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- O que quer? - Ela abriu a porta bruscamente e vociferou claramente irritada, a voz carregada, pois ele havia batido insistentemente na sua porta.

- Você não pode ir até o meu trabalho atrás de mim! – Ele a olhou, vendo ela arrumando a toalha em seu próprio corpo, e entrou sem esperar ser convidado. Não ia ficar lá, com ela na porta só de toalha para todo mundo ver.

- Boa noite para você também Estevão! - Maria o viu passar por ela, e o cumprimentou, mas seu tom de voz transbordava desprezo, uma mistura de frieza e desdém.

- Não venha com essa Maria. Pedi para você se manter longe e você vai ao meu trabalho? Preciso de tempo para pensar no que fazer. – Sua voz estava repleta de raiva e frustração, uma tempestade prestes a desabar.

- Pensa mesmo que vou ficar aqui, parada, assistindo o tempo passar sem os meus filhos? – Sorriu da cara dele enquanto fechava a porta com determinação. – Não vou mesmo. - Negou com um movimento de cabeça. - Tempo!? – Sorria enquanto caminhava rumo ao seu quarto para colocar uma roupa. – Você teve 12 anos! 

- O que está fazendo? – Perguntou assim que percebeu que ele estava atrás dela.

- Estamos conversando! – Ele falou como se aquela proximidade fosse comum. Ela o encarou com reprovação e respirou fundo.

- Espere na sala. – Ela entrou em seu quarto e bateu a porta com força, deixando-o do lado de fora.

Após vestir um vestido confortável, ela retornou à sala, e parou para observa-lo em silêncio por alguns minutos. Seus sentimentos desencontrados, eram uma mistura caótica de emoções que tornava difícil articular palavras.

Ele percebeu sua presença e virou-se, para ela. Seus olhos vagaram por cada detalhe do seu corpo e depois retornarem ao seu olhar.

Uma batalha silenciosa entre o ódio que ambos sentiam e a saudade que teimava em se manifestar. Ele passou a mão pela barba por fazer, e caminhou pela sala em uma tentativa de dissipar a tensão. As palavras cuidadosamente planejadas e ensaiadas durante o trajeto até seu apartamento pareciam ter escapado de sua mente.

- Se veio aqui para pedir que eu me afaste, já vou avisando que perdeu o seu tempo! – Ela ergueu a cabeça com determinação e iniciou a conversa. – Como eu disse, você teve 12 anos para reparar esse erro, e eu... – Olhou para o outro lado, reprimindo as emoções. – Eu perdi 12 anos de vida longe dos meus filhos. Não estou disposta a esperar nem mais um dia. – A firmeza em sua voz ressoava pelo ambiente.

- Para você, é muito fácil falar, mas esquece que foi você que procurou por isso. Se não tivesse feito o que fez, nossa história poderia ter sido totalmente diferente.– Falou sem pensar no quanto essas palavras a magoavam. – Não pode chegar agora e esperar que mudemos toda a nossa vida por sua causa.

- FÁCIL? – Sorriu alto, com sarcasmo. – Você realmente acha que foi fácil ficar doze anos presa, pagando por um crime que EU NÃO COMETI? – Olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas. – Doze anos longe dos meus filhos. – Sentou-se no sofá, exausta e derrotada, enquanto a tristeza em seu olhar pintava um quadro devastador. – Sem ouvi-los me chamando de mamãe. Sem seus abraços e beijos... 

Ele se aproximou dela, e tentou tocar em suas mãos, mas ela as puxou de volta, rejeitando o toque dele, que ainda lhe causava arrepios.

- Você me roubou doze anos de vida Estevão. – Secou uma lágrima rebelde que insistia em cair, e no silêncio, o peso das palavras dela ecoava como um lamento.

- Não fui eu que te condenei e você sabe! – Declarou frio.

- Ah, não? O que você vem repetindo desde que saí daquele maldito lugar? – Protestou e levantou do sofá. Não queria proximidade com ele, como se cada passo que ela dava para longe fosse uma fuga necessária do tormento que ele representava.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora