Natal

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O Natal havia chegado, todos os lugares já estavam decorados para essa época. A época em que as famílias se reuniam para celebrar o nascimento do menino Jesus.

Aquele dia a redação estava mais calma e silenciosa, muitos tinham tirado o dia para ficar com a família.

Após o Jornal Nacional, durante a madrugada, Augusto e Renata embarcariam no avião em direção a Paris.

Aquela era uma época em que Renata mais gostava, todos os anos se reunia com sua família para ceiarem juntos.
E aquele ano não seria muito diferente, mas após a ceia, seguiria para o aeroporto.

Já Augusto odiava aquele dia do ano, preferia ficar longe de tudo e todos. Muitos se perguntam: por que odeia tanto o dia de seu aniversário? Essa era uma pergunta muito frequente na vida de Augusto. Muitas coisas trágicas aconteceram neste mesmo dia, anos atrás. Desde então, não comemora o Natal e nem seu aniversário.

– Que cara é essa? – Renata encarou Augusto que mechia no tablet a sua frente.

– Odeio essa época do ano, só acontece desgraça. – Augusto reclamou.

– Essa é uma das melhores épocas do ano, nos reunimos com a nossa família. – Disse Renata sorridente.

– Época em que perdemos pessoas queridas, principalmente aqui no Rio onde a violência cerca as pessoas. Enquanto comemoram pessoas podem acabar sendo morta por uma bala perdida. – Augusto fechou os olhos por alguns segundos – Pessoas se embriagam e tem a brilhante ideia de sair dirigindo e, muitas vezes, acaba matando uma pessoa inocente. Então, por isso, eu odeio essa época do ano. Não tem o que ser comemorado. – Augusto finalizou, era possível notar uma certa mágoa em seu olhar.

Renata ficou encarando Augusto por alguns segundos, sentia que algo tinha acontecido com Augusto e tinha o marcado.

Queria questiona-lo mas o diretor informou que já entrariam no ar.

Durante a edição daquele dia, Augusto permaneceu de cara fechada, durante os intervalos permaneceu em silêncio. Não trocou nem meia palavra com Renata.

– Boa noite, e um feliz Natal. – Renata tinha um imenso sorriso nos lábios.

– Boa noite! – Augusto disse sério.

Augusto tirou seu ponto e o microfone, se levantou e saiu do estúdio rapidamente e caminhou ate a sua sala.

Ao entrar na sala fechou a porta e se jogou no sofá, estava se sentindo exausto.

– Augusto? – Renata entrou na sala e fechou a porta atrás de si.

– O que foi? – Augusto a encarou, tinha um olhar indecifrável.

– Eu que devo te perguntar o que foi? Ta, eu ja entendi que você não gosta do Natal, mas o que aconteceu para você odiar tanto o Natal? – Renata se sentou ao lado do rapaz.

Augusto respirou fundo, tinha o olhar vago, paracia se lembrar de algo.

– Olha – deu um longo suspiro – Tem coisas que eu não acho necessário te contar, entende?

– Foi algo tão grave assim? – Renata tinha o olhar assustado.

– Por favor, Renata, vamos mudar de assunto. ‐ aquilo não era um pedido. – Tudo o que eu mais quero é ficar com você sem me importar com nada.

Augusto tinha uma profunda cicatriz, Renata percebeu aquilo, e irá ajudá-lo.

– Tá. – Renata concordou por hora.

Ficaram ali por alguns minutos, foram para o estacionamento da emissora e cada um entrou em seu carro. Renata foi para a casa de sua mãe, iria ceiar com sua família, enquanto Augusto iria na casa de seu pai se despedir da família.

Pov Augusto:

Quando Augusto chegou no apartamento de seu pai, ainda do lado de fora, conseguia ouvir a conversa do lado de dentro.

Tocou a campainha e logo Natasha abriu a porta.

– Augusto! – Natasha deu um abraço em Augusto. – Feliz aniversário! – Disse toda sorridente.

– Você se lembrou!? – Augusto ao menos se esforçou para sorrir.

– Venha, entre. – Natasha saiu puxando Augusto para a sacada do apartamento onde toda a família estava reunida.

William estava próximo a grade de proteção com Bernardo nos braços, mostrava o mar para o pequeno, o trio estavam sentados no chão jogando Uno que ao verem o irmão mais velho foram correndo até ele.

– Olha só quem resolveu aparecer. ‐ William comentou sorrindo.

– Resolvi dar uma passada aqui antes de pegar o avião .– sorriu sem graça recebendo um abraço de urso do trio.

– Mas que engraçado, a Renata irá viajar hoje para Paris. – William disse como quem não quer nada. – Para onde você irá mesmo?

– Paris. – engoliu em seco, ficou com medo de seu pai sacar que ele iria junto com Renata.

– Hum. – murmurou pensativo – Vão juntos? – William perguntou.

– Não. – respondeu dr imediato – Fiquei até surpreso em saber que ela também irá para Paris. – comentou. – Quem sabe a gente não se esbarra por lá? – deu um sorriso amarelo.

Logo Augusto perguntou Bernardo nos braços, se sentou em uma espreguiçadeira e ficou brincando com o irmãozinho.

– Augusto me parece estar triste. – Natasha comentou olhando para o rapaz.

– Essa não é uma época que ele gosta muito. – William deu um longo suspiro.

– O que aconteceu? – Natasha perguntou.

– Alguns anos atras a mãe dele, a Isabel, foi morta na frente dele e da irmã enquanto eles. E para piorar, tudo aconteceu no dia do aniversário dele. A família estava toda reunida quando essa... tragédia aconteceu. – William tinha o olhar triste.

Natasha ficou boquiaberta, nunca William tinha lhe contado essa história.

Augusto ficou ali por mais algumas horas, quando deu onze e meia ele resolveu ir embora. Queria ficar um pouco sozinho.

– Tem certeza que quer ir embora, filho? – William perguntou.

– Tenho. – concordou com a cabeça – Quero ficar um pouco sozinho. – Augusto abaixou a cabeça, não queria que seu pai visse seus olhos marejados.

– Augusto, você precisa ser forte. Sua mãe não gostaria de te ver triste.

– Eu tento pai, mas todos os anos, nessa época, eu me lembro dela. Não consigo tirar da minha cabeça a cena dela sendo morta na minha frente, a Maia era tão pequena. – Augusto tinha o olhar distante.

– Augusto, você já tentou falar com um... terapeuta? Muitas coisas aconteceram com você, é bom termos alguém para conversar. – William sugeriu.

Augusto ficou em silêncio por breves segundos, parecia pensar em algo.

– Acho que não será preciso. – Augusto respondeu.

– Tome. – tirou de dentro da carteira um pequeno cartão – A doutora Morgan é uma ótima terapeuta. – entregou o cartão para Augusto.

Augusto olhou por alguns segundos o cartão e o guardou logo em seguida no bolso.

– Pensarei um pouco sobre isso. – guardou o cartão no bolso – Agora eu preciso ir, boa noite. – sorriu.

– Boa noite, e boa viagem. – William e Augusto deram um forte abraço. – Feliz aniversário, meu garoto. – sussurrou no ouvido do rapaz.

– Nos vemos no ano novo. – Augusto deu um pequeno sorriso e foi embora.

Juntos pelo acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora