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- Você falou para Estrela, que vou morar com vocês? – Logo cedo, ela entrou sem bater na sala dele, despejando toda sua ira em voz alta.

Estrela, mantendo sua irritação em relação a Maria no dia anterior, ao vê-la toda cheia de sorrisos e a amabilidade excessiva dela com Geraldo, cujo interesse por Maria era evidente. Na primeira oportunidade que surgiu, Estrela não hesitou em questionar Maria sobre seus planos de mudança para sua casa. Maria, completamente surpreendida, inicialmente ficou sem palavras, mas logo rejeitou a sugestão, enquanto Geraldo expressava claramente sua surpresa e desconforto diante da situação. Geraldo ainda tentou ter uma conversa amigável com a jovem, visto que Maria, gostava dela, mas sua surpresa foi ainda maior quando ouviu de Estrela que seu pai e Maria mantinham algo além de uma simples amizade. Não sendo o bastante, pelo retrovisor, Estrela observou Maria com um olhar perspicaz, como se quisesse transmitir a mensagem  "Veja só como é interessante quando estranhos decidem se envolver na nossa vida."

- Bom dia, para você também, Meu amor! – Ele respondeu, sem desviar o olhar do que estava fazendo, como se sua atitude não fosse relevante para ele.

- Está brincando comigo, Estevão? – Ela perguntou em voz alta mais uma vez, com um misto de incredulidade e frustração.

- Eu avisei que você voltaria para casa. - Ele continuou sua tarefa sem olhar para ela, que a essa altura, soltava fumaça de raiva.

- Está louco! – Ela andou de um lado a outro, lutando contra a vontade crescente de jogar algo nele. – Eu não preciso ir para aquela casa. – Respirou fundo, tentando conter as emoções que a tomavam.

- Precisa de um lugar seguro! Quase a levaram... e quem fez isso não foi pego. – Finalmente, ele dirigiu seu olhar para ela, expressando preocupação.

- Você acha que estarei mais segura lá? Na casa onde tenho uma inimiga declarada? No local onde nossos adoráveis 'amigos' costumam se reunir?– Sorriu com sarcasmo. – Isso tudo é uma piada. - Sua expressão transmitia desconfiança, deixando claro que a ideia de buscar refúgio naquele lugar era mais absurda do que reconfortante.

- Pense como quiser! Mas você pode começar a arrumar suas coisas, ou mando alguém fazer por você. - Falou, deixando claro que não estava disposto a ceder.

- Você não se atreveria. – Ela falou certa de si, mas logo em seguida franziu a testa, revelando uma sombra de incerteza.

- A Sra. tem uma semana para arrumar suas coisas! E isso não está em discussão. – Ele anunciou com autoridade, voltando seu olhar para a tela do computador diante dele.

- Não vou morar debaixo do mesmo teto que aquela cobra! – Ela cruzou os braços, evidenciando sua recusa.

- É a nossa casa!... Esqueceu? – Ele interrompeu o que estava fazendo, levantou-se e foi até ela. – Esqueceu que tudo que está lá é seu? Que cada canto dela ainda tem seu toque. É a casa onde nossos filhos dormem... – Ela suspirou de maneira resignada.– Não é por eles que está fazendo tudo isso? - Ele tocou em seu rosto, e nesse simples contato, era evidente a saudade que sentia dela.

- Você fala como se fosse fácil esquecer o que aconteceu. Como se não tivessem arrancado um pedaço de mim. Fácil aceitar que quem me condenou continua livre, vivendo a sua vida... enquanto eu. Eu estou morta para os meus filhos. – Ela se afastou dele, buscando distância do homem que sempre bagunçava seus pensamentos e sentimentos. - Não posso! - Ela negou com a cabeça, reforçando a lembrança de que eles eram os responsáveis por sua desgraça. - As coisas mudaram. Eu mudei. E não posso simplesmente apagar o passado e voltar atrás.

- O que você quer que eu faça? - Estevão mantinha o olhar fixo nela,  buscando persuadi-la a reconsiderar.

- E adianta o que eu quero?... Estou presa nessa situação. - Respondeu, resignada, como se a solução estivesse além de seu alcance.

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