...- Vocês acham o mesmo que eu? – Estrela perguntou para os irmãos assim que entrou no quarto de Ângelo.
Ao longo do dia, Estrela resistira à tentação de ligar para os irmãos. Segurou-se para não confrontar o pai, que parecia completamente perdido em seus pensamentos durante o jantar. Não se assemelhava em nada ao homem que ela havia deixado em casa quando foi para a escola pela manhã.
- E o que você acha que aconteceu? –Ângelo perguntou, já sabendo muito bem o que se passava na cabeça de sua irmã.
- Ah, para! Você sabe muito bem do que estou falando. – Ela se jogou na cama e deitou ao lado de Ângelo. – Você viu o cabelo dela? – Franziu a sobrancelha e sorriu.
- E você, Heitor? Não notou nada? – Ângelo perguntou, dirigindo um olhar interrogativo ao irmão mais velho, que até então permanecia em silêncio, mas atento as observações dos irmãos.
- Não! Não vi nada... mas concordo com Estrela. Eu acho que eles passaram a noite juntos. – Evitou falar a palavra "transar", não queria pensar nos pais desse jeito – Ou pelo menos parte dela.
- Passaram a noite juntos e transando, você quis dizer, né!?– Estrela completou.
- Estrela? – Heitor chamou sua atenção, enquanto Ângelo sorria dos dois; afinal, ele queria que fosse verdade.
- Mas é verdade! – Ela insistiu com determinação, e ao relembrarem as expressões dos dois pela manhã, acabaram sorrindo, contudo, logo um silêncio carregado de pensamentos se fez presente. Refletiam sobre o que aquilo podia significar. "Até que ponto Maria tinha o poder de alterar o curso de suas vidas?"
E logo eles, que sempre resistiram à ideia de ter uma mulher na casa que antes pertencia apenas a eles e à mãe, agora, estavam imersos em uma discussão sobre se o pai havia ou não compartilhado momentos íntimos com Maria, na casa que um dia sua mãe viveu.
- Ele nunca fez isso na nossa casa! – Ângelo expressou o que os três estavam pensando, e Estrela e Heitor o encararam. – Ela é diferente. Para ele, ela é diferente...
Enquanto seus filhos discutiam acaloradamente sobre sua vida amorosa, Estevão refugiava-se em seu escritório, entregando-se às lembranças da noite que passou com ela. Cada gole da bebida parecia ser um escape para um passado recente, enquanto seus olhos percorriam o ambiente, onde cada canto agora carregava consigo as memórias vívidas da presença dela. O escritório, antes apenas um espaço de trabalho, transformara-se em um lugar cheio de recordações que, de certa forma, o atormentavam.
- Deve estar feliz! – Estevão murmurava consigo mesmo. – Agora não tenho paz nem mesmo na minha casa. – A sensação de que sua casa, sem ela, não era mais um lar, pesava em seus ombros. Sua mente, dominada por pensamentos tumultuados, só conseguia vislumbrar uma vida completa ao lado dela.
E assim como ele, ela também sofria em seu apartamento, segurando uma taça de vinho como se buscasse consolo na bebida. Como se quisesse enlouquecê-la, a imagem dele não saía de seus pensamentos, tampouco a sensação de suas mãos percorrendo seu corpo.
Ambos, separados fisicamente, estavam ligados por um fio invisível de saudade e desejo, perdidos na melancolia entre o que foi e o que não podia mais ser.
...
Alguns dias depois.
Maria corria para entrar no edifício no meio da tempestade, mas de repente, alguém passou correndo e arrancou sua bolsa abruptamente.
Heitor, que vinha logo atrás dela, imediatamente iniciou uma perseguição ágil e, com muito esforço, conseguiu alcançar o "ladrãozinho". Segurando-o pela jaqueta, Heitor o trouxe de volta até Maria, que já estava nervosa e preocupada com seu filho.

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A Madrasta
RomanceAdaptação de uma das minhas novelas preferidas. <3 Obs; está sendo corrigida.