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- Ela já foi embora, Sr. – Lupita, avisou Estevão, que seguia para a sala de Maria, logo após a saída de Patrícia.

- Por quê? Ela estava bem quando saiu? – Estevão perguntou, ao olhar no relógio em seu pulso. Ainda era cedo para ela ir para casa.

- Ela não mencionou nada, mas aparentava estar bem!

- Certo, obrigado! –  Estevão agradeceu, antes de retornar para sua sala, consciente de que provavelmente teriam mais uma discussão.

...

Por volta das 18h, Maria retornou para casa e ao entrar, foi informada de que ele a aguardava em seu escritório. Com um gesto cansado, dirigiu-se até lá, e ao abrir a porta, encontrou-o confortavelmente acomodado em sua poltrona, degustando seu whisky enquanto esperava por ela.

Desde as 14h, ele esperava pacientemente, depois de procurá-la sem sucesso na joalheria, na igreja e até mesmo em seu apartamento. Ao se encararem, pareciam estarem travando uma batalha silenciosa, cada um tentando decifrar o que se passava na mente do outro.

- Onde esteve? – Ele perguntou abruptamente, quebrando o silêncio entre eles.

- Trabalhando. – Ela respondeu, entrando e fechando a porta atrás de si.

- Onde? – Ele insistiu. – Liguei na joalheria, e...

- Está me seguindo?... Isso é um interrogatório? – Ela arqueou uma sobrancelha em questionamento.

- Me desculpe! – Ele respirou fundo, tentando conter suas emoções, levantando-se da poltrona enquanto ela colocava sua bolsa sobre a mesa. – Maria, Patrícia veio...

- Não quero saber. –  Ela o interrompeu, encarando-o friamente. Durante a tarde, pensou muito neles dois. Sabia o que queria e não deixaria mais ninguém interferir. Porém, precisava esclarecer algumas coisas. – Algum dia, você a quis? Como mulher...

- Não! É claro que não! -  Ele respondeu rapidamente. - Ela era sua amiga, esposa do meu amigo...

- Achei que soubesse que não somos donos do nosso querer... ou foi fácil para você se envolver com a mulher que seu amigo tentava... – Ela buscava a palavra certa. – Ter intimidade? – Ele absorveu sua pergunta, mantendo-se em silêncio, enquanto breves lembranças de quando suas histórias se entrelaçaram, ressurgiam em sua mente. – É isso! Mesmo assim, você insistiu em me procurar.

- É diferente! Ele só queria brincar com você. E eu...

- Por quê? - Ela o interrompeu. - Vai me dizer que em momento algum não pensou em seu amigo? Não considerou o compromisso implícito em uma amizade?

- É claro que pensei! – Ele respondeu, movendo-se de um lado para o outro, até finalmente parar de frente para a janela. Por um instante, seu olhar se perdeu observando o lado de fora. – Ele sempre afirmou que você era uma pessoa difícil... que não lhe dava oportunidade de se aproximar. - Ele acrescentou, como se estivesse tentando justificar suas ações.

- Aí você resolveu se aventurar também. - Ela retrucou, lembrando que ele não era tão diferente de Evandro, quando o conheceu. A prova disso era que, durante esses anos em que estiveram separados, ele teve várias outras. Seus ciúmes nunca a deixariam esquecer disso.

- É claro que não!... – Ofendido, ele praticamente gritou para ela, virando-se em sua direção. – Tive medo de que em algum momento acabasse cedendo. – Com passos decididos, ele se aproximou dela. – Jamais permitiria que ele te tratasse como as outras. E, sinceramente, não suportaria ver você com outra pessoa. - Tocou em seu rosto, retirando alguns fios de cabelo do caminho. - Tu sabes bem que te amei desde o momento em que te vi pela primeira vez. Sabe porque também sentiu o mesmo que eu. – Sua voz soou rouca enquanto ele erguia o rosto dela, buscando seus olhos como se ali estivesse a resposta para tudo. Ela, à medida que sentia seu olhar e seus toques, experimentava uma mistura intensa de desejo, mal se dando conta de que perdia o próprio jogo. - E mesmo lutando contra a ideia de se apaixonar, também não resistiu e acabou me amando. – Sua mão deslizou até a nuca dela, enlaçando seus cabelos, e trouxe seu rosto para mais perto do dele. – Se entregou para mim, e só para mim. – Ele murmurou, beijando delicadamente seu pescoço enquanto envolvia sua cintura.

A MadrastaOnde histórias criam vida. Descubra agora