Elevador

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Durante o almoço, sempre que possível, Augusto encarava Renata por alguns segundos. Não sabia explicar o motivo, mas estava gostando de fazer aquilo.

Até que percebeu que ela e o homem estavam discutindo, logo a mulher se levantou e saiu às pressas.

- Pai, eu preciso terminar de fazer uns trabalhos... Mas tarde a gente termina essa conversa, pode ser? - disse Augusto se levantando.

- Mas você nem terminou de comer. - William apontou com o olhar para o prato de Augusto.

- Depois eu como alguma coisa. Agora eu preciso ir, até mais. - Augusto saiu dali praticamente correndo, deixando para trás um William confuso.

Andou o mais rápido possível atrás de Renata e a alcançou enquanto ela entrava no elevador.

Correu em direção ao elevador antes que as portas se fechassem.

- Miguel, me deixa sozinha. - Renata não tinha percebido que não era Miguel, já que estava de costas.

- Eu não sou o Miguel. - Augusto queria tocá-la, mas se conteve.

- Ah! É você, Augusto. Desculpe! - Renata se virou e passou as mãos nos olhos enxugando as lágrimas.

- Está tudo bem? Quer conversar? - Augusto perguntou em um tom calmo e gentil.

- Está tudo bem, eu não preciso conversar. - Renata soou um pouco rude.

- Ok, eu só quis ajudar. - Augusto ergueu as mãos em sinal de rendição.

- Desculpa, eu não quis ser grossa com você. - disse Renata com a voz embargada. - Eu só não... Não estou mais aguentando. - a mulher voltou a chorar.

- O que você não está mais aguentando? - Augusto deu alguns passos à frente, se aproximando de Renata.

- As pessoas acham que só porque eu sou forte eu aguento tudo, mas eu tenho sentimentos, poxa! - falou Renata com indignação.

Augusto não aguentou vê-la naquele estado e a puxou para um abraço.

Renata passou os braços ao redor do pescoço de Augusto e se aconchegou naquele abraço.

Fazia muito tempo que ela não recebia um abraço tão caloroso quanto aquele.

Durante o abraço, Renata chorou ainda mais, soluçando.

Augusto sentiu seu peito apertar ao ver Renata chorando copiosamente, queria tirar toda aquela mágoa que ela estava sentindo, mas não sabia como.

Enquanto passava a mão pelas costas da mulher, depositou um pequeno beijo no topo da cabeça de Renata.

- Acabei molhando a sua camisa. - Renata se afastou alguns centímetros de Augusto e passou a mão onde suas lágrimas haviam molhado.

- Não tem nada de mais. - sorriu pegando nas mãos de Renata.

Naquele momento, os dois tiveram uma intensa troca de olhares.

Foram se aproximando gradativamente, mas ambos estavam um tanto nervosos com a proximidade. Mas também não queriam se afastar.

Mas foram tirados do momento com o plim do elevador, então se afastaram rapidamente, ambos com as bochechas avermelhadas.

- Está se sentindo melhor? - Augusto perguntou baixinho.

- Uhum! - a mulher concordou com um leve aceno de cabeça.

Durante o resto do dia, Augusto e Renata trabalharam em silêncio. Não trocaram sequer meia palavra sobre o ocorrido mais cedo no elevador. Mas a cada minuto que se passava, Augusto olhava para Renata para ter certeza que estava tudo bem.

Quando o relógio marcou 19:40, Renata começou a se arrumar.

- Augusto? - Renata chamou pelo rapaz que digitava algo no computador.

- Sim? - se virou para a mulher.

- Qual dessas camisas eu visto? A azul ou cinza? - Renata perguntou erguendo as camisas no ar.

- Você vai vestir calça ou saia? - Augusto cruzou os braços.

- Vou vestir essa calça preta. - respondeu apontando com a cabeça para a calça que estava sobre o pequeno sofá.

- Hum... - pensou um pouco. - Acho que a camisa cinza ficaria melhor com essas calças. - disse Augusto.

- Então eu vou lá me vestir, já volto. - pegou a roupa escolhida e foi em direção ao banheiro.

Alguns minutos depois, Renata saiu do banheiro já com as roupas que iria usar na apresentação do JN.

- Como estou? - perguntou ao sair do banheiro.

- Uau! Você... Você está linda! - Disse Augusto percorrendo o corpo de Renata com os olhos.

- Obrigada. - Renata agradeceu com um sorriso tímido no rosto.

A mulher se posicionou na frente do espelho e começou a prender o cabelo em um coque.

Ao perceber que ela iria prender o cabelo, Augusto se levantou e ficou atrás dela.

- Por que não fica com o cabelo solto? - Augusto segurou a mão de Renata, impedindo-a de prender o cabelo.

- Será? - olhou o reflexo do rapaz através do espelho.

- Sim. Eu acho você linda com o cabelo solto... Não que eu não ache quando está com o cabelo preso, imagina, você fica linda de qualquer maneira. - Augusto ficou com o rosto corado ao falar aquilo.

- Não precisa ficar envergonhado. - Renata riu, virando-se para ele. - Então hoje eu vou com ele solto. - Soltou o cabelo e o ajeitou.

Augusto apenas sorriu e voltou a trabalhar em silêncio, envergonhado pelo comentário que tinha feito. Tinha praticamente dito a ela que achava ela linda de qualquer maneira. Renata saiu da sala e foi em direção à bancada.

- Ai, meu Deus! Me ajude. - Augusto jogou a cabeça para trás e esfregou as mãos no rosto.

Augusto trabalhou por mais alguns minutos até que seu turno terminou. Pegou seu notebook, saiu da sala de Renata e foi em direção à sua mesa.

Ao terminar de arrumar suas coisas, Augusto colocou a mochila nas costas e foi em direção à saída da redação. Ao passar em frente à bancada do JN, notou que Renata estava apresentando uma matéria e ficou a observando por alguns minutos. Até que se surpreendeu ao ver que ela o encarava de volta. Olhou para trás para ver se tinha alguém atrás de si, mas não tinha ninguém; Renata estava olhando diretamente para ele. Então deu um discreto aceno de mão e ela o respondeu com um pequeno sorriso.

Augusto a observou por alguns minutos até que deu as costas e foi embora. Ainda teria que passar no supermercado para comprar algumas coisas.

Quando Augusto chegou em casa, já passava das 22:30. Ao entrar no apartamento, encontrou a irmã sentada no sofá com o notebook no colo.

- Você demorou hoje. - comentou sem tirar os olhos da tela.

- Antes de vir eu passei no mercado. - Disse Augusto, indo em direção à cozinha. Lá deixou as compras sobre a mesa e voltou para a sala. - Quem vai preparar o jantar hoje? - Perguntou.

- Eu fiquei sabendo que abriu um restaurante com comida típica da Argentina lá. Podíamos ir jantar lá hoje? - Maia sugeriu, abaixando a tela do notebook e o apoiando sobre o sofá.

- Eu não estou muito afim de sair hoje. - disse com um ar de cansado. - Podemos pedir uma pizza hoje e amanhã nós vamos lá no restaurante. - Disse Augusto, jogando a cabeça de um lado para o outro até ouvir um estalo.

- Tá bom. Mas eu irei te cobrar. - disse Maia, o encarando.

- Pode cobrar. - riu. - Eu vou lá tomar um banho. Enquanto isso, você pede a pizza. - Disse Augusto

Juntos pelo acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora