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- Vejo que a cadeia te transformou em uma mulher muito distinta! - Disse Patrícia, com um tom de superioridade, enfatizando a ironia da situação ao observar Maria tornar-se aquilo que antes condenava.

Maria, que já estava com a mão na maçaneta, lançou-lhe um último olhar por cima do ombro, dedicando-lhe sua atenção mais uma vez.

- É o que dizem!... Uma pena não poder dizer o mesmo de você. – Com um leve sarcasmo na voz, despediu-se e saiu, deixando-a sozinha.

...

- Não está com ciúmes de ter outra mulher aqui? Dormindo no quarto ao lado do seu? Não quero te preocupar, mas ela sempre fica quando está no país e... bem, era óbvio que estava interessada no meu pai. – Estrela, perguntou para Maria, que saiu do escritório e foi diretamente para seu quarto.

- Seu pai já demonstrou algum interesse por ela? Ou, já tiveram algo? – perguntou, com um toque de apreensão na voz.

- Não! Não que eu saiba... mas é que ela sempre demonstrava tanta intimidade com ele. O tocava, o abraçava e ficava grudada nele o tempo todo. Nem Alba é assim. - Ponderou a garota.

- Entendo!... Mas acho que posso confiar no seu pai.

- Acredito que nele, sim! Mas...

- Querida, traição não é um ato solitário. Essa ideia de que ela me provocou e eu cedi à tentação, é a maior falácia que já ouvi. 

- Confia tanto assim, em você mesma? - Estrela, que havia testemunhado seu pai traindo Ana Rosa com Maria poucos dias antes, questionou com um olhar penetrante, enquanto Maria permanecia em silêncio, refletindo sobre seu relacionamento e as decisões que tomara. - Será que algum dia você vai me contar sua história com meu pai? A verdadeira. – Exigiu, confrontando os silenciosos e tumultuados pensamentos de Maria.

- Por que acha que não contamos a verdadeira. - Maria perguntou, com um sorriso contido, enquanto seus olhos revelavam uma mistura de curiosidade e cautela.

- Acho que há muito mais acontecendo do que nos deixam saber. - Estrela afirmou com convicção, deixando claro que não aceitou a versão que lhes fora apresentada.

- Acha? - Maria arqueou a sobrancelha, mostrando interesse.

- Acho! E, se quer saber, penso que meu pai deixou Alba, Patrícia, Fabíola e... - Seu olhar encontrou o de Maria. - Você, por minha mãe. Mas parece que, depois dela, era você que ele realmente... - Ela parou por um momento, deixando a frase incompleta. Ainda era estranho aceitar que seu pai amava outra mulher que não fosse a sua mãe.

- Estrela... eu... - Maria começou, sua voz vacilante refletindo a complexidade dos sentimentos que a invadiam. Queria poder lhe dizer a verdade, mas as palavras pareciam prender-se em sua garganta, incapazes de encontrar seu caminho para fora.

- Se não vai me dizer a verdade, não minta! Não sou mais criança. Percebo as mudanças nele, a forma como ele te trata. Como ele te olha. - A firmeza na voz de Estrela revelava uma compreensão além de seus poucos anos.

- Um dia! Um dia teremos essa conversa, sem mentiras. Sem segredos.  - Falou de modo sincero e sorriu para a jovem, cuja perspicácia e esperteza Maria admirava cada vez mais. - Agora me diga, o que queria? Não me chamou aqui só para fazer fofocas sobre a nossa visita.

- É...

- Já pediu para ela? – Vivian entrou no quarto sem bater, interrompendo Estrela, e se jogou na sua cama.

- O que estão fazendo? – Maria franziu a testa e balançou a cabeça, antecipando o que viria a seguir.

- Estava esperando você chegar! Por que demorou? –  Reclamou, expressando sua frustração com um leve tom de irritação.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora