu tinha uma outra realidade para viver e que aquela não era real.

Uma lágrima escorreu pela minha bochecha naquele exato momento, enquanto eu olhava para o rosto da minha mãe, tão parecido com o meu, pelos genes fortes. Aquela provavelmente seria a última vez que eu a veria.