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- Eu preciso falar com ela.

- Sim, eu sei! Você sempre tem algo para conversar com ela. – Olhou para ele enquanto passava a mão na barba por fazer, caminhando de um lado a outro no saguão da torre do apartamento de Maria. – Você não acha que ela precisa e merece um tempo para processar tudo isso?

Estevão o encarou com seriedade, desejando intensamente que ele não se envolvesse.

- Leonel, considero você como um filho, mas não vou aceitar que se intrometa nos meus assuntos com Maria. Cuidar dela é minha responsabilidade. – Dirigiu-se à saída com firmeza.

- Como vem cuidando todo esse tempo? – Leonel sorriu com sarcasmo enquanto acompanhava Estevão até o estacionamento com passos rápidos. – Francamente Estevão.

- Você não faz ideia de como foram esses últimos anos, Leonel! – Falou com a voz alterada, já ao lado de seu carro. – Quem você pensa que garantiu que ela tivesse uma cela só para si, afastada das outras presas? Quem você imagina que se empenhou para conseguir um advogado de primeira linha e pagou por ele para tirá-la daquele lugar?

- E por que se envolveu em tudo isso, se não confia nela? – Os olhares dos dois se encontraram, e como se o tempo tivesse decidido dar uma pausa naquele instante, finalmente, Leonel percebeu a verdade que talvez até ele próprio relutasse em aceitar. – Você a ama mesmo acreditando que ela seja culpada! – Estevão manteve o olhar distante, sem pronunciar uma única palavra.

Leonel encostou-se no carro, cruzando os braços enquanto mantinha seus olhos em Estevão.

- Ela está atrás da Patrícia. – Ele alertou, reconhecendo involuntariamente a preocupação genuína de Estevão.

- Ela está ficando fora de si? Mal saiu da prisão e já quer voltar? – Leonel lançou-lhe um olhar desaprovador, questionando sua atitude.

- O que te faz ter tanta certeza de que foi ela? – Tentava compreender o ponto de vista dele, ansiando por ouvir novamente, assegurando-se de que não deixara passar nenhum detalhe.

Estevão não tinha a obrigação de dar satisfações a ele, e já havia compartilhado os detalhes dos acontecimentos em outras ocasiões. Contudo, naquele momento, sentia a necessidade de desabafar com alguém, pois nem ele próprio tinha mais certeza do que sabia e do que presenciara. Mais do que nunca, desejava poder voltar no tempo e mudar os acontecimentos daquele dia.

- Discutimos naquele dia. Ela achava que eu estava tendo um caso com Patrícia. – Leonel o encarava com seriedade. – Mas, eu jamais faria isso com ela. E muito menos com seu pai. – Explicou-se. – Ela saiu furiosa do nosso quarto, atrás de Patrícia, e depois de alguns minutos... ouvi um tiro e corri para o quarto de Patrícia. Mas nunca imaginei que o tiro tivesse vindo de lá. Eu fui porque estava preocupado com Maria, e quando entrei no quarto, já havia algumas pessoas, e a vi ao lado de Patrícia, que já estava desacordada, e Maria, visivelmente em choque. – Respirou fundo, rememorando o dia que mudou sua vida completamente. – E, após 10 anos em coma, Patrícia acordou e foi recobrando a memória... confesso que tive esperança de que ela apontasse outra pessoa... tinha a esperança de que minha mulher não tivesse nada a ver com tudo isso. Mas não, ela afirmou que poderia ter sido ela, que era a única com um motivo, mesmo que fosse infundado...

- E você acreditou? Acredita em Patrícia?

- Eu não acredito que ela seja má a ponto de permitir que alguém pague por um crime que não cometeu. Afinal, as duas eram amigas...

- E acha que Maria seria capaz? – Leonel questionou. – Só quero entender sua perspectiva.

- Maria estava com tanta raiva... eu nunca a tinha visto daquele jeito antes. Ela destruiu metade do nosso quarto. Seus olhos transbordavam ódio. 

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora