Ao entrarem no escritório, ele fechou a porta e respirou fundo.
- O que quer? – Maria questionou de forma incisiva e rude, seu semblante exibindo uma expressão dura.
- Temos que conversar.
- E você quer fazer isso agora?! – Perguntou com ironia, enquanto seus olhos percorriam todo o escritório, que também parecia ter parado no tempo.
- Você precisa saber o quanto antes que o Leonel está interessado em você, como... como mulher! – Gesticulou nervoso.
- E o que quer que eu faça? – Perguntou impaciente.
- Que... que evite sorrir demais na presença dele e reduza esses encontros. - Andava de um lado a outro. - Maria, ele não é mais o adolescente que conheceu. É um homem e tem deixado claro seu interesse em algo mais contigo. E... ele sempre a enxergou como uma mulher. Precisamos encarar os fatos, por mais desconfortável que seja. – Ela observava-o, arqueou uma sobrancelha e respirou profundamente.
- E o que você tem a ver com isso? Sou adulta e senhora da minha própria vida. Até agora, ele é um dos poucos dispostos a me apoiar nesse jogo que vocês inventaram para mim. Não vou me afastar dele por causa de seus supostos ciúmes.– Olhou-o com total reprovação. – Se era só isso, posso ir embora. Tenho certeza de que sua noiva não está nada contente com essa demora. – Com uma raiva mal contida, caminhou decididamente para a porta.
- Parece que a Sra. é quem está demonstrando ciúmes aqui. – Provocou ele, e ela respondeu com um sorriso sonoro.
- É claro! – Ela deu meia volta, caminhou até a janela enquanto deslizava dois dedos sobre o armário de livros. Conhecia cada canto daquele lugar. – Mas, me diga, Estevão. Como pretende casar-se com ela, quando você já é casado comigo? – Ele encarou suas costas, sem ter uma resposta que o colocasse em vantagem. Esperou até o último segundo para pedir o divórcio, mas nem ele sabia ao certo pelo que estava esperando.
Ela voltou seu rosto para ele, que permaneceu em completo silêncio, balançando discretamente a cabeça de um lado para o outro.
- Sua sorte é que eu não dou a mínima para o que você faz da sua vida. A única coisa que espero é que ela não se meta com meus filhos. – Ela o encarava como se o envolvimento dele com a outra não tivesse a menor importância.
Desconfiado da sinceridade daquelas palavras e com certo rancor, ele devolveu o olhar com uma fúria contida e avançou decididamente em sua direção.
-Ah, não!? – Sem que ela esperasse, ele a puxou para seus braços e a beijou. Um beijo que de início, ela resistira, tentando afastá-lo. Contudo, seduzida pelo desejo e pela saudade, ela se entregou e permitiu que sua língua dançasse em sua boca. As mãos, antes relutantes, agora o exploravam com ousadia, traçando um caminho por seus ombros e nuca, enquanto ele a envolvia em um abraço firme, apertando sua cintura, mantendo seus corpos unidos ao mesmo tempo que intensificava o beijo. Queria fazê-la lembrar como era estar nos seus braços. Desejava que ela recordasse seu sabor e ansiava por marcá-la.
No ápice do beijo, uma voz sutil se fazia presente na mente dos dois, lembrando-os das consequências iminentes. Mas naquele instante, ignoravam o futuro incerto e rendiam-se ao desejo que sentiam. Cada toque, cada suspiro, era como uma lembrança do amor que, mesmo adormecido, nunca havia se dissipado por completo.
Enquanto se perdiam um no outro, imersos em um mundo próprio, foram surpreendidos pelo som distante de batidas na porta, e separaram-se apressadamente, as respirações ainda entrecortadas, como se a realidade os tivesse puxado de volta sem aviso.
Ângelo entrou na sala e imediatamente percebeu ter interrompido algo íntimo. Observou-os com desconfiança enquanto Maria, passando a mão pelo corpo para ajustar a roupa e o cabelo, tentava recobrar a compostura.

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A Madrasta
RomansAdaptação de uma das minhas novelas preferidas. <3 Obs; está sendo corrigida.