18

824 60 29
                                    




- Sim! – Olhou para ele e depois para Maria. – Perdi o sono e vim pegar um copo com água e acabei ficando por aqui. – Explicou, sob o olhar de Alba, que parecia mais nervosa que Estevão e Maria. Ela, mais do que todos, desejava manter aquele segredo. Se fosse para contar algo, que fosse sobre ela ter atirado na Patrícia, sua melhor amiga.

- E o que aconteceu para você chegar aquele horário?... E chorando. – Alba mudou de assunto, desviando o foco para Estrela.

- Não te devo satisfação, titia! – Estrela respondeu com um tom desafiante, enquanto empurrava seus cabelos para trás com um gesto de completo desdém.

- Estrela. –  Estevão chamou sua atenção com um tom sério.

- Está vendo, Estevão? Não tem respeito... Por essa razão, estou convencida de que só um colégio interno pode colocar um freio nessa garota. Talvez até mesmo uma escola de freiras.

- Alba! – Ângelo e Heitor recriminaram-na simultaneamente. Maria, por sua vez, lançou um olhar furioso para Alba. Reconhecia que a filha era rebelde, mas jamais permitiria que ela ficasse longe de sua família, longe dos que a amam.

- Pois eu coloco fogo na escola. – Estrela avisou. – Nem gosto daquela escola. A maioria das pessoas lá é chata. – Fez uma careta dramática.

- Bom... vocês ouviram. Por isso que é desse jeito! Uma malcriada, isso que é.

- Como é que a Sra. diz, mesmo? Ahhhh... que nos criou. Então a culpa é sua. – Estrela sorriu com sarcasmo, provocando ainda mais Alba.

- Eu também não gosto das segundas feiras... – Maria falou, tomando a palavra de maneira tranquila. – Mas, infelizmente, elas sempre dão o ar da graça, não é mesmo? – Fez uma cara de desgosto, imitando o gesto irônico de Estrela enquanto tomava seu café. – Entretanto, é assim que a vida funciona! Nem tudo que surge no caminho é agradável.  – Ela continuou, despretensiosa e natural.

Enquanto as duas discutiam, Maria permaneceu presa em seu prato, porém insatisfeita, lamentando profundamente o ponto de vista da filha. A cada dia, fortalecia-se a convicção de que os filhos necessitavam mais dela do que imaginava.

- Ora, Maria! Essa garota não escuta ninguém! Não demonstra interesse por nada positivo! Não tem a menor ideia do que deseja para sua vida... Só vive interessada em ficar por aí correndo atrás... – Alba expressava suas críticas, mas foi abruptamente silenciada pelo olhar intenso de todos na mesa, inclusive Maria, que naquele momento controlava suas palavras para não rebater e colocar Alba em seu devido lugar.

- Não vejo razão para ela se desesperar por ainda não ter decidido o que quer fazer. Só tem 15 anos! – Maria interviu antes que Estrela pudesse oferecer sua resposta. – Não há por que se preocupar com isso agora, querida. - Falou diretamente para Estrela. - Está na idade de experimentar, fazer o que deseja sem medo de errar... afinal, se há um momento em que ela é livre, é este! – Olhou para a garota e piscou, recordando o desejo dela de ser adulta. – Só peço que evite os deslizes que podem te levar a caminhos sem volta. Mantenha sempre suas opções em aberto. – Ela aconselhou, e mais uma vez todos a observavam em silêncio, admirando a maneira como conduzia as coisas com Estrela, que geralmente estava errada e nunca baixava a cabeça para ninguém.

- Até parece! Se continuar assim, sabe Deus o que a vida lhe reserva...

- Coisas maravilhosas. Estrela é esperta. Tenho certeza que ela sabe que se quiser ser uma mulher forte e de sucesso, vai ter que passar pela escola, faculdade... nem que seja para descobrir o que não quer.

- Deixa a menina. – Carmem pediu, desejando encerrar a discussão. – Estrela ainda é uma criança.

Todavia, Estrela, apesar de sua resistência a conselhos e intromissões, não podia negar que se sentia bem com Maria por perto, ainda mais quando ela a defendia de Alba. Além disso, era inegável que Maria estava certa; Estrela não era tola e compreendia a importância da escola, da faculdade, para evitar tornar-se alguém que não sabia absolutamente nada.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora